abril 30, 2009

Peito e Culhões


Há uma distinção médica clara. Todo ouvimos falar em alguém ter peito ou ter culhões, mas você sabe realmente a diferença entre ambos?  Vamos tentar esclarecer onde eles se diferenciam:

Peito — É chegar em casa tarde da noite, após uma balada com os amigos,  ser recebido por sua mulher segurando uma vassoura e ter peito de perguntar: "Ainda está limpando a casa ou vai voar para algum lugar?"

Culhões — É chegar tarde da noite em casa, após uma balada com os amigos, cheirando a perfume e cerveja, batom no colarinho, e ter culhões de dar um tapa na bunda da sua mulher e dizer "Você é a próxima, gorducha!"

Esperamos ter esclarecido qualquer confusão sobre as definições.

Porém, clinicamente falando, não há diferença no resultado.

Ambos terminam em morte.


in The Mail Box; by Cruvinel – Paracatu, 2009

abril 21, 2009

Ele



O coração nunca sabe
Dos acordos dos devassos

Abril de 1999


in Poetas devem jogar poemas no lixo; Lima, Nelson – Ed. do Autor – Rio de Janeiro, 2006
Ilustração: Guinigui over Duncan Hannah, "The Mournful Schoolgirl," Oil on canvas, 12 x 6 inches, 2004

abril 20, 2009

Doce de Flor de Laranjeira



Separem flores de laranjeira, bem novas e sadias, e ponham-nas de infusão em água fria, durante vinte e quatro horas.

A seguir escorram-lhes toda a água, e ponham as flores num alguidar, de modo que fiquem bem apertadas, e machuquem-nas lentamente. Tirem as flores do alguidar e coloquem-nas em outra vasilha com água fria. Logo que vierem à tona, ponham-nas de novo no alguidar e tornem a machucá-las de leve. Retirem então as flores do alguidar, levando-as para um tacho com água morna, onde ficarão abafadas com um pano. Depois de algum tempo escorram essa água, passem as flores por água fria, e cubram-nas novamente com outra morna. Continuem trocando a água, até que as flores percam totalmente sua acidez. A seguir coloquem as flores numa peneira e deixem-nas secar e esfriar, sempre cobertas com um pano. Façam uma calda de açúcar e acrescentem-lhe uma quantidade de mel de abelha igual a essa calda. Deixem ferver muito bem essa mistura, até que adquira o ponto de mel. Num outro tacho, coloquem seis medidas de calda e três de flor de laranjeira, levando o tacho ao fogo brando e mexendo sempre para o mesmo lado, bem devagar, para que as flores não se desfaçam. Ao mesmo tempo, com uma colher, vão derramando sobre elas um pouco de calda. Durante o cozimento tirem o tacho do fogo umas duas ou três vezes, repondo-o assim que a calda for ficando morna.

Para saber se as flores estão cozidas, provem-nas nos dentes. Se não rangerem, estarão boas. Se as flores ficarem muito secas, derramem-lhes mais um pouco de calda de mel e açúcar, antes de cozerem completamente. E, se depois de cozidas, estiverem com muita calda, retirem-lhes um pouco desta.

Tudo pronto, deitem o doce numa terrina de louça, e deixem-no esfriar, guardando-o depois em um lugar
fresco.


in Um Tratado da Cozinha Portuguesa do Século XV – Anônimo – Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro – s.d.
Ilustração: Guinigui

O anjo da simplicidade



"A minha vida é plena na simplicidade das minhas atitudes."


in Meditando com os Santos; Café, Sonia – Ed. Pensamento – São Paulo, 1997

Cruela Devil


 

Ínsula



“Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se vêem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do nosso país, os autores e os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma — usando do direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro.

O suplicante, deixando de parte os argumentos históricos que militam em favor de sua idéia, pede vênia para lembrar que a língua é a mais alta manifestação da inteligência de um povo, é a sua criação mais viva e original; e, portanto, a emancipação política do país requer como complemento e conseqüência a sua emancipação idiomática.

Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani, língua originalíssima, aglutinante, é a única capaz de traduzir as nossas belezas, de pôr-nos em relação com a nossa natureza e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos vocais e cerebrais, por ser criação de povos que aqui viveram e ainda vivem, portanto possuidores da organização fisiológica e psicológica para que tendemos, evitando-se dessa forma as estéreis controvérsias gramaticais, oriundas de uma difícil adaptação de uma língua de outra região à nossa organização cerebral e ao nosso aparelho vocal — controvérsias que tanto empecem o progresso da nossa cultura científica e filosófica.

