março 01, 2010

Viva Piva!


A grande poesia de Roberto Piva precisa de ajuda. Este evento é para arrecar fundos visando o tratamento da sua delicada saúde. Pedimos a colaboração na divulgação. Para doações à distância, seguem seus dados bancários:
Itaú – 341
Agência: 0036
Conta corrente: 20592-0
CPF 565 802 828-00
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janeiro 10, 2010

Te quiero


Tus manos son mi caricia,
mis acordes cotidianos;
te quiero porque tus manos
trabajan por la justicia.

Si te quiero es porque sos
mi amor, mi cómplice, y todo.
Y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.

Tus ojos son mi conjuro
contra la mala jornada;
te quiero por tu mirada
que mira y siembra futuro.

Tu boca que es tuya y mía,
Tu boca no se equivoca;
te quiero por que tu boca
sabe gritar rebeldía.

Si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo.
Y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.

Y por tu rostro sincero.
Y tu paso vagabundo.
Y tu llanto por el mundo.
Porque sos pueblo te quiero.

Y porque amor no es aurora,
ni cándida moraleja,
y porque somos pareja
que sabe que no está sola.

Te quiero en mi paraíso;
es decir, que en mi país
la gente vive feliz
aunque no tenga permiso.

Si te quiero es por que sos
mi amor, mi cómplice y todo.
Y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.
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Mario Benedetti in www.avantel.net
Imagem: Big Mouth por D*Face

janeiro 01, 2010

Vesperal



Pato Donald Mickey Clarabela
voam no céu, o filme roda na tela,
o céu está cheio de estrêlas
as crianças tomam sorvete no cine
as crianças como riem elas
Tio Patinhas passa de avião
êle tem concorrentes em outras cidades
sua fortuna de tôdas tem que ser a maior
Tio Patinhas sorri, êle está contente,
Douglas Mcpherson, esquire, suicidou-se
ontem, com um tiro no ouvido,
Tio Patinhas ganha qualquer parada
êle sorri, êle está contente,
e com êle as crianças como riem elas
ah as crianças o filme corre na tela
Tio Patinhas é bom para as crianças
é todo colorido, um pato eastmancolor,
simpático, de cartola, e como tem dinheiro,
Pato Donald Mickey Clarabela
olham-no com respeito e admiração
voam no céu, o filme roda na tela,
Mcpherson suicidou-se ontem
com um tiro no ouvido,
o céu está cheio de estrêlas,
as crianças, como riem elas ...

Ariel Marques
Ariel Krirochein Marques, carioca, nascido em 25 de abril de 1947, completou o curso secundário do Rio de Janeiro e, atualmente, cursa o 2º ano de Economia na Universidade de Brasília. Já colaborou em diversos suplementos literários e revistas, entre os quais a
"Revista Civilização Brasileira". Tem um livro de poemas inédito intitulado "urbe".



in Poesia viva I, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1968
Ilustração: Stiffane Mioo, por Guinigui

novembro 28, 2009

Bruzundangas



A gente da Bruzundanga gosta de raciocinar por aforismos. Sobre todas as cousas, eles têm etiquetadas uma coleção deles.

Se se fala em uma sala ou em outro qualquer lugar de sociedade de cousas literárias, logo um aforista sentencia:

— A arte deve ser impessoal. Os grandes artistas, etc.

Naturalmente, ele se lembrou de Dante, que pôs no inferno os seus inimigos e no céu os seus amigos.

Incapaz de fazer aparecer do seu seio razoáveis manifestações intelectuais, ela é ainda mais incapaz de apoiar as que nascem fora dela.

A pintura, que sempre foi arte dos ricos e abastados, não tem, na Bruzundanga, senão raros amadores. Os pintores vivem à míngua e, se querem ganhar algum dinheiro, têm que se rojar aos pés dos poderosos, para que estes lhes encomendem quadros, por conta do governo.

Porque eles não os compram com o dinheiro seu, senão os de vagas celebridades estrangeiras que aportam às plagas do país com grandes carregações de telas. É outro feitio da gente imperante da Bruzundanga de só querer ser generosa com os dinheiros do Estado. Quando aquilo foi império, não era assim; mas, desde que passou a república, apesar da fortuna particular ter aumentado muito, a moda da generosidade à custa do governo se generalizou.

Se um desses engraçados mecenas julga que deve proteger tal ou qual pessoa; que esta precisa viajar a Europa, aperfeiçoar-se, não lhe subvenciona a viagem, não tira nem um ceitil dos seus mil e mais contos. Sabem o que faz? Influi para que ele receba um pagamento indevido do Tesouro ou promove uma fantástica comissão para o indivíduo.

