Temos na língua portuguêsa versos de duas até doze sílabas, ou treze, como alguns metrificadores querem, contando a última quando esta é grave. Em geral só se conta a última sílaba da palavra, quando ela é aguda; a penúltima, quando grave, e a antepenúltima, sendo esdrúxula.
O verso de doze sílabas chama-se alexandrino, nome tomado ao poeta que primeiro o escreveu, e que teve grande dificuldade de entrar para a versificação portuguêsa; não existindo na poética italiana nem inglêsa.
Por capricho alguns poetas inserem em suas composições versos de uma só sílaba, exemplo:
Quem
Não
Vem,
Cão?
Metro de duas sílabas
Você
Me chama,
Porque
Se inflama?
De três sílabas
Neste mundo
Tudo é assim,
Rubicundo
Querubim.
De quatro sílabas
Eu nada espero
Mais nesta vida,
Vês? sou sincero,
Minha querida.
De cinco sílabas
Ao ver-te, formosa
Não sei que senti.
Ficaste chorosa
Não negues, eu vi.
De seis sílabas
Do meu viver medonho
Esqueço a história escura,
Se acaso os olhos ponho
Naquela criatura.
De sete sílabas
Vejam só que desalinho,
A noiva cheirava a sândalo,
O noivo fedia a vinho;
Vendo o vigário êsse escândalo
Chamou de parte o padrinho.
De oito sílabas
No horrendo pântano profundo
Em que vivemos, és o cisne,
Que o cruza, sem que a alvura tisne
Da asa no limo infecto e imundo.
De nove sílabas
Ai que vida que pássa na terra
Quem não ouve o rufar do tambor,
Quem não grita na fôrça da guerra:
Ai, amor! ai, amorl ai, amor!
De dez sílabas
Vai-se a primeira pomba despertada,
Vai-se outra mais, mais outra, enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Rompe sangüínea e frêsca a madrugada.
De onze sílabas
Cantemos a glória dos nossos guerreiros
Que à Pátria seu sangue votaram sem dor.
São êles os bravos, que em ser brasileiros,
Têm tudo que exalta, que exprime valor!
De doze sílabas
Negro, pútrido, estanque o rio imenso dorme.
Da floresta no chão sumindo as águas, onde
Como combusto espetro o anoso tronco informe
Mira ao queimor do sol a retorcida fronde.
in Dicionário de Rimas; Passos, Guimaraens – Livraria Francisco Alves – Rio de Janeiro, 1904
Ilustração: Caligrafia 6 – L. C. Cruvinel
Um comentário:
adorei.
Postar um comentário