fevereiro 14, 2007
Um pai diferente
– Que barulho é esse?
– Tá louca, Dirce!
– Venha cá, ó imbecil! Tá saindo do cestinho de lixo.
Manoel Carlos, mal-humorado, levanta a bunda da cadeira e arrasta-se ao encontro da dúvida.
– Prestenção...
Com o mindinho esfregou o tímpano, abriu mais as pálpebras.
– sfffiettcool...
Não sabia. Aquele som não estava em sua memória cognitiva. Parecia.
Reticente, remexe a papelada, cinzas, tocos de cigarros e o olhar curioso da esposa.
– Ali! – Espevitada, ela aponta e pega cuidadosa aquela caneta disforme.
Quase que no centro do corpo do objeto, uma bolha translúcida evidenciava algo que,
– Preciso de uma lente, mané!
Agora sim.
– Seu FILHO DE UMA PUTA! Desperdiçando minha porra com punheta?!!!
Atirou de volta ao cesto a caneta grávida.
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in Fada é foda; Fernandes, Marcos – Senhoras de Santana – São Paulo, 2007
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