Depois
de criado o mundo não havia noite para o índio Maué dormir.
Uánham,
sabendo que a Surucucu era Dona da Noite resolveu ir buscá-la. Levou
consigo um arco e flechas para com eles comprar a noite. Porém, a
Sucururu recusou, pois não possuía mãos.
Uánham
voltou com uma liga para as pernas. Surucucu mandou-lhe amarrá-la no
seu rabo, porque não podia levantar-se e, mais uma vez não lhe
entregou a noite. Uánham voltou com venenos. Surucucu, então
necessitava de venenos, arrumou a primeira noite numa cesta e
entregou-a a Uánham. Assim que saiu da casa da Surucucu, os seus
companheiros correram ao seu encontro ansiosos pelo resultado do
negócio. Uánham fora recomendado pela Surucucu que só abrisse a
cesta em casa. No entanto, os seus companheiros tanto insistiram para
ele abrir a cesta, que acabaram por conseguir.
Saiu
a primeira noite. Os companheiros de Uánham, com medo, começaram a
gritar e fugiram às cegas. Uánham gritava: "Tragam a Lua, pois
havia ficado só na noite". Então, os parentes da Surucucu:
jararaca, lacrau, centopéias, que já haviam dividido o veneno entre
si e todas as outras cobras, foram experimentá-lo em Uánham, exceto
a Cutimbóia, pois sendo muito brava não ganhou veneno, para que não
mordesse todos os Maués. Uánham morreu com a picada da jararaca,
mas depois ressuscitou quando um amigo (com quem tinha um acordo)
banhou o seu cadáver com folhas mágicas. Levou mais veneno para
Surucucu, em troca da Grande Noite, porque a noite havia sido muito
curta. Surucucu, para formar a grande noite, misturou jenipapo com
todas as imundícies que encontrou. E é por isso que, à noite, esta
tribo sente tantas dores no corpo e ficam com a boca amarga e mal
cheirosa.
Lendas
à parte, a surucucu (Lachesis muta) é a maior serpente venenosa do
hemisfério ocidental e uma das maiores do mundo, podendo atingir até
4,5m de comprimento e suas presas medem 3,5cm. Pode ser encontrada em
toda a América do Sul (incluindo a ilha de Trinidad, na República
de Trinidad e Tobago).
No
Brasil, habita florestas densas, principalmente na Amazônia, mas há
registros de sua presença em áreas isoladas de resquícios de Mata
Atlântica dos estados do nordeste, do Rio de Janeiro e do Espírito
Santo.
A
vocação para mito está até em seu nome científico, Lachesis
muta: Lachesis é uma referência a Láquesis, uma das Moiras, as
três irmãs da mitológia gregas que decidiam o destino dos seres
humanos e deuses. Muta ("muda" em latim) faz referência à
vibração da sua cauda que, similar à da cascavel, se diferencia
por não ter ruído. Ainda é conhecida por outros nomes, a depender
do local: shushúpe (Peru), pucarara (Bolivia), cuaima (Venezuela),
verrugoso (Colômbia) e in makka sneki ou makkaslang (Suriname).
Aqui, atende por surucucu pico-de-jaca, surucutinga, surucucutinga,
surucucu-de-fogo e cobra-topete.
Sua
cabeça é larga, se distinguindo do pescoço estreito. O focinho é
arredondado. Seu corpo é marrom e marcado com formas losangos
marrom-escuros, revestidos por faixas esverdeadas. Sua cauda não tem
guizos, como a cascavel, mas quando esfregada contra a folhagem, um
pequeno osso que possui no extremo da cauda produz um som. A surucucu
dá sinal de que está incomodada: de comportamento agressivo, não
aprecia invasores em seu território.
Um
animal de hábitos noturnos, se alimenta de pequenos animais e
roedores. L. muta é capaz de identificar os animais que caça pelo
calor, seguindo o seu rastro térmico. Este acurado sensor de calor é
a membrana que reveste internamente as fossetas loreais (orifícios
entre as narinas e os olhos). A espécie se reproduz entre os meses
de outubro e março. o período de incubação dos ovos é de 76 a 79
dias (em cativeiro).
A
Lachesis muta é comum nas suas áreas de ocorrência. Em
contrapartida, a Lachesis muta rhombeata, uma subespécie endêmica
da Mata Atlântica, caracterizada pelo corpo amarelo com desenhos
negros, está ameaçada de extinção. A queda populacional desta
subespécie se deve à redução e fragmentação do seu habitat em
razão do desflorestamento. Ela está classificada como Vulnerável
na Lista Vermelha da International Union for Conservation of Nature
and Natural Resources (IUCN)..
Por
Rafael Ferreira
Foto:
Stryphnodendron coriaceum
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