abril 24, 2007

Topaza pella



Beijo

Símbolo de união e de adesão mútuas que assumiu, desde a Antiguidade, uma significação espiritual. No Zohar, encontramos uma interpretação mística do termo beijo. Sem dúvida, a fonte do comentário desse termo é o texto do Cântico dos Cânticos (I, 1). No entanto, existe uma segunda fonte que provém da concepção rabínica segundo a qual certos justos, tal como Moisés, foram poupados da agonia e da morte, tendo partido do mundo terrestre no arroubo extático do beijo de Deus (VAJA, 210).

A esse respeito, Georges Vadja cita um texto do Zohar relativo ao beijo divino: — Que ele me beije com beijos de sua boca — Por que empregará o texto essa expressão? Na verdade, ela significa adesão de espírito a espírito. É por isso que o órgão corporal do beijo é a boca, ponto de saída e fonte do sopro. Do mesmo modo, é pela boca que são dados os beijos de amor, unindo (assim) inseparavelmente espírito a espírito. É por esta razão que aquele cuja alma sai no beijar, adere a um outro espírito, a um espírito do qual ele não se separa mais; esta união chama-se beijo. Ao dizer: "que ele me beije com beijos de sua boca", a Comunidade de Israel pede essa adesão inseparável de espírito a espírito...

Os comentaristas do Cântico dos Cânticos, quer se trate dos Padres da Igreja ou dos autores da Idade Média, interpretam o beijo num sentido idêntico. Para Guillaume de Saint-Thierry, o beijo é o signo da unidade. O Espírito Santo pode ser considerado como procedente do beijo do Pai e do Filho; a Encarnação é o beijo entre o Verbo e a natureza humana; a união entre a alma e Deus durante a vida terrena prefigura o beijo perfeito que se realizará na eternidade. Bernard de Clairvaux, também em seu comentário sobre o Cântico dos Cânticos, fala longamente do osculum que resulta da unitas spiritus. Só a alma-esposa é digna de ambos. O Espírito Santo, dirá São Bernardo, é o beijo da boca, trocado entre o Pai e o Filho, beijo mútuo de igual para igual e somente a eles reservado. O beijo do Espírito Santo no homem, que reproduz o beijo da deidade trinitária, não é e não pode ser o beijo da boca, mas um beijo que se reproduz, se comunica a um outro: o beijo do beijo, a réplica no homem do amor de Deus, a caridade de Deus tornada caridade do homem por Deus, semelhante, quanto ao objeto e ao modo do amor, à caridade que Deus tem por si mesmo. Segundo São Bernardo, o homem encontra-se, de certa maneira, no meio do beijo e do abraço do Pai e do Filho, beijo que é o Espírito Santo. Assim, pelo beijo, o homem está unido a Deus e, assim também, deificado.

Na qualidade de signo de concórdia, de submissão, de respeito e de amor, o beijo era praticado pelos iniciados no Mistério de Ceres: era testemunho de sua comunhão espiritual. Em um sentido idêntico, São Paulo o recomenda (Romanos, 16, 16). Saudai-vos mutuamente com um santo beijo. Todas as igrejas do Cristo vos saúdam. Na Igreja primitiva ainda estava em uso. lnocêncio I substitui esse costume por uma placa de metal (Pax), que o celebrante beija e faz beijar, dizendo Pax tecum. Essa placa, mais tarde denominada de pátena, permanecerá em uso. Existe ainda o costume de beijar as relíquias de santos expostas à veneração dos fiéis.

Na Antiguidade, beijava-se os pés e os joelhos dos reis, dos juizes, dos homens que gozassem de uma reputação de santos. Beijavam-se as estátuas, a fim de implorar sua proteção.

Na Idade Média, no direito feudal, o vassalo era obrigado a beijar a mão de seu Senhor: daí a expressão beija-mão, que significa render homenagem.

Nos antigos rituais concernentes à cerimônia de ordenação dos padres e à da consagração das virgens, faz-se alusão ao beijo dado pelo bispo. Por razões de decência, essa efusão foi suprimida para as virgens, e a monja devia apenas pousar seus lábios na mão do prelado. Na sociedade feudal, o beijo provocava freqüentes dificuldades quando era uma dama quem recebia ou oferecia a homenagem. Símbolo de união, o beijo guardava, com efeito, a polivalência e a ambigüidade das inumeráveis formas de união (DAVS).


in Dicionário de símbolos; Chevalier, Jean; Gheerbrandt, Alain – José Olympio – Rio de Janeiro, 1990

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