ACI 966. Coligido por Nehama Zion, de Miriam Tschernobilski, nascida na Polônia.
O conto está centrado em tôrno dos Motivos D 1960.2, "Kiffhauser. Rei dorme na montanha", e C897.3, "Tabu: calcular o tempo do advento do Messias". O folclore judaico está repleto de histórias de piedosos rabinos que tentaram, e falharam, trazer o Messias à terra. O, parentesco entre Elias e o Messias é discutido por E. Margolioth em O Profeta Elias na Literatura Judaica (hebraico), pp. 156-157. Na tradição judaica, o verdadeiro Messias é um descendente do Rei Davi, ao passo que o falso é aparentado com a casa de José. Outros contos relacionados com a tumba do Rei Davi encontram-se em J. E. Hanauer, The Folk-Lore of the Holy Land, pp. 89-93, 132-133. Existe uma outra versão do presente texto em A. Ben-Israel Avi-Oded, Lendas da Terra de Israel (hebraico), pp. 220-221¹.
Oitenta anos atrás, numa ieschivá polonesa, viviam dois alunos que acordaram com um desejo ardente pela redenção. Ambos desejavam especialmente subir a Eretz Israel, a Terra dos Pais. Almejavam particularmente ver o túmulo do Rei Davi. Sonha ram com isso dia e noite e, finalmente, começaram a pensar numa maneira de transformar os sonhos em realidade. Não tinham dinheiro, então resolveram subir a pé. Assim decidiram, assim fizeram. Saíram apenas com bengalas e mochilas. No caminho, encontraram muitos obstáculos mas, com a ajuda de Deus, sobrepujaram a todos e alcançaram, finalmente, a cidade santa de Jerusalém. Tremiam e estavam muito felizes no coração por se acharem no lugar sagrado e terem chegado ao destino sãos e salvos. Ainda dominados pela alegria, de repente se viram exatamente do lado oposto do Monte Sion. Todavia, não sabiam com exatidão. onde se localizava o túmulo do Rei Davi nem que caminho os levaria lá. Enquanto permaneciam assim indecisos, o Profeta Elias, de abençoada memória, apareceu-lhes e mostrou-lhes o caminho.
— Agora, meus filhos, quando alcançarem o túmulo e entrarem e descerem os degraus, fiquem sempre na parte mais baixa do túmulo. Seus olhos serão deslumbrados por tôdas as visões de desejos que verão ali, prata, ouro e diamantes. Cuidado para não perderem a razão! Devem procurar a jarra de água ao lado da cabeça do Rei Davi. Derramem água da jarra nas mãos que o Rei Davi lhes estenderá. Derramem água três vêzes em cada uma das mãos, e o Rei levantar-se-á e seremos redimidos. Pois o Rei Davi não está morto; êle vive e existe. Está sonhando, e acordará quando nos tornarmos dignos dêle. Por suas virtudes e pelo mérito dessa aspiração e dêsse amor, êle se levantará e nos redimirá. Amém, que isso venha a acontecer.
Depois de proferir essas palavras, o Profeta Elias desapareceu. Os moços subiram o Monte Sion, guardado pelo Profeta Elias, Desceram às profundezas do túmulo do Rei Davi. Tudo se passou como dissera o Profeta Elias. O Rei Davi estendeu-lhes as mãos, e havia uma jarra de água junto à sua cabeça. Porém, devido aos nossos muitos pecados, a riqueza em volta cegou os olhos dos jovens e êles se esqueceram de despejar água nas mãos estendidas. Angustiadas, as mãos se retraíram e imediatamente a imagem do Rei desapareceu.
Os jovens ficaram assustados quando compreenderam que, por intermédio dêles, a redenção fôra adiada mais uma vez e o galut teria de continuar por muito tempo. Ambos choraram amargamente, porque a mitzvá da redenção estivera em suas mãos e a haviam deixado escorregar por entre os dedos.
Possa chegar o dia em que a prata e o ouro não mais ofusquem os nossos olhos. E quando chegar outra vez a hora certa, que essa não seja mais adiada. Amém e amém.
(1) Para um tratamento literário desta estória, ver, em Nova e Velha Pátria, o conto Na Gruta do Rei Davi, de H. N. Bialik.
in Contos da Dispersão; Noy, Dov (Edição) – Perspectiva – São Paulo, 1966 – Coleção Judaica
Ilustração: Rita Rosenmayer e Guinigui
Nenhum comentário:
Postar um comentário