Vamos viver e amar-nos, minha Lésbia,
sem atribuir o mínimo valor
aos murmúrios de anciães os mais severos.
Os sóis podem morrer e retornar;
mas quando morre a nossa breve luz
dormimos uma só e perpétua noite.
Dá-me pois beijos mil, mais cem depois,
logo mil outros, e um segundo cento,
em seguida outros mil, mais cem depois.
Quando o número andar por muitos mil,
melhor é não saber, perder a conta:
assim ninguém nos dará azar, de inveja,
sabendo quantos beijos nos trocamos.
Catulo
(Caius Valerius Catullus) nasceu em Verona, de abastada família, por volta de 84 antes de Cristo. Em casa de seu pai se hospedava César, quando passava por Verona. Mais ou menos em 62 Catulo mudou-se para Roma, ingressando na brilhante e corrompida sociedade da época; mas voltava frequentemente à sua terra, e nada o consolava mais do que um descanso na sua propriedade de Sírmio, no lago de Garda.
Sob o nome de Lésbia, celebrou em seus versos Clódia, irmã de Públio Clódio e esposa de Q. Metelo Céler, cônsul em 60 a.C. Em 57, Catulo seguiu para a Ásia, na comitiva do propretor C. Mêmio; lá escreveu alguns de seus mais célebres poemas. A data de sua morte não é sabida com certeza: Catulo morreu muito moço, aos 30 ou no máximo aos 33 anos de idade.
Todas as suas composições são ágeis, sinceras e formalmente irrepreensíveis; Catulo adaptou o hendecassílabo a uma notável variedade de propósitos, e exerceu grande influência sobre os líricos que o sucederam em Roma, incluindo Horácio; essa influência se estendeu até mesmo às literaturas modernas, inclusive a inglesa, onde um Ben Jonson ou um Byron o traduziram e um Tennyson o saudou como "o Mais terno dos poetas de Roma".
in Poesia Grega e Latina - Seleção, notas e tradução direta do Grego e do Latim por Péricles Eugênio da Silva Ramos - Editora Cultrix - São Paulo- 1964.
Nenhum comentário:
Postar um comentário