É assim o mecenato da Bruzundanga. A falta de generosidade e a sua inquietude pelo dia de amanhã ferem logo a quem examina a sociedade daquele país, mesmo perfunctoriamente.

Basta ler os testamentos dos seus ricos e compará-los com os que fazem os humildes iberos, que lá enriqueceram em misteres humildes, para sentir a inferioridade moral da sociedade da Bruzundanga.

Nestes últimos, há mesmo um grande pensamento da hora da morte, quando fazem legados a amigos, a parentes afastados, a criados, a instituições de caridade; mas, nos daqueles, só se topa com o mais atroz egoísmo. Lembro-me de um ricaço de lá que, ao morrer, fez avultados legados aos netos, filhos de sua filha, com a condição de que deviam usar o nome dele — cousa que, como se sabe, se não é contrária às leis, ofende os costumes. O sobrenome tira-se do do pai, lá como aqui.

Por falar em cousas de morte, convém recordar que os cemitérios dessa gente, ou por outra, os túmulos das pessoas da alta roda da Bruzundanga são outra manifestação da sua pobreza mental.

São caros jazigos ou carneiros de mármore de Carrara, mas os ornatos, as estátuas, toda a concepção deles, enfim, é de uma grande indigência artística. Raros são aqueles que pedem a escultores que os façam. Todos os encomendam a simples marmoristas, que os recebem, aos montes, da Itália.

As suas casas são desoladoras arquitetonicamente. Há modas para elas. Houve tempo em que era a de compoteiras na cimalha; houve tempo das cúpulas bizantinas; ultimamente era de mansardas falsas. Carneiros de Panúrgio...

A sua capital, que é um dos lugares mais pitorescos do mundo, não tem nos arredores casas de campo, risonhas e plácidas, como se vêem em outras terras.

Tudo lá é conforme a moda. Um antigo arrabalde da capital que, há quantos anos era lugar de chácaras e casas roceiras, passou a ser bairro aristocrático; e logo os panurgianos ricos, os que se fazem ricos ou fingem sê-lo, banalizaram o subúrbio, que ainda assim é lindo.

Um dos toques da mediocridade da sociedade da Bruzundanga é a sua incapacidade para manter um teatro nacional.

O teatro é por excelência uma arte de sociedade, de gente rica. Ele exige vestuários caros, jóias, carros — tudo isso que só se pode obter com a riqueza. Pois os ricos da Bruzundanga não animam as tentativas que se têm feito para fazer surgir um teatro indígena, e todas têm fracassado.

Ela se contenta com a ópera italiana ou com as representações de celebridades estrangeiras.

Poderia ainda falar nas suas festas íntimas, nos seus casamentos, nos seus batizados, nas suas datas familiares; mas, por hoje, basta o que vai dito, e é o bastante para mostrar de que maneira a aristocracia da Bruzundanga é incapaz de representar o papel normal das aristocracias: criar o gosto, afinar a civilização, suscitar e amparar grandes obras.

Se falei aqui em aristocracia, foi abusando da retórica. O meu intento é designar com tão altissonante palavra, não uma classe estável que detenha o domínio da sociedade da Bruzundanga, e a represente constantemente; mas os efêmeros que, por instantes, representam esse papel naquele interessante país.

Explicado este ponto, posso ir adiante nas minhas breves “notas” sobre o país da Bruzundanga.



in Os Bruzundangas; Barreto, Lima – Editora Brasiliense – S.Paulo, 1956
Imagem: Mantegna, Andrea "The Agony in the Garden" c. 1450; Têmpera sobre madeira — 63 x 80 cm – National Gallery, London

outubro 31, 2009

Imaginário



Teatro Atuação – 1988 – O doente imaginário, de Molière – Direção: Silnei Siqueira – Ariel Moshe, Bruno Barroso e Cid Pimentel.

Guran in wonderful Zelin



Foto: Guinigui

outubro 30, 2009

outubro 09, 2009

Prega



“O conflito é luz e sombra, perigo e oportunidade, estabilidade e mudança, fortaleza e debilidade. O impulso para avançar e o obstáculo que se opõe a todos os conflitos contêm a semente da criação e da desconstrução”.


in A Arte da Guerra, século VI a. C. – Sun Tzu (544-496 a.C)
Foto: Plexo – Adriana Gragnani

outubro 05, 2009

Um etc de um tao



Nemorino.

Nemorino
Una furtiva lagrima
negli occhi suoi spuntò...
quelle festose giovani
invidiar sembrò...
Che più cercando io vo?
M'ama, lo vedo.
Un solo istante i palpiti
del suo bel cor sentir!..
Co' suoi sospir confondere
per poco i miei sospir!...
Cielo, si può morir;
di più non chiedo.

