fevereiro 20, 2007

Só para loucos


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...Muitas vezes pensei quem seria o verdadeiro amor de Maria. Havia muitas possibilidades de que fosse o jovem Pablo, o do saxofone, o dos olhos negros e das mãos longas, brancas, nobres e melancólicas. Eu imaginava Pablo um tanto indolente para o amor, por ser algo mimado e passivo, mas Maria me assegurou que ele era de fato um tanto lento para excitar-se, mas que depois era tão pertinaz, exigente e másculo quanto qualquer boxeador ou mestre de equitação. E desta forma aprendi e fiquei sabendo de segredos sobre um e outro, sobre músicos de jazz e artistas de teatro, sobre muitas mulheres, moças e homens de nosso convívio; soube toda a classe de segredos, vi abaixo da superfície uniões e inimizades, e eu, que fora neste mundo um corpo estranho sem relação com ninguém, acabei por ver-me absorvido por completo. Também soube muitas coisas de Hermínia. E de Pablo, com quem me encontrava com freqüência, porque Maria o amava muito. Às vezes ele empregava seus meios secretos, também me fazia sentir de vez em quando aquela sensação, e sempre se me mostrava amistoso e serviçal. Certa vez me disse sem rodeios:
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...– Você é muito infeliz. Isso é mau. Não se deve ser assim. Causa-me pena. Por que não tenta fumar um pouco de ópio?
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in O lobo da estepe; Hesse, Hermann – Record, 28ª edição – Rio de Janeiro, São Paulo; 2004

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