maio 17, 2007

O


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Nesse momento, como num relâmpago, foi atravessada pela certeza de que ele a amava, que em seguida se dissipou. Embora não o acreditasse e ainda se recriminasse por tê-lo imaginado, isto a reconfortou e, a um gesto dele, tirou a roupa docilmente. Então, e pela primeira vez desde que Sir Stephen a fazia vir duas ou três vezes por semana usando-a lentamente, muitas vezes fazendo com que esperasse nua por uma hora antes de aproximar-se, escutando sem nunca responder às suas súplicas, pois às vezes suplicava, repetindo as mesmas injunções nos mesmos momentos — como num ritual, tão bem sabia quando sua boca devia acariciá-lo e quando, de joelhos, com a cabeça afundada na seda do sofá devia oferecer-lhe apenas suas nádegas — que agora possuía sem ferir mais, de tal modo tinha-se aberto para ele, pela primeira vez, então, apesar do medo que a decompunha, ou talvez mesmo por causa deste medo, apesar do desespero onde a tinha jogado a traição de René, mas talvez também por causa deste desespero, entregou-se completamente. E pela primeira vez, tão doces eram seus olhos que, ao encontrarem os olhos claros e ardentes de Sir Stephen, consentiam, que ele falou em francês, com muita intimidade. “O”, disse, “vou ter que amordaçá-la pois gostaria de chicoteá-la até o sangue. Permite?”. “Eu sou sua”, disse O. Estava de pé no meio da sala com os braços levantados e unidos que os braceletes de Roissy mantinham presos à argola do teto, onde antigamente havia um lustre, por uma pequena corrente, o que fazia seus seios saltarem. Sir Stephen acariciou-os, beijou-os e depois beijou sua boca uma vez, dez vezes. (Nunca an-

in A história de O; Réage, Pauline – Brasiliense – São Paulo, 1985

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