Eccola... Oh! qual le accresce
beltà l'amor nascente!
A far l'indifferente
si seguiti così finché non viene
ella a spiegarsi.


in L'elisir d'amore, Donizetti, Gaetano; Atto secondo, Scena settima. Milano, Teatro della Canobbiana (12 May 1832) opera.stanford.edu
Imagem: Solanum dulcamara by Guido Gerding

outubro 03, 2009

Solanum



Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal
Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal
Ai menina, meu amor, minha flor do cafezal
Ai menina, meu amor, branca flor do cafezal
.
Era florada, lindo véu de branca renda
Se estendeu sobre a fazenda, igual a um manto nupcial
E de mãos dadas fomos juntos pela estrada
Toda branca e pefumada, pela flor do cafezal
.
Meu cafezal em flor, quanta flor do cafezal
Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal
Ai menina, meu amor, minha flor do cafezal
Ai menina, meu amor, branca flor do cafezal
.
Passa-se a noite vem o sol ardente bruto
Morre a flor e nasce o fruto no lugar de cada flor
Passa-se o tempo em que a vida é toda encanto
Morre o amor e nasce o pranto, fruto amargo de uma dor
.
Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal
Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal


in Flor do cafezal; Cascatinha e Inhana
Imagem: Reclaiming Lost Youth in portrait-gallery.net

setembro 06, 2009

Itália Canta



Faccetta Nera
M. Ruccione


Se tu dall'altipiano guardi il mare,
moretta che sei schiava fra gli schiavi,
vedrai come in un sogno tante navi
e un tricolore sventolar per te...

Faccetta nera,
bell' Abissina
aspetta e spera
che già l'ora s'avvicina!
Quando saremo
insieme a te
noi ti daremo
un'altra legge e un altro Re!

Faccetta nera, piccola Abissina,
ti porteremo a Roma, liberata.
Dai sole nostro tu sara i baciata,
sarai camicia nera pure tu.
Faccetta nera,
sarai romana.
La tua bandiera
sarà sol quella italiana!
Noi marceremo
insieme a te
e sfileremo
davanti al Duce e davanti ai re!


Essa canção difundiu-se rapidamente e teve um grande sucesso na metade dos anos trinta. Lançado como propaganda em 1935, foi depois proibida porque respondia mais ao espírito popular inclinado para a despreocupada ternura que aos deveres de uma nação guerreira e colonizadora. A canção cantava a amizade por uma raça que deveria ser considerada inferior.


in Itália Canta; Marrone, Fiore Giuseppe e Daiocchi, Emilio – Sagra Luzzatto – Porto Alegre, 1998
Imagem: Detalhe do pano de boca do palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, fundado em 1909. Ao centro, a imagem de D. Pedro II. Obra do artista Eliseu Visconti, recentemente restaurada. Foto: Anibal Bragança

agosto 07, 2009

Humor cinza


Foto: Divulgação/Governo SP
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julho 17, 2009

Seu Sami


HILAL SAMI HILAL. Instalação Sherazade (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda


HILAL SAMI HILAL. Instalação Biblioteca (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda.


HILAL SAMI HILAL. Instalação Biblioteca (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda.


HILAL SAMI HILAL. Instalação Biblioteca (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda.


HILAL SAMI HILAL. Instalação Biblioteca (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda.


Hilal Sami Hilal (Vitória, ES, 1952).
Vive e trabalha em Vitória, ES.

Capixaba de origem síria, Hilal Sami Hilal iniciou-se, nos anos 1970, no desenho e aquarela para depois decidir se aprofundar em técnicas japonesas de confecção do papel. A partir daí, com uma viagem ao Japão, sua pesquisa intensificou-se, resultando numa segunda viagem a esse país no final dos anos 1980. Cruzando influências culturais entre o Oriente e o Ocidente, entre a tradição moderna ocidental e a antiga arte islâmica, surgiram suas “rendas”. Confeccionadas com um material exclusivo, criado com celulose retirada de trapos de algodão e misturada com pigmentos, resina e pó de ferro e de alumínio, as rendas privilegiam a força gestual do artista. Que assim constrói a tela a partir de linhas que se cruzam, de cores que se revelam na mistura dos materiais e da sensação de ausência gerada pelos espaços em branco. O trabalho, colocado a curta distância da parede, beneficia-se das sombras projetadas, criando um rendilhado virtual. Algumas de suas obras são realizadas apenas com resina acrílica, criando o mesmo efeito visual. Esteve no Panorama da Arte Brasileira, MAM/SP, em 1998. Em 2007/2008 teve uma grande mostra de sua obra exposta no Museu da Vale, Vitória, Espírito Santo, com curadoria de Paulo Herkenhoff.


Imagens: