A imprensa subjugada sob o Consulado e o Império (1800-1814)
Napoleão tinha uma consciência muito clara da importância da imprensa. Lia-a regularmente, repreendia constantemente os censores, inspirava artigos. A menor crítica deixava-o furioso:
" ... Reprima um pouco mais os jornais; faça-os publicar bons artigos. Faça os redatores do Journal des Débats e do Publiciste compreenderem que já está próxima a hora em que, percebendo que já não me são úteis, eu os suprimirei com todos os outros, mantendo apenas um [...] O tempo da Revolução acabou, já não há em França senão um partido, e jamais permitirei que os jornais digam ou façam algo contra os meus interesses." (carta a Fouché, abril de 1805)
Napoleão calou os opositores e empenhou-se em utilizar o poder dos jornais a serviço de sua propaganda na França e no exterior.
"Sempre que houver uma notícia desagradável ao governo, ela não deverá ser publicada até que todos estejam tão certos da verdade que se torne desnecessário dizê-la, já que todos a conhecem." (A Fiévée, junho de 1805)
A eficácia dessa propaganda era tão grande que Metternich escreveu em junho de 1808: "Para Napoleão as gazetas equivalem a um exército de 300 mil homens, que não vigiaria melhor o interior e assustaria menos o exterior do que meia dúzia de foliculários a seu serviço."
Le Moniteur foi a peça mestra do seu sistema de propaganda. Jornal oficial desde dezembro de 1799, ele continha uma parte não-oficial composta de artigos de variedades, informações gerais e notícias diversas. "Fiz do Moniteur a alma e a força do meu governo, assim como meu intermediário junto à opinião pública tanto de dentro como de fora ... Era a palavra de ordem para os partidários do governo." (declaração em Santa Helena)
O controle da imprensa tornava-se cada vez mais severo. A criação do diploma de tipógrafo e de livreiro forneceu ao poder novos meios de controle da imprensa. Em 1805 os censores foram integrados à redação dos jornais. O Journal des Débats permaneceu realista. Bertin, o primogênito, foi exilado em 1801 e em 1805 seu jornal, confiscado, recebeu o nome de Journal de l'Empire. Em 1811, apenas quatro jornais continuavam a ser publicados em Paris: Le Moniteur, o Journal de Paris, o Journal de l'Empire e a Gazette de France; a propriedade deles foi inteiramente confiscada.
Na província, após a hecatombe de janeiro de 1800, ainda subsistiam 170 folhas em 1807: daí em diante, foi-lhes imposto que só tratassem de política através de extratos do Moniteur. A partir de agosto de 1810, só se permitiu a existência de uma única folha por departamento. Curiosamente, esse decreto provocou em certos departamentos pobres a criação de um jornal. A obrigação de publicar doravante os anúncios de certos autos do processo civil foi uma nova fonte de rendas para esses jornais.
in História da Imprensa; Albert, P. e Terrou, F. – Martins Fontes – São Paulo, 1990
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