Seguro de que a sabedoria dos legisladores saberá encontrar meios para realizar semelhante medida e cônscio de que a Câmara e o Senado pesarão o seu alcance e utilidade

P. e E. deferimento.”


Assinado e devidamente estampilhado, este requerimento do major foi durante dias assunto de todas as palestras. Publicado em todos os jornais, com comentários facetos, não havia quem não fizesse uma pilhéria sobre ele, quem não ensaiasse um espírito à custa da lembrança de Quaresma. Não ficaram nisso; a curiosidade malsã quis mais. Indagou-se quem era, de que vivia, se era casado, se era solteiro. Uma ilustração semanal publicou-lhe a caricatura e o major foi apontado na rua.

Os pequenos jornais alegres, esses semanários de espírito e troça, então! eram de um encarniçamento atroz com o pobre major. Com uma abundância que marcava a felicidade dos redatores em terem encontrado um assunto fácil, o texto vinha cheio dele: o Major Quaresma disse isso; o Major Quaresma fez aquilo.

Um deles, além de outras referências, ocupou uma página inteira com o assunto da semana. Intitulava-se a ilustração: “O matadouro de Santa Cruz, segundo o Major Quaresma”, e o desenho representava uma fila de homens e mulheres a marchar para o choupo que se via à esquerda. Um outro referia-se ao caso pintando um açougue, “O açougue Quaresma”; legenda: a cozinheira perguntava ao açougueiro:

— O senhor tem língua de vaca?

O açougueiro respondia: — Não, só temos língua de moça, quer?

Com mais ou menos espírito, os comentários não cessavam e a ausência de relações de Quaresma no meio de que saíam fazia com que fossem de uma constância pouco habitual. Levaram duas semanas com o nome do subsecretário.

Tudo isso irritava profundamente Quaresma. Vivendo há trinta anos quase só, sem se chocar com o mundo, adquirira uma sensibilidade muito viva e capaz de sofrer profundamente com a menor cousa. Nunca sofrera críticas, nunca se atirou à publicidade, vivia imerso no seu sonho, incubado e mantido vivo pelo calor dos seus livros. Fora deles, ele não conhecia ninguém; e, com as pessoas com quem falava, trocava pequenas banalidades, ditos de todo o dia, cousas com que a sua alma e o seu coração nada tinham de ver.

Nem mesmo a afilhada o tirava dessa reserva, embora a estimasse mais que a todos. Esse encerramento em si mesmo deu-lhe não sei que ar de estranho a tudo, às competições, às ambições, pois nada dessas cousas que fazem os ódios e as lutas tinha entrado no seu temperamento.

Desinteressado de dinheiro, de glória e posição, vivendo numa reserva de sonho, adquirira a candura e a pureza d’alma que vão habitar esses homens de uma idéia fixa, os grandes estudiosos, os sábios, e os inventores, gente que fica mais terna, mais ingênua, mais inocente que as donzelas das poesias de outras épocas.

É raro encontrar homens assim, mas os há e, quando se os encontra, mesmo tocados de um grão de loucura, a gente sente mais simpatia pela nossa espécie, mais orgulho de ser homem e mais esperança na felicidade da raça.


in O triste fim de Policarpo Quaresma; Barreto, Lima – Martin Claret – São Paulo,1999
Ilustração: Magritte at Pistol River – Robert Taylor – Oil on Canvas – 24 X 30 inches

abril 19, 2009

Um triz

Sathya Sai Baba


Agnaldo Timoteo

Notabilidades



in Almanak Administrativo, Mercantil E Industrial da Côrte e Provincia do Rio de Janeiro Inclusive a Cidade de Santos, da Provincia de S. Paulo, para o Anno de 1877 — Trigesimo Quarto Anno  (Segunda Serie em Formato Grande XXVII). (Fundação Biblioteca Nacional – Biblioteca Digital)

Casas Titulares do Imperio



Marquezes. 

Baependy. — Manoel Jacinto Nogueira da Gama, primeiro Marquez de Baependy e primeiro Visconde do mesmo titulo. Rio de Janeiro.

Cantagallo. — João Maria da Gama Freitas Berquó, primeiro Marquez de CantagalIo, primeiro Visconde e primeiro Barão do mesmo titulo. Europa. 
 
Cunha. — D. Francisco da Costa de Souza Macedo, primeiro Marquez da Cunha e primeiro Visconde do mesmo titulo. Europa. 

Itanhaem. — Manoel Ignacio de Andrade Souto Maior, primeiro Marquez de Itanhaem e primeiro Barão do mesmo titulo. Rio de Janeiro.

Maranhão. — Lord Cockrane, primeiro Marquez do Maranhão. Europa. 

