Os primeiros povoadores brancos e mamelucos do Vale do Paraíba paulista saíram diretamente de São Paulo. Vinham através de Mogi das Cruzes até a aldeia da Freguesia da Escada onde iam de canoa até a região de Jacareí, de onde seguiam em demanda ao sertão, a cavalo ou a pé.
Sérgio Buarque de Hollanda informa que uma das razões da fundação de Jacareí, (Conceição do Paraíba), estava na dificuldade dos habitantes das roças, no entorno da região, de alcançarem Mogi das Cruzes, onde levavam as mulheres e filhos para os serviços religiosos. Era tão montanhoso e inóspito o caminho entre Mogi e Jacareí que era chamado, desde os primeiros povoadores, de os "sete pecados mortais".
Em 1652, inicia-se a povoação de Nossa Senhora da Conceição de Jacareí por iniciativa de Antonio Afonso e seus filhos e agregados, tendo sido elevada a Vila em 22 de novembro de 1653.
Cópia do documento da "Criação da Villa de Jacareí".
"Manoel Joaquim de Santana, Secretário da Câmara desta Villa de Jacarehy, na forma de Ley, etc.
Certifico que revendo o Livro Foral da Criação desta Villa, nelle a folhas huma se acha escripto e lançado o Termo do Theor seguinte — Aos vinte e hum dias do mês de Novembro de mil seiscentos e cincoenta e treis annos, em cazas do Capitão Diogo de Fontes, todos juntos os moradores de Paraiba aparecerão com o dito Capitão Diogo de Fontes, diante do Capitão mor Bento Ferrão Castello Branco, que prezente estava, e por elle foi dito e requerido ao dito senhor que sua Merce lhe mandasse fazer huma Villa, e levantar Pelourinhos em nome de sua Magestade, pois erão bastantes para o poder fazer, visto serem pobres e suas mulheres e filhos não poderem acudir à Villa de Mogy-Mirim, por ser o caminho muito longe e não terem passagem para poderem levar suas mulheres e filhos a ouvirem Missa juntamente por caresserem seus filhos de Agoa de Batismo, e que da parte de Sua Magestade, lhe requerião, o que visto pelo dito senhor seus requerimentos serem justos, lhe respondeo que se o Cittio fosse capás e sufficiente para se poder fazer Villa e levantar Pelourinho o faria, e de como assim requererão fis este termo que todos assignarão com o dito senhor, e eu Jorge de Souza Pereira, Tabelião do Publico Judicial e Nottas da Villa de Santa Anna das Cruzes de Mogy-Mirim, o escrevy por mandado do dito senhor Bento Ferrão Castelo Branco — Antonio Agostin — Domingos Afonço — Diogo de Fontes — Balthazar Nunes Dias — Jeronimo Pais — Luis Cabral de Tavora — Miguel Nunes Bicudo — Pascoal Donhate — Lourenço Luiz — Jacinto Pimentel — Lucas Fernandes Pinto — Manoel Preto — Domingos dos Reis — Salvador Correa Moreira — Manoel de Chaves Pereira — Ceriaco da Costa — Gaspar Gomes da Costa — Antonio de Alvarenga — Gaspar da Costa — Custodio de Chaves — Manoel Fernandes Agostin Domingos Correa Nunes — Luiz de Moura — Francisco Maciel — Jorge Gomes — Paulo da Costa — Manoel Rodrigues de Alvarenga — Antonio Gois — Antonio Velho Collaço — Henrique da Cunha — Izidro Colaço Villela — Domingos Lourenço Botelho — Gaspar Garcia — Manoel Collaço — João Ramalho, e logo pelo dito capitão mor em os vinte e dois dias do mês de novembro do dito ano, se pos a caminho com os ditos moradores e veio ver o Cittio e paragem que os tais pedirão se levantasse a dita Villa na forma atraz nomeada, e foi achado pelo dito Capitão mor ser o Cittio capás e ter largueza de terras para que a dita povoação fosse por diante em crescimento e aumento da Real Coroa de sua Magestade que Deos Guarde, e no cittio e paragem desta capitania, que hé do Marquez de Moçanto, Proprietário della, acrescentando-lhe suas redizimas, e