A história do fumo no Brasil começa muito cedo, bem antes da chegada dos europeus. A planta nasceu provavelmente nos vales orientais dos Andes bolivianos e se difundiu no atual território brasileiro através das migrações indígenas, sobretudo Tupi-Guarani.
Havia vários tipos de fumo mas apenas duas plantas eram usadas e cultivadas: a Nicotiana Tabacum e a Nicotiana Rustica.
O fumo para os índios brasileiros tinha um caráter sagrado e como a mandioca, o milho e muitas outras plantas, uma origem mítica. Seu uso era geralmente limitado aos ritos mágico-religiosos e como planta medicinal. Por isso era reservado unicamente aos pajés.
O fumo era utilizado para a iniciação dos pajés e nas cerimônias tribais. Por meio dele, o pajé entrava em transe no qual contactava com os deuses, espíritos, almas dos mortos, ou ainda predizia o melhor momento para ir à caça, viajar ou atacar o inimigo. A fumaça do fumo era considerada purificadora: protegia dos maus espíritos o jovem guerreiro, a roça, a safra ou a comida. Como planta medicinal curava as feridas, as enxaquecas ou as dores de estômago.
Embora existissem seis usos diferentes para o fumo entre os índios da América do Sul, (comida, bebida, mascado, chupado, em pó e fumado) o hábito de fumar era o mais relevante. Era fumado num tipo de charuto chamado cangueira: folhas de fumo secas enroladas numa folha de milho ou palmeira, uma forma de uma vela cujas dimensões iam de seis a sessenta centímetros.
Quando da chegada dos europeus, o fumo era de uso comum nas tribos Tupinambá e cultivado em toda a costa do Brasil.
No início de novembro de 1492, os companheiros de Cristóvão Colombo viram pela primeira vez os índios a fumar. Começou então a história de uma formidável expansão: em apenas um século o fumo passou a ser conhecido e usado no mundo inteiro, expandindo-se em duas maneiras.
A primeira através dos marinheiros, para quem o fumo era um bom meio de passar o tempo durante os longos meses que duravam as viagens. Eles se habituaram a fumar e também a mascar, introduzindo assim o costume nas camadas populares dos países europeus, da África e do Oriente. O fumo então usado era unicamente o de corda.
A segunda maneira já revela a importância do Brasil na difusão do fumo pelo mundo. Em 1530, após a expedição de Martin Afonso de Souza no Sul do país, um donatário português, Luiz de Góis, em 1542, levou a planta para Portugal. Por seu aspecto ornamental (como planta exótica) e por suas virtudes medicinais, foi cultivada no quintal da infanta D. Maria, e em 1560, Jean Nicot, então embaixador da França em Portugal, a conheceu. Ouvindo dizer que a planta curava enxaquecas, das quais padecia a rainha da França, Catarina de Médici, ele a enviou a Paris. A rainha começou a pitar e imediatamente foi imitada pelos nobres da sua corte e logo pelos das cortes européias, dando nascimento ao mercado do fumo em pó, o rapé.
O fumo, de planta mágico-religiosa dos índios, passou a ser um gênero comercial das colônias européias e, mais particularmente, das Antilhas, da Virgínia (só a partir de 1612) e evidentemente do Brasil.
in O Fumo Brasileiro no Período Colonial; Nardi, Jean Baptiste – Brasiliense – São Paulo, 1996
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