fevereiro 07, 2007

Notas para a Leitura


No caminho de Swann
por Augusto Meyer
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ADOLFO – Personagem, p. 68. Tio-avô do herói, militar reformado, amigo de cocottes e atrizes; suas relações com Swann e Odette, pp. 258-259.
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ADRIEN PROUST – O doutor Adrien Proust, pai de Marcel Proust, higienista ilustre, um dos pioneiros da campanha contra a tuberculose. Alguns traços foram aproveitados; p. 38 sgs.
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ALEXANDRE DUMAS FILHO – Um dos ídolos do salão de Mme. Aubernon de Nerville, que sugeriu a Proust o ambiente dos Verdurin. V. Léon Daudet, Souvenirs des milieux litéraires, politiques, artistiques et médicaux, ed. Nouvelle Librairie Nationale, 1920, p. 237. Referência à sua peça Francillon pela Sra. Cottard, pp. 215-216.
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ANATOLE FRANCE – Anatole France, que sugeriu à Proust apersonagem Bergotte, prefaciou Les Plaisirs et les Jours. Proust conheceu-o no salão de Mme. Arman de Caillavet e, sob a transfiguração da personagem, traçou uma crítica admirável do estilo do famoso escritor, p. 85 sgs.
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ANDRÉ GIDE – Jacques-Émile Blariche recomendou o manuscrito de Du côté de chez Swann a André Gide, que dirigia então a "Nouvelle Revue Française", em colaboração com Jacques Copeau e Jean Schlumberger. O original foi devolvido pela direção da revista. Mais tarde, Gide colocaria Proust ao mesmo nível de Valéry, como uma de suas maiores admirações. V. Incidences: "A propos de Marcel Proust" e "En relisant Les Plaisirs et les Jours".
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ARTIGOS – Marcel Proust publicou no "Fígaro", em 1912, como artigos de colaboração, dois fragmentos de Du Côté de chez Swann: em 21 de março, "Épines blanches, épines roses" e em 3 de setembro, "L'église de village". Cf. 100 e 121 sgs. e 57 e 60 sgs.
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ASSOCIAÇÕES EVOCATIVAS – Toda a parte inicial, isto é, as cinqüenta páginas do capítulo primeiro (v. Combray, I), introduzindo os temas do sono, do sonho ou da insônia, com alguns temas secundários, prepara gradualmente a apresentação do motivo capital: a associação evocativa, por meio da memória inconsciente, sujeita ao acaso das sensações (v. principalmente de 44 a 47). No fim dessa parte introdutória, aparece o tema que ao mesmo tempo concretiza e representa simbolicamente esse motivo capital da associação evocativa: o da taça de chá, base sensorial da evocação por acidente, que é inesperada e intensa, e provoca um estado de êxtase, uma libertação momentânea da consciência, sobreposta por alguns instantes à irreversibilidade, ao domínio do tempo (v. p. 45). De outro lado, essa parte inicial já transporta o leitor ao ambiente de Combray (v. Combray, II).
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ATORES E ATRIZES – Cita Got, Delaunay, Febvre, Thiron, Coquelin, Maubant, Sara Bernhardt, Bartet, Madeleine Brohan, Jeanne Samary; e entre esses nomes conhecidos de artistas, cita a Berma, que é uma criação de romancista, sugerida pela glória de Sara Bernhardt. V. p. 70.
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AUBERNON – Madame Aubernon de Nerville em parte serviu de modelo para a personagem Mme. Verdurin. Presidia o seu salão, como se fosse uma sessão da Câmara, chamando à ordem os aparteantes com uma campainha de porcelana. No salão de Mme. Aubernon cultivava-se a conversação séria e comedida, o debate elevado; era freqüentado por Caro, Victor Brochard e outros professores ilustres. Mme. Aubernon e Mme. de Nerville, sua sobrinha, republicanas exaltadas, passaram a ser conhecidas por "lesprécieuses radicales". V. Maxime Revon e Pierre Billoty, Les Salons Littéraires, in "Vingt cinq ans de littérature française", sob a direção de Eugène Montfort, ed. Les Marges.