Maricá. — Mariano José Pereira da Fonseca, primeiro Marquez de Maricá e primeiro Visconde do mesmo titulo. Rio de Janeiro.
 
Paranaguá. — Francisco Villela Barbosa, primeiro Marquez de Paranaguá e primeiro Visconde do mesmo titulo. Rio de Janeiro.

Quexeramoby. — Pedro Dias Paes Leme, primeiro Marquez de Quexeramoby e primeiro Visconde do mesmo titulo. Rio de Janeiro.

Recife. — Francisco Paes Barreto, primeiro Marquez do Recife e primeiro Visconde do mesmo titulo. Pernambuco. 

Rezende. — Antonio Telles da Silva, primeiro Marquez de Rezende e primeiro Visconde do mesmo titulo. Europa. 

S. João Marcos. — Pedro Dias Paes Leme, primeiro Marquez de S. João Marcos e primeiro Barão do mesmo titulo. Rio de Janeiro.

Santos. — Dona Domitila de Castro Canto e Mello, primeira Marqueza de Santos e primeira Viscondessa do mesmo titulo. S. Paulo.



in Almanaque Administrativo Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro para o Ano Bissexto de 1844 – Primeiro Anno – Publicado e á venda em casa de Eduardo e Henrique Laemmert, Rua da Quitanda, 77 – Rio de Janeiro, 1843 (Fundação Biblioteca Nacional – Biblioteca Digital)
Ilustração: Le Blanc – Reinações de Narizinho, Monteiro Lobato

Animais Peçonhentos e Venenosos



Lagartas, rugas, mandorovás, marandovás, bicho cabeludo e taturanas identificam lagartas (larvas) de lepidópteros vulgarmente conhecidas como borboletas, de hábitos diurnos, ou mariposas, de hábitos noturnos. Os acidentes com lagartas de vários gêneros são comuns em todo o Brasil.

A lagarta Lonomia ou simplesmente taturana, como é mais conhecida no sul do país, apresenta coloração marrom-esverdeada com listras longitudinais marrom-escuro e amarelo-ocre, cabeça cor de caramelo e espinhos ramificados e pontiagudos, em forma de “pinheirinhos” ao longo do dorso. Chegam a medir de 6 a 7cm. Dados das Regiões Sul e Sudeste indicam que existe uma sazonalidade na ocorrência desses acidentes, que se expressa mais nos meses de verão (novembro a março) e que vários fatores são responsáveis pelo crescimento desta espécie no sul do país, como o desmatamento, condições climáticas favoráveis, diminuição dos predadores e adaptação deste agente a espécies vegetais exóticas ao meio. As lagartas alimentam-se de folhas, principalmente de árvores e arbustos. A intoxicação ocorre pelo contato com as cerdas ou espículas da lagarta. O veneno está nos espinhos e atua no sangue provocando falta de coagulação. A manifestação inicial é dor e irritação imediatas no local atingido; dor de cabeça e náuseas; sangramentos através da pele, gengiva, urina, pequenos ferimentos, nariz. A vítima pode ter hemorragias que podem levar à morte.

Tratamento

Lavagem da região com água corrente e compressas frias, anti-histamínico oral, creme de corticóide local e analgésicos, se necessário.

Medidas Preventivas

Olhar, atentamente, para as folhas e troncos de árvores, evitando contato com as taturanas.
Verificar presença de folhas roídas, casulos ou pupas e fezes de lagartas no solo.
Usar luvas quando manipular troncos, árvores frutíferas ou em atividades de jardinagem.
Em caso de dúvida ligue para o Centro de Intoxicações de sua região.

Ligação Gratuita

0800 780 200
0800 410 148
0800 148 110
0800 284 4343
0800 643 5252
0800 771 3733


in Série Prevenindo Intoxicações – Lagartas; Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ  – s.d. 

abril 15, 2009

Cerimônia Memorial



Onde fica o cemitério dos deuses mortos? Algum enlutado ainda regará as flores de seus túmulos? Houve uma época em que Júpiter era o rei dos deuses, e qualquer homem que duvidasse de seu poder era ipso facto um bárbaro ou um quadrúpede. Haverá hoje um único homem no mundo que adore Júpiter? E que fim levou Huitzilopochtli? Em um só ano — e isto foi há apenas cerca de quinhentos anos — 50 mil rapazes e moças foram mortos em sacrifício a ele. Hoje, se alguém se lembra dele, só pode ser um selvagem errante perdido nos cafundós da floresta mexicana. Huitzilopochtli, como muitos outros deuses, não tinha um pai humano; sua mãe era uma virtuosa viúva; nasceu de um inocente flerte dela com o sol. Quando ele resmungava, seu pai, o sol, ficava quieto. Quando trovejava de ira, terremotos engoliam cidades inteiras. Quando tinha sede, era saciado por 5 mil litros de sangue humano. Hoje, Huitzilopochtli está tão esquecido quanto Allen G. Thurman. Para quem já teve como seus pares Alá, Buda e Wotan, seus colegas atualmente são Richmond P. Robinson, Alton B. Parker, Adelina Patti, Tom Sharkey e o general Weyler, sejam quem forem.

Falando em Huitzilopochtli, logo vem à memória seu irmão Tezcatilpoca. Tezcatilpoca era quase tão poderoso: devorava 25 mil virgens por ano. Levem-me a seu túmulo: prometo chorar e depositar uma couronne des perles. Mas quem sabe onde fica? E onde fica o túmulo de Quitzalcoatl? Ou o de Xiehtecutli? Ou o de Centeotl, aquela gracinha de deus? Ou o de Tlazolteotl, a deusa do amor? Ou o de Mictlan? Ou o de Xipe? Ou os restos de Tzitzimitles? Onde estão seus ossos?  Onde fica o salgueiro onde eles penduraram suas harpas? Em qual Inferno perdido e desconhecido esperam pela ressurreição? Quem desfruta suas heranças? E onde fica o túmulo de Dis, de quem César dizia que era o principal deus dos celtas? Ou o de Tarves, o touro? Ou o de Moccos, o porco? Ou o de Bpona, a égua? Ou o de MuHo, o asno celestial? Houve uma época em que os irlandeses reverenciavam todos esses deuses, mas hoje até o mais bêbado deles só consegue rir disto.

Mas eles têm companhia no oblívio: o Inferno dos deuses mortos é tão superlotado quanto o Inferno presbiteriano para bebês. Damona está num deles, assim como Bsus, Drunemeton, Silvana, Dervones, Adsalluta, Deva, Belisama, Uxellimus, Borvo, Grannos e Mogons. Todos deuses poderosos em seu tempo, adorados por milhões, cheios de exigências e imposições, todos capazes de unir e desunir — enfim, deuses de primeira classe. Durante gerações, os homens trabalharam para construir-lhes vastos templos — cada qual com pedras do tamanho de um bonde. O trabalho de interpretar os seus caprichos ocupava milhares de sacerdotes, bispos e arcebispos. Desafiá-los significava a morte, geralmente na fogueira. Os exércitos os defendiam contra os infiéis: cidades eram queimadas, mulheres e crianças chacinadas, seu gado afugentado. No fim das contas, no entanto, todos declinaram e morreram, e, hoje, não se encontra uma única alma penada para reverenciá-los.

O que terá acontecido a Sutekh, antigo deus de todo o vale do Nilo? O que terá acontecido a:
 
Resheph — Baal — Anath — Astarte — Ashtoreth — Hadad — Nebo — Dagon — Melek — Yau — Ahijah — Amon-Ra — Ísis — Osíris — Ptah — Molech'?

Todos estes foram deuses da mais alta eminência. Muitos são mencionados com temor e respeito no Velho Testamento. Há 5 ou 6 mil anos, estavam taco a taco com o próprio Jeová, e  o mais galinha-morta de todos era muito superior a Thor. Pois foram todos para o nada e, com eles, os seguintes:

Arianrod — Morrigu — Govannon — Gunfled — Dagda — Ogyrvan — Dea Dia — Iuno Lucina — Saturno — Furrina — Cronos — Engurra — Belus — Ubilulu — U-dimmer-an-kia — U-sab-sib — U-Mersi — Tammuz — Vênus — Beltis — Nusku — Aa — Sin — Apsu — Elali — Mami — Zaraqu — Zagaga — Nuada Argetlam — Tagd — Goibniu — Odim — Ogma — Marzin — Marte — Diana de Éfeso — Robigus — Plutão — Vesta — Zer-panitu — Merodach — Elum — Marduk — Nin — Perséfone — Istar — Lagas — Nirig — Nebo — En-Mersi — Assur — Beltu — Kuski-banda — Nin-azu — Qarradu Ueras

Peça ao seu vigário que lhe empreste um bom livro sobre religião comparada: você encontrará todos eles devidamente listados. Todos foram deuses da mais alta dignidade — deuses de povos civilizados —, adorados e venerados por milhões. Todos eram onipotentes, oniscientes e imortais. E todos estão mortos. 

