Os lugares-comuns da desventura amorosa encontram finalmente soluções tão originais como inesperadas: cacete/sorvete, chute/vermute. O velho gênio parecia estar de volta. E, em janeiro de 1936, Noel voltou a se interessar pelo trabalho, embarcando numa nova canoa: ser produtor do filme "Cidade Mulher", de Carmen Santos.
O novo trabalho introduziu algumas modificações em seu cotidiano. Agora, ele passava as noites no Cassino Beira-Mar, onde eram realizadas as filmagens. No meio da madrugada, dava uma fugidinha até a Lapa, para pegar Ceci na saída do trabalho. Voltava com ela para o cassino e juntos assistiam às últimas tomadas da noite.
Noel estava bastante interessado no filme, onde seriam apresentadas seis composições inéditas de sua autoria. Quatro delas foram feitas especialmente na ocasião, durante as filmagens: Cidade Mulher, a valsa Uma Noite à Beira-Mar e duas parcerias com José Maria de Abreu: Morena Sereia e Na Bahia. Havia ainda uma parceria com Vadico, cheia do humor dos bons tempos, Tarzan, o Filho do Alfaiate. Por fim uma homenagem a Ceci, Dama do Cabaré.
Apesar do entusiasmo, o filme foi um fracasso completo, acabando com as forças e o humor de Noel. Durante um ano, ele praticamente não compôs. De vez em quando arriscava uma obra, mas a bossa e a rima não vinham como antigamente:
"Maria Fumaça
Fumava cachimbo
Bebia cachaça
Maria Fumaça
Fazia arruaça
Quebrava vidraça
E só de pirraça
Matava as galinhas
Das vizinhas
Maria Fumaça
Só achava graça
Na própria desgraça
( ... )
Maria Fumaça
Não diz mais chalaça
Não faz mais trapaça
Somente ameaça
Que acaba com a raça
Tomando potassa
Perdeu o rompante
Foi presa em flagrante
Roubando um baralho
Não faz mais conflito
Está no distrito
Lavando assoalho"
(Maria Fumaça)
in Noel Rosa; Caldeira, Jorge – Brasiliense – São Paulo, 1982
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