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AUTEUIL – Uma das sugestões para o Combray de Marcel Proust, de parceria com Illiers, onde costumava passar as férias, em casa de um tio. Quando não era acometido de uma das suas crises de asma, Proust hospedava-se com os pais em casa de um tio-avô materno. M. Weil, em Auteuil (v. alusão na p. 16). As primeiras sugestões do seu Combray já se encontram no prefácio de sua tradução de Ruskin, Sésame et les Lys, ed. Mercure de France, 1906.
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BALBEC – Com as suas impressões de Trouville e Cabourg, onde ia a veraneio, Proust criou a localidade e o nome de Balbec, talvez sugerido pelo topônimo Bolbec. É a sugestão do nome que aparece na terceira parte, intitulada "Nomes de terras: o nome", como ressalta a p. 318. Os nomes prestigiosos – Florença, Veneza – despertando na imaginação o desejo de viajar, criam ambientes de fantasia, desmentidos fatalmente pela realidade. Esse desencantamento será depois analisado em À l'ombre des jeunes filles en fleurs, cuja segunda parte traz o título complementar: "Noms de pays: le pays". Balbec será então o ambiente real da ação.
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BASIN – Nome de batismo do duque de Guermantes, personagem; alusão na p. 279.
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BATHILDE – Nome de batismo da avó do herói, uma das criações mais vivas de Proust, p. 17 sgs.; aparece também como a “Sra. Amadeu”, p. 92. Em Du côté de chez Swann ainda não está completo o desenho da personagem; nos volumes seguintes, a propósito de sua doença e morte, o Autor transporta para o plano literário a dor profunda que sentiu com o falecimento de sua mãe. V. sua ternura, suas preocupações pela educação do neto: p. 17,18 e 41 sgs. É a única criatura, em toda a obra, realmente generosa e isenta de esnobismo. V. p. 25.
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BERGOTTE – Personagem, p.82 e 85 sgs. No escritor Bergotte, principalmente em Du côté de chez Swann, Proust integrou alguns traços de Anatole France. A análise do seu estilo, em 85 sgs. é uma verdadeira interpretação do estilo de Anatole France. Mas na intenção do Autor, Bergotte representa o criador de arte, como o pintor Elstir, e o compositor Vinteuil.
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BERMA – Personagem, p. 70. A grande atriz Berma, personagem sugerida pela glória de Sara Bernhardt; a alusão transparece do próprio nome inventado por Marcel Proust.
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BERGSON – É evidente a influência do grande filósofo sobre o grande romancista. Em 1889, Bergson já havia publicado sua tese Les Donnés Immédiates de la Conscience, e foi então que o conheceu Proust na Sorbona. O casamento de Bergson com uma parenta de Proust, Mlle. Neuburger, acabou de estreitar-lhes as relações. Como observa Léon Pierre-Quint, parece que Proust viveu, sentiu, experimentou pessoalmente toda a psicologia de Bergson. O valor especial atribuído à intuição, o sentido da arte, a evolução da personalidade, o inconsciente, a análise da memória etc. são temas fundamentais de ambos. V. ASSOCIAÇÕES EVOCATIVAS e TEMPO
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BIBESCO – O príncipe Antônio Bibesco, amigo de Marcel Proust, prontificou-se a auxiliá-lo na publicação de Du côté de chez Swann e tentou aproximá-lo de André Gide; Gide era então diretor da "Nouvelle Revue Française".
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BICHE – Personagem,; p. 173. "O sr. Biche", o pintor da roda íntima dos Verdurin. .
BIOBIBLIOGRAFIA – Para o estudo biobibliográfico, ver principalmente Léon Pierre-Quint, Marcel Proust, sa vie, son oeuvre, ed. Kra, 1925 e Comment travaillait Proust, Bibliographie, Variantes, Lettres de Proust, ed. Cahiers Libres, 1928 (de p. 48 a 114, bibliografia, contendo obras de Proust, publicadas em volume ou periódicos, obras sobre Proust, idem). Para completar essa biobibliografia elementar, ver também Les Cahiers Marcel Proust, ed. “Nouvelle Revue Française”.