visto isto pelo dito Capitão mor, requereo ao Capitão Diogo de Fontes, diante de todos que ali estavão e em nome delles e serviço de Deos e de sua Magestade, que se requeria nas mais Villas e o dito que se devia aos Donatarios, senhor delas, ao que o dito Capitão Diogo de Fontes, que com as mais gentes presentes se obrigavão a goardar inteiramente, o que tudo lhe foi proposto pelo dito Capitão Mor nesta conformidade: attentando em conceção destes moradores, foi levantado Pelourinho da dita Villa intitulada nossa senhora da Conceição da Paraiba, fincando a primeira pedra em nome de sua Magestade, de que tudo dou minha fé, estando prezente eu Jorge de Souza Pereira, Tabelião do Publico Judicial e Notas da Vila de Mogi-Mirim, que o escrevy, e por mandado do dito Capitão mor fui chamado para o tal cazo, que elle assignou comigo escrivão em os vinte e quatro dias de Novembro de mil seiscentos e cincoenta e tres — Bento Ferrão Castelo Branco — Jorge de Souza Pereira. E logo vindo o dito Capitão mor desta Capitania dito Bento Ferrão Castelo Branco de donde alevantou a Villa de Nossa Senhora da Conceição da Paraiba em pouzada de Antonio Agostin, onde todos se achavão prezentes ali morando, elle Capitão mor a elleição na conformidade que sua Magestade ordena, para que na dita Villa se Selebrassem Justiça de Sua Magestade, e ahi procederão a elleição de Juiz Ordinário, Vereadores e Procurador da Camara, que prestarão juramento e prometerão obdiencia ao Marques de Cascais, Donatario, e ao Alcaide mor desta Capitania de São Vicente, o qual lhes declarou os limites desta Villa, mandado meter marco da banda de São Francisco das Chagas de Taubaté, na ponta do Capão Groço, e pelo Rio abaixo athé Guacatuba, e da banda da Villa de Santa Anna das Cruzes de Mogi-mirim, no porto Velho aonde chamão as laranjeiras, correndo pelo Rio abaixo na mesma conformidade, rumo direito com o rumo rio acima, e para a banda do Certão quatro legoas, e tudo lhe foi proposto pelo dito Capitão mor desta Capitania em prezença de mim Tabelião, que dou minha fé, ficando este assento na Camara desta Villa de Nossa Senhora da Conceição da Paraiba, de que fis este termo que o dito Capitão mor e eu Jorge de Souza Pereira, Tabelião do Publico Judicial e Notas da Villa de Santa Anna das Cruzes de Mogi-Mirim, o escrevy por mandado do dito Capitão mor, Bento Ferrão Castello Branco".
Jardim do Largo da Matriz em reforma, no ano de 1939, quando foi demolido este artístico coreto. Foto do Sr. Odilon de Siqueira.
De acordo com Eugênio Egas, a denominação Jacaré-ig (Rio de Jacarés), transformava-se mais tarde, pelo uso popular, em Jacareí. Em 1653, a povoação foi elevada a Vila e, pela lei nº 17 de 3 de abril de 1849, tornou-se cidade. Na época de sua criação a extensão de Jacareí era de 6 a 7 léguas de comprimento.
A vila de Nossa Senhora da Conceição da Parahyba, Jacareí, já possuia, em 1695, algumas casas cobertas de telha. Seu núcleo inicial parece ter sido o local da igreja do Avareí, porém seu arredor era muito alagadiço, o que fez com que um novo núcleo passasse a se desenvolver no local do largo da matriz. As terras dadas à D. Diogo de Faro e Souza, que começaram a ser povoadas em 1652, foram-se transformar, a partir do início do século XIX, na cidade de Jacareí com suas estreitas e tortuosas ruas nascendo do largo da matriz.
in Nossa Senhora da Conceição de Jacarehy; Pesquisa e texto: Prof. Ivonne Tessin Weis e Prof. Benedito Vianna dos Santos – Edição: Indústrias de Papel Simão S. A. (Assessoria de Relações Públicas) – s.l., 1990
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