Aristófanes
1 — Vida e Obras.
São poucos os documentos que possuímos a respeito de Aristófanes e dentre eles apenas um ou outro merece inteira confiança. Extirpando desses documentos a fantasia e a lenda e sobretudo hipóteses de alguns doutos, (como é aquela do sábio americano M. Roland Kent que, desejando justificar a data do nascimento do poeta entre 455/454, traduziu erradamente a palavra parthénos por virgem, virginal em As Nuvens. v. 530, quando, na passagem citada o sentido de parthénos é puella, menina, moça), poder-se-á, com boa margem de acerto, resumir assim a biografia de Aristófanes. Tomando-se por base o texto de As Nuvens, o poeta deve ter nascido em 445 a.C. Morreu, não o podemos precisar, entre 375/372, com setenta e dois anos, mais ou menos. Era filho de Filipe, da tribo Pandião, portanto um cidadão ateniense. Pretender com um dos seus melhores editores, Van Leeuwen, Prolegomena ad Aristophanem, Deutsche Literaturzeitung, 1909, que o poeta de As Rãs não era cidadão ateniense, é, ao que parece, levantar castelos na areia 2.
Com segurança pode-se dizer que Aristófanes teve dois filhos: Araro, também poeta de Talia e que em 387 foi o vencedor num concurso cômico com uma peça do pai, intitulada Cócalos, e Filipe. Um terceiro, se existiu, chamava-se Nicóstrato, segundo Apolodoro, ou Filetero, segundo Dicearco.
Quanto às obras do poeta, a antigüidade nos fala em 44 comédias, considerando-se, desde então, quatro delas como apócrifas: A Poesia, O Náufrago, As Ilhas e Níobo. Chegaram-nos somente 11: as restantes são-nos conhecidas pelos títulos e fragmentos.
Eis em ordem cronológica as que possuímos:
425 (Akharnês) Os Acarneus
424 (Hippês) Os Cavaleiros
423 (Nephélai) As Nuvens
422 (Sphêkes) As Vespas
421 (Eiréne) A Paz
414 (Órnithes) As Aves
411 (Lüsistráte) Lisístrata
411 (Thesmophoriádzusai) Tesmofórias
405 (Bátrakhoi) As Rãs
392 (Ekklesiádzusai) Assembléia das Mulheres
388 (Plûtos) Pluto
Comédias mais importantes, cujos títulos ou fragmentos conhecemos:
427 (Daitalês) Os Convivas
426 (Babülónioi) Os Babilônios
422 (Proágon) Prelúdio
414 (Amphiáraos) Anfiarau
387 (Kókalos) Cócalo
1. Duas Vidas anônimas; um artigo de Suidas; uma escólia de Platão; uma introdução breve num tratado anônimo Acerca da Comédia e uma compilação de Thomas Magister: todos estes documentos foram reunidos por Westermann (Biog.) e por Dübner (Prolegomena de Comoedia). Poderíamos ajuntar-lhes ainda as escólias e didascálias que acompanham o texto chegado até nós, bem como as Parábases de Os Acarneus, Os Cavaleiros, As Nuvens, As Vespas, A Paz.
2. A célebre graphè xenías (acusação de estrangeiro) movida, em 424, pelo demagogo Cleão, contra o poeta "por usurpação dos direitos civis", não tem, em absoluto, o valor que se lhe atribui. Com efeito, nada era mais comum em Atenas do que essa imputação. Os oradores (Demóstenes e Ésquines, por exemplo) viviam se acusando mutuamente de tal crime. O próprio Aristófanes, aliás, em mais de uma passagem acusa Cleão, Hipérbolo e Cleofonte de origem estrangeira. Para se compreender a facilidade e freqüência de tais insinuações é necessário lembrarmo-nos da complexidade da legitimação do estado civil na cidade de Palas. Cf., a esse respeito, a obra de Octave Navarre, Les Cavaliers d'Aristophane, Edit. Mellottée, Limoges, 1956, pág. 7 sg.
in As Rãs; Aristófanes; Tradução do Grego por Junito de Souza Brandão – Baptista de Souza & Cia. Editores – Rio de Janeiro, 1958
1 — Vida e Obras.