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BLOCH – Personagem, p. 82. Amigo do herói, no qua1 os biógrafos reconhecem traços de um companheiro do jovem Marcel, que o visitava em Auteuil e lhe revelou Musset. Bloch representa a influência literária, é um espírito livresco, imita a linguagem dos seus autores prediletos, sobretudo a de Leconte de Lisle, sua grande admiração. Mas na ficção, em vez de exaltado pelo amigo, Musset é depreciado, em termos que lembram a crítica severa dos parnasianos ao romantismo. Bloch dá a conhecer ao companheiro a obra de Bergotte.
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BRICHOT – personagem, p. 211 sgs. Professor da Sorbona, autor de trabalhos de erudição; um dos fiéis da roda íntima da Sra. Verdurin.
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CAMBREMER – Sra. de Cambremer, personagem, p. 271. A marquesa de Cambremer, melômana, provinciana de poucas relações na sociedade parisiense, amiga da Sra. de Franquetot. Sua admiração por Chopin, 274.
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CAMPANÁRIOS – Na paisagem de Proust, os campanários têm a vida de personagens. V. p. 61, o campanário de Santo Hilário; e 154 sgs. a admirável impressão dos campanários de Martinville. Em 155-156, reproduz entre aspas umas das suas primeiras redações literárias, sem alterações do texto; esse trecho foi escrito aos quinze anos.
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CELESTE – Celeste Alharret, empregada de Proust, que se tornou famosa por haver sugerido ao escritor uma das suas grandes criações, a personagem Francisca. V. FRANCISCA.
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CELINA – Personagem, p. 29. Tia-avó do herói, solteirona. V. também p. 26.
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CHARLES HAAS – Segundo os biógrafos, Marcel Proust, ao criar a personagem de Swann, reproduzia na ficção a extraordinária carreira mundana de Charles Haas, judeu elegante e espirituoso, íntimo da duquesa de la Trémoïlle, amigo do conde Robert de Montesquiou, admirado e disputado pelas rodas mais intransigentes da alta sociedade. V. Boni de Castellane, Comment j'ai découvert l'Amérique e Robert de Montesquiou, Les pas effacés, ed. Émile-Paul, 1923.
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CHARLUS – Personagem importante, p: 36. Em Du côté de chez Swann alude-se a Charlus pela primeira vez no passo indicado. Breve aparição na p. 124. Aparece ainda mais adiante, sempre de modo vago e acidental, na qualidade de amigo de Swann e Odette, 258 sgs. Só nos volumes subseqüentes de À la Recherche du Temps Perdu, em À l'ombre des Jeunes Filles en Fleurs, principalmente a contar de Sodome et Gomorrhe, avulta a personagem extraordinária, a maior criação de Proust, na opinião de vários críticos. Em Swann, a simples frase descritiva, à página 124, por mais insignificante que pareça, já contém um traço vivo e revelador: aqueles olhos exorbitados e fixos com que parece devorar o menino. O ponto de partida e a sugestão para a criação do herói Charlus foi sem dúvida o conde Robert de Montesquiou. A semelhança da personagem com o modelo é fragrante, segundo o testemunho de ]acques-Émile Blanche. Antes de criar o seu Charlus na obra literária, Proust ensaiou essa criação na vida real com suas imitações vivas e caricatas do estranho conde. A simples imitação cômica e o "pastiche" literário serviram de instrumento e experiência ao Proust romancista, que é muitas vezes um memorialista velado, a utilizar-se da fantasia criadora de modo alusivo e transparente, como a indicar a verdade biográfica sob a transfiguração romanceada. V. ]acqués-Émile Blanche, Quelques instantanés de Marcel Proust, in "Les Cahiers Marcel Proust", I, 46 sgs.
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CIÚME – A admirável análise da paixão de Swann atinge a expressão mais intensa quando, depois das primeiras ilusões, começa a descobrir o passado de Odette, suas aventuras de cocotte: 294 sgs. Aparece então um dos maiores temas psicológicos de Proust, o ciúme, cujo desenvolvimento na segunda parte da obra é apenas uma versão ainda incompleta da análise pungente e magistral do mesmo tema em La Prisonnière e Albertine Disparue.
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CRÍTICA – Paul Souday foi o único crítico profissional a manifestar, logo após o aparecimento de Du Côté de chez Swann, certa intuição do grande valor da obra. Reservou-lhe um rodapé do "Temps". V. "Le Temps", 10 de dezembro de 1913: Paul Souday, Marcel Proust, A la Recherche du Temps Perdu, Du côté de chez Swann. Apenas algumas linhas do rodapé tratam de Moeurs du Temps de Alfred Capus. O artigo foi aproveitado por Souday em Les Livres du Temps, ed. Émile-Paul, 1913.
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COTTARD – Personagem, p. 161. O doutor Cottard, um dos primeiros freqüentadores da roda íntima da Sra. Verdurin. Personagem, Sra. Cottard, esposa do doutor Cottard, idem, idem.
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CURA – Personagem; p. 93 sgs. O cura de Combray, muito versado em etimologia. V. 94 sgs.
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EDIÇÃO ORIGINAL – A edição original de Du côté de chez Swann é a de 1913, lançada por Bernard Grasset. Parte da tiragem foi comprada em 1917 pela “Nouvelle Revue Française”, que aproveitou os exemplares da primeira, revestindo-os de uma capa, no lançamento de sua nova edição. Isso comprova o insucesso da obra, a princípio. Dez anos depois, um exemplar autografado da edição original era vendido por 60.000 francos.
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EDITORES – O manuscrito de Du côté de chez Swann foi rejeitado pelos seguintes editores: Nouvelle Revue Française, Mercure de France, Fasquelle, Ollendorf. Ao devolver os originais, o diretor de Ollendorf, aludindo às admiráveis páginas iniciais, escrevia em carta a Louis de Robert, amigo do Autor: "Custa a crer que se gastem trinta páginas só para descrever alguém a remexer-se na cama, sem poder conciliar o sono".
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EULÁLIA – Personagem, 65 sgs. Uma protegida da tia do herói, em Combray, rival da criada Francisca.
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FORCHEVILLE – Personagem, 210 sgs. O conde de Forcheville, freqüentador da roda da Sra. Verdurin. Suas relações com Odette de Crécy, 236 sgs. Forcheville é cunhado do arquivista Saniette,
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FRANCISCA – Personagem, p. 52 sgs. Aparece como empregada da tia do herói, em Combray. Em Swann ainda não se revela a importância da personagem que, passando mais tarde ao serviço da família do herói, adquirindo cada vez mais relevo, identifica-se aos poucos com o seu modêlo real, Celeste, a empregada de Marcel Proust. Alguns críticos consideram essa personagem, ao lado de Charlus, uma das maiores criações do escritor.
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FROBERVILLE – Personagem, p. 270. O general de Froberville, convidado de Mme. de Saint-Euverte na soirée musical.
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FLORA – Personagem, p. 29. Tia-avó do herói, solteirona.
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GALLARDON – Personagem, p. 272 sgs. A marquesa de Gallardon aparentada com os Guermantes, um dos mais expressivos casos de esnobismo. V. seu encontro com Mme. des Laumes, na soirée musical de Mme. de Saint-Euverte.
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GILBERTA – Personagem, pp. 28 e 123. A filha de Swann e Odette. Nas págs. 326 sgs., o Autor aproveitou recordações da infância e adolescência. Na carta-dedicatória a Jacques de Lacretelle, dizia, quanto ao episódio da amizade com Gilberta nos Campos EIísios; haver pensado "numa pessoa que foi o grande amor de minha vida, sem que o soubesse". Gilberta aparecerá depois com mais relevo em À l'ombre des Jeunes Filles en Fleurs, primeira parte.