São poucos os documentos que possuímos a respeito de Aristófanes e dentre eles apenas um ou outro merece inteira confiança. Extirpando desses documentos a fantasia e a lenda e sobretudo hipóteses de alguns doutos, (como é aquela do sábio americano M. Roland Kent que, desejando justificar a data do nascimento do poeta entre 455/454, traduziu erradamente a palavra parthénos por virgem, virginal em As Nuvens. v. 530, quando, na passagem citada o sentido de parthénos é puella, menina, moça), poder-se-á, com boa margem de acerto, resumir assim a biografia de Aristófanes. Tomando-se por base o texto de As Nuvens, o poeta deve ter nascido em 445 a.C. Morreu, não o podemos precisar, entre 375/372, com setenta e dois anos, mais ou menos. Era filho de Filipe, da tribo Pandião, portanto um cidadão ateniense. Pretender com um dos seus melhores editores, Van Leeuwen, Prolegomena ad Aristophanem, Deutsche Literaturzeitung, 1909, que o poeta de As Rãs não era cidadão ateniense, é, ao que parece, levantar castelos na areia 2.
Com segurança pode-se dizer que Aristófanes teve dois filhos: Araro, também poeta de Talia e que em 387 foi o vencedor num concurso cômico com uma peça do pai, intitulada Cócalos, e Filipe. Um terceiro, se existiu, chamava-se Nicóstrato, segundo Apolodoro, ou Filetero, segundo Dicearco.
Quanto às obras do poeta, a antigüidade nos fala em 44 comédias, considerando-se, desde então, quatro delas como apócrifas: A Poesia, O Náufrago, As Ilhas e Níobo. Chegaram-nos somente 11: as restantes são-nos conhecidas pelos títulos e fragmentos.
Eis em ordem cronológica as que possuímos:
425 (Akharnês) Os Acarneus
424 (Hippês) Os Cavaleiros
423 (Nephélai) As Nuvens
422 (Sphêkes) As Vespas
421 (Eiréne) A Paz
414 (Órnithes) As Aves
411 (Lüsistráte) Lisístrata
411 (Thesmophoriádzusai) Tesmofórias
405 (Bátrakhoi) As Rãs
392 (Ekklesiádzusai) Assembléia das Mulheres
388 (Plûtos) Pluto
Comédias mais importantes, cujos títulos ou fragmentos conhecemos:
427 (Daitalês) Os Convivas
426 (Babülónioi) Os Babilônios
422 (Proágon) Prelúdio
414 (Amphiáraos) Anfiarau
387 (Kókalos) Cócalo
1. Duas Vidas anônimas; um artigo de Suidas; uma escólia de Platão; uma introdução breve num tratado anônimo Acerca da Comédia e uma compilação de Thomas Magister: todos estes documentos foram reunidos por Westermann (Biog.) e por Dübner (Prolegomena de Comoedia). Poderíamos ajuntar-lhes ainda as escólias e didascálias que acompanham o texto chegado até nós, bem como as Parábases de Os Acarneus, Os Cavaleiros, As Nuvens, As Vespas, A Paz.
2. A célebre graphè xenías (acusação de estrangeiro) movida, em 424, pelo demagogo Cleão, contra o poeta "por usurpação dos direitos civis", não tem, em absoluto, o valor que se lhe atribui. Com efeito, nada era mais comum em Atenas do que essa imputação. Os oradores (Demóstenes e Ésquines, por exemplo) viviam se acusando mutuamente de tal crime. O próprio Aristófanes, aliás, em mais de uma passagem acusa Cleão, Hipérbolo e Cleofonte de origem estrangeira. Para se compreender a facilidade e freqüência de tais insinuações é necessário lembrarmo-nos da complexidade da legitimação do estado civil na cidade de Palas. Cf., a esse respeito, a obra de Octave Navarre, Les Cavaliers d'Aristophane, Edit. Mellottée, Limoges, 1956, pág. 7 sg.
in As Rãs; Aristófanes; Tradução do Grego por Junito de Souza Brandão – Baptista de Souza & Cia. Editores – Rio de Janeiro, 1958
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