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GUERMANTES – O prestígio do nome, para o herói da história, provém do seu encanto lendário e histórico; está ligado à igreja de Santo Hilário, onde se acham os túmulos dos Guermantes, mas de outro lado também se prende à história de Genoveva de Brabante, que aparece no começo da obra, no tema da lanterna mágica. Os Guermantes eram os antigos condes de Brabante, como observa o Cura. A figura principal de uma tapeçaria da igreja, representando a coroação de Ester, é o retrato de uma Guermantes. – Personagens. O duque e a duquesa de Guermantes. V. Basin e Oriane.
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HÁBITO – Apresentado logo nas primeiras páginas (p. 15) o tema do hábito, que é de importância capital em tôda a obra, ora difuso, ora analisado como fator psicológico, merece menção particular.
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IGREJAS – Tema importante da obra, sobretudo no primeiro volume. V. pp. 57-64, descrição da igreja de Combray; p. 93 sgs. considerações históricas do Cura sobre a mesma igreja; p. 131 sgs. a igreja de Saint-André-des-Champs; p. 154 sgs. o campanário de Martinville; p. 316 sgs. a igreja de Balbec. Já em 1904 Proust havia publicado a sua tradução da Bíblia de Amiens de Ruskin e no "Figaro" um artigo intitulado "La mort des cathédrales". Preocupou-se vivamente com a conservação e restauração dos monumentos de arquitetura religiosa (V. Chroniques, p. 150 sgs., reprodução do artigo mencionado, a propósito do projeto de Briand).
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LAUMES – Personagens. O príncipe e a princesa des Laumes. São os mesmos duques de Guermantes. V. Basin, Guermantes e Oriane.
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LAURA HEYMAN – Mundana de requintada elegância, especialista na educação de príncipes e muito relacionada nos meios literários, que teria sugerido a Proust certos traços da personagem Odette de Crécy (v. ODETTE.). Outro modelo para o mesmo retrato seria Mme. Ménard Dorian.
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LEGRANDIN – Personagem, p. 64 sgs., mas principalmente p. 110 sgs. Engenheiro e artista amador. Em Legrandin o Autor traçou uma das suas caricaturas mais expressivas do esnobe dissimulado.
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LEITURA – Convém confrontar p. 77 sgs. com o prefácio da tradução de Sesame and Lílíes de Ruskin. V. Sésame et les Lys. Traduction, notes et préface par Marcel Proust, ed. Mercure de France, 1906.
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LEÔNCIA – Personagem, p. 49 sgs. Tia do herói. Vive fechada no quarto, sempre doente. "Mme. Otave" é a mesma personagem.
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MEMÓRIA – Estabelece distinção entre a memória voluntária, ou da inteligência, e a associação evocativa, provocada por algum objeto que a memória inconsciente impregnou de sensações. (V. p. 44 sgs.). O chá e as migalhas do bolo, o gosto e o cheiro reconstituem aos poucos a imagem, a recordação visual (v. p. 46 sgs.). O tema da memória em Proust, ligado ao motivo capital da criação estética, parece uma adaptação ao romance, da filosofia bergsoniana.
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MÉTODO DE LEITURA – Em Le Miroir des Lettres, quinta série, Fernand Vandérem preconizava um método cauteloso de leitura progressiva para a conquista do mundo proustiano: a princípio, umas vinte páginas por dia, ao fim de uma semana, aumentar diariamente cinco páginas etc. Mas o exemplo de René Boylesve, Léon Pierre-Quint e outros parece mais animador; mostra-nos que é preferive1 começar a leitura a partir de qualquer trecho, a título de experiência, para depois atacar a leitura sistemática, na devida ordem. Recomendamos ao leitor de boa vontade que, após consulta prévia a estas notas, escolha um episódio qualquer, ou tema, ou acidente, indicado nas mesmas, procurando familiarizar-se com a sua composição. Logo a seguir, tente o leitor aproximar esse tema de outros motivos igualmente indicados nestas notas, ou quaisquer outros que apresentem interesse particular. Verá então como, de motivo em motivo, de episódio a episódio, o encadeamento é perfeito. A composição rigorosa da obra exige uma leitura lenta, pausada, sistemática, e a leitura de Proust é uma delícia que se deve conquistar a pouco e pouco, recomeçando sempre, relendo para tornar a reler. Esse andamento moderado corresponde ao próprio andamento da composição. Dizia Ortega y Gasset que o processo literário de Proust lembra a filmagem em câmara lenta.
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MODELOS – Na carta-dedicatória a Jacques de Lacretelle, escrita num precioso exemplar de Du côté de chez Swann, Proust deixou bem claro que não há propriamente "chaves" ou modelos para a sua obra, mas apenas sugestões, traços característicos ou pormenores que aproveitou na criação de personagens, ambientes, situações, refundindo-os numa síntese original, remodelando os seus modelos. Dizia nessa carta: "Não há chaves para as personagens deste livro: ou melhor, há umas oito ou dez para cada personagem".
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MÚSICA – Sobre a influência da música na obra de Proust, convém consultar André Coeuroy, Musique et Littérature, ed. Bloud et Gay, 1923; Jacques Benoist-Méchin, La Musique et l'Immortalité dans l'Oeuvre de Marcel Proust, ed. Kra, 1926. Essa influência revela-se em Du côté de chez Swann com a admirável descrição da Sonata de Vinteuil, p. 177 sgs. e p. 285-a 291, sobre a qual existe uma bibliografia considerável (Em Marcel Proust, An English Tribute, ed. Chatto and Windus, 1923, há dois estudos sobre o assunto: "M. Vinteuil's Sonata", por Dineley Hussey e "A note on the Little Phrase", por W. T. Turner). O próprio Autor indicou algumas fontes de sugestão musical, na invenção desse tema; refere-se a Cesar Franck, Fauré, Saint-Saëns, Wagner, Schubert, o que mostra mais uma vez a complexidade de impressões que há na origem do seu trabalho de criação literária. A Sonata de Vinteuil é um tema essencial em Du côté de chez Swann, está ligada à paixão de Swann e ao "leitmotiv" de toda a obra, que é a recuperação do tempo perdido por meio da memória criadora, inconsciente a princípio, mas assumindo afinal um sentido de consciência estética, a sublimar-se cada vez mais, até atingir a libertação das contingências pela contemplação desinteressada.
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ODETTE – Personagem importante, Odette de Crécy, amante de Swann, mais tarde Sra. Swann, a mãe de Gilberta. Uma das criações mais completas do romancista e sem dúvida a mais completa análise da grande "cocotte", na literatura moderna. Sua mediocridade, sua ignorância, seu egoísmo de animal de serralho, sua hipocrisia, entrevistos a pouco e pouco no decorrer da obra, mas sempre de modo vago e indireto, sem abuso da análise objetiva, concorrem para imprimir à segunda parte uma intensidade quase trágica, por efeito de contraste com a ilusão de Swann. A segunda parte é cortada bruscamente por um pesadelo de sabor simbólico, de que desperta Swann com assomos imprevistos de lucidez e desilusão, desmentidos, aliás, na prática, pelo seu casamento. (v. p. 311 sgs.). Quando veio a lume o romance de Proust, alguns amigos deram a entender à Sra. Laura Heyman que ela servira de modelo para a criação de Odette de Crécy, furiosa, a Sra. Laura Heyman dirigiu ao Autor um protesto, que Proust respondeu com uma de suas intermináveis cartas cheias de atenções e explicações. V. LAURA HEYMAN.
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ORIANE – Nome de batismo da duquesa de Guermantes, amiga de Swann, e, para. o menino de Combray, a descendente de Genoveva de Brabante, verdadeira personagem de conto de fadas. V. sua decepção ao vê-Ia pela primeira vez na igreja de Combray, p. 150 sgs. A duquesa de Guermantes dissimula o seu esnobismo com a afetação de prezar exclusivamente a cultura, a inteligência, o espírito. V. p. 273 sgs.
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PINTURA E PINTORES – Proust não é só musical, é também profundamente plástico. Revela-se a influência da pintura na primeira obra que publicou, intitulada Portraits de Peintres, Quatre pièces pour piano de Reynaldo Hahn sur des poésies de Marcel Proust, ed. Au Menestrel, 1896. São interpretações poéticas de Cuyp, Paulo Potter, Watteau e Van Dyck. Em Du côté de chez Swann essa influência manifesta-se a todo instante, com as referências a pintores ou através do próprio Swann, colecionador e "connoisseur", que prepara um estudo sobre Ver Meer de Delft. Swann, em sua mania das artes plásticas, transporta para as pessoas a expressão das personagens que figuram na obra dos grandes mestres: Odette é a Céfora de Botticelli, seu cocheiro Remi é o doge Loredano de Antonio Rizzo, num dos lacaios da marquesa de Saint-Euverte vê um guerreiro de Mantegna, outro lhe parece um sacristão de Goya. (v. p. 188, 268 e 269). As descrições revelam a genial acuidade do "visual" que há em Proust: veja-se a página sobre a lanterna mágica (p. 16), o comentário sobre a aparência física das pessoas (p. 24), a descrição do luar (p. 35 e 102), a dos espinheiros em flor (p. 100 sgs) , da igreja de Saint-André-des-Champs (p. 131 sgs.), a deliciosa caricatura psicológica da cena dos monóculos (p. 270) etc.
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SAFISMO – Nas págs. 139 sgs. o Autor introduz, com flagrante realismo, uma cena que é a primeira manifestação de um dos temas principais da sua obra: o safismo, Nas págs. 297 sgs. volve o mesmo tema, a propósito dos ciúmes de Swann e do passado de Odette. A mesma questão será desenvolvida plenamente mais tarde, em Sódome et Gomorrhe, La Prisionnière e Albertine Disparue.
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SAINT-EUVERTE – A marquesa de Saint-Euverte, personagem. p. 267. Melômana, organiza grandes concertos de caridade e "soirées" musicais. V. a descrição de uma dessas reuniões nas páginas 273 sgs.
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SANIETTE – Personagem, p. 218 sgs. O arquivista Saniette, parente do conde de Forcheville, humilde freqüentador da roda íntima dos Verdurin.
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SWANN – No começo da obra, Swann é a personagem que representa, para o suposto memorialista, a vida brilhante e cheia de mistério da alta sociedade. Nessa primeira parte, intitulada "Combray", tudo gira em torno das recordações de infância do herói, que centraliza a perspectiva. Mas na segunda parte, "Um amor de Swann", desloca-se o ponto de vista para a descrição do ambiente dos Verdurin, e Swann passa ao primeiro plano, corno herói da história, sendo essa parte desenvolvida objetivamente, em estilo indireto. O Autor pensa por Swann, sente por Swann, identifica-se com ele, para poder analisar em todas as minúcias a sua paixão por Odette de Crécy, os seus ciúmes, suas dores e alegrias mais íntimas. No fim da segunda parte, a identificação é tão completa, que descreve o sonho de Swann, aquele sonho que precipita uma lucidez brusca, ao despertar, revelando-lhe afinal a ilusão do seu amor. Na terceira parte, “Nomes de terras: o Nome”, retorna o Autor à perspectiva inicial, ao mesmo desenvolvimento subjetivo adotado no começo, e no fim do volume Swann ressurge entre as recordações do memorialista, já então casado com Odette, fora do foco central da perspectiva, restituído a um plano secundário da obra; seu prestígio assenta apenas na circunstância de ser o pai de Gilberta e o esposo de uma das mulheres mais elegantes do Bois de Boulogne. Sobre a sugestão mais provável de que teria partido o Autor para a criação da personagem de Swann, v. CHARLES HAAS.
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TEMPO – Pode-se considerar o Tempo a principal personagem da obra de Proust, seu tema essencial, sua substância. Camille Vettard observou que a idéia de tempo ressalta de modo impressionante na obra do maior filósofo, do maior cientista e do maior criador de arte, nos primeiros anos do século vinte: Bergson, Einstein e Proust. No seu admirável estudo sobre Flaubert, Proust apontava no mestre de Croisset a mesma preocupação pela idéia de tempo, sobretudo na Educação Sentimental (v. Nouvelle Revue Française de 1-1-1920: "A propos du style de Flaubert", reproduzindo em Chroniques). O tempo, na obra de Proust, é o fator de dissolução, ao qual se contrapõe a personalidade, o esforço constante de recuperação por meio da memória criadora na obra de arte. A procura do tempo perdido, é, portanto, a tentativa de reconquistar o Eu aparentemente perdido, mas que permanece através do incessante devir. Na Evolução Criadora, ao introduzir o tema da memória, que é o presente a transformar-se em passado, mostra Bergson em cada estado de alma a "durée" em progresso contínuo, observa ainda uma vez que tudo é mudança, para afinal concluir: "Se o Eu não mudasse, não poderia, durar, e um estado psicológico que se mantém idêntico a si mesmo, enquanto não for substituído por outro, também não poderá durar. Na verdade, o passado conserva-se por si mesmo... "Em Du côté de chez Swann", o motivo dominante da recuperação do tempo perdido, embora ainda não desenvolvido plenamente, aparece com evidência nas págs. 44 sgs. Sua insistência no decurso de toda a obra e a íntima conexão com os temas secundários sugere certa afinidade com a estrutura wagneriana do drama musical. Só no Temps Retrouvé, que é um verdadeiro hino dedicado à grandeza e ao poder mágico da arte, a superação do sofrimento e da morte virá imprimir um sentido supremo à construção da obra, sentido de nítida espiritualidade platônica, que não escapou à argúcia de Ernst Robert Curtius (v. Marcel Proust, Traduit de l'Allemand par Armand Pierhal; ed. de La Revue Nouvelle, 1928).
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TÍTULO DA OBRA – Para compreender a intenção contida no título da obra, convém observar que na geografia sentimental do suposto memorialista, há dois rumos que partem do centro, isto é, de Combray: a direção de Méséglise-la-Vineuse é o caminho que vai dar na propriedade de Swann, é o "rumo de Swann", a direção de Guermantes indica o caminho que leva à propriedade dos Guermantes, antigos senhores feudais, e daí o título do terceiro volume da obra de Proust: Du côté de Guermantes. No primeiro volume, o "rumo de Guermantes" é só uma vaga indicação da fantasia. Mas o "rumo de Swann" tem um sentido preciso, conduz o leitor à segunda parte e às primeiras experiências sentimentais do herói.
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VERDURIN – Personagem, p. 161. A Sra. Verdurin e seu esposo estão ligados indissoluvelmente ao "pequeno clã", à roda íntima que acaba por atrair Swann. A Sra. Verdurin é um monstro admirável de vida e verdade.
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VILLEPARISIS – A Sra. de Villeparisis, personagem, p. 25, A Marquesa de Villeparisis, da família dos Guermantes, aparece com mais relevo em À l'ombre des Jeunes Filles en Fleurs; em Swann há uma breve referência às suas, relações com a avó do herói.
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VINTEUIL – Personagem, p, 29. M. Vinteuil, o modesto vizinho de Montjouvain, vítima da maledicência e da ingratidão da filha, perfeita imagem de um derrotado na vida e na arte; é o admirável compositor que mais tarde será exaltado na sua obra imperecível. Swann ignora que é ele o autor da Sonata que tanto admira. V. p. 130.
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VOCAÇÃO LITERÁRIA – Nas págs. 153 sgs. Proust descreve, numa confissão quase direta, o despontar de sua vocação literária. Nesse mesmo passo, reproduz entre aspas uma das suas primeiras redações de adolescente; sobre os campanários de Martinville.
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