— 1922


in O Livro dos Insultos; Méncken, H. L.; seleção, tradução e prefácio Ruy Castro – Companhia das Letras – São Paulo, 1988.
Ilustração: 32, 38, 40, 48 por Guinigui

abril 14, 2009

Pimentel



O nome pimenta vem da forma latina pigmentum, “matéria corante”, que no espanhol virou pimienta, passando depois ao entendimento contemporâneo como “especiaria aromática”.

É importante saber que as pimentas eram utilizadas na medicina e na culinária muito antes de Hipócrates, que viveu por volta do século 5 a.C. Já na antiga medicina tibetana e aiurvédica, médicos sacerdotes, e a própria população, utilizavam os poderes medicinais para tratar as múltiplas enfermidades. Nos livros sagrados da medicina aiurvédica — famosa por suas composições ardidas — figuram diversas fórmulas em que as pimentas constituem elementos importantes. Segundo o conhecimento da medicina indiana antiga, as plantas pungentes (ardidas) combatem o excesso de mucosidades acumuladas no organismo, eliminam toxinas (ama) e tonificam a energia vital. Mas não apenas na medicina indiana vamos encontrar as pimentas como recursos medicinais. Na medicina chinesa antiga são inúmeros os métodos de tratamento com pimenta, o mesmo acontecendo na medicina egípcia, mesopotâmica, persa, e depois árabe que, com a expansão do Islã, difundiu a sua avançada medicina por praticamente todo o mundo.

A pimenta figura como um importante recurso medicinal em todos os sistemas médicos conhecidos e em todas as culinárias do planeta. Pela sua capacidade de produzir calor e rubor, sempre foi considerada um excelente afrodisíaco e, como tal, sempre parece ter cumprido a sua missão. Por esse motivo, a utilização da pimenta como condimento foi proibida para monges, sacerdotes, discípulos e religiosos celibatários, de modo a evitar o estímulo do desejo sexual.


Povos que utilizam regularmente a pimenta são conhecidos por sua fertilidade, como os indianos e os chineses. A região italiana da Calábria, onde um tipo de pimenta semelhante à nossa malagueta (não é a “pimenta calabresa”, pois ela não existe como pimenta isolada, mas sim como mistura de pimentas vermelhas, diferentes da pequena malagueta, tais como a dedo-de-moça, ou chifre-de-veado, conforme veremos adiante) é utilizada em grande quantidade na alimentação, os homens possuem quantidades de espermatozóides bem superiores à média mundial. Com base nisso, existe um bom recurso da Medicina Tradicional para combater a esterilidade masculina e a baixa quantidade de espermatozóides: a ingestão de uma a duas pimentas pequenas (tipo malagueta) por dia, às refeições, sem mastigar, como se fossem pílulas.

Tratados médicos persas antigos, certamente como herança da medicina aiurvédica, recomendavam a ingestão de pimenta para combater dores musculares e dores de cabeça, o que criou a tradição de se adotar as pimentas como condimento para combater a enxaqueca, atualmente.

Estudos mostram que a pimenta, por seu poder anti-séptico e protetor, fazia parte das fórmulas para o embalsamamento de múmias no Egito. Entre os povos pré-colombianos na América (incas, astecas, maias, tupis, guaranis etc.), plantas picantes sempre foram utilizadas como alimento e como remédio.
 


As pimenteiras do gênero Capsicum são nativas da América, mas sua origem exata é controversa: alguns pesquisadores acreditam que elas surgiram na Bacia Amazônica, enquanto outros afirmam que elas se originaram na América Central ou ainda no México. Na América, as pimentas parecem ter surgido há 7.000 anos a.C. na região do México Central. As primeiras pimentas consumidas foram coletadas provavelmente de plantas selvagens, o que coloca as pimentas entre as plantas cultivadas mais antigas das Américas. Os americanos pré-históricos cultivaram a pimenta selvagem piquin, que se multiplicou geneticamente nos vários tipos de pimenta hoje conhecidos. Elas podem ter sido usadas pelos nativos indígenas como um medicamento, uma prática comum entre os maias. Os astecas já tinham desenvolvido muitos tipos de pimenta, seja como remédio, ou como tempero.

Uma das principais características culturais das tribos indígenas que habitavam as terras brasileiras na época do Descobrimento era o cultivo de pimentas. Após o Descobrimento, as sementes e frutos de pimentas passaram a ser cada vez mais cultivados, disseminados entre vários povos, utilizados de diversas formas. Algumas dezenas de variedades dessas pimentas são produzidas no Brasil, e mesmo sendo um cultivo ainda de maneira rústica, é um mercado que movimenta em torno de 80 milhões de reais por ano, incluindo o consumo interno e as exportações.


in Pimenta e seus benefícios à saúde; Bontempo, Marcio – Editora Alaúde – São Paulo, 2007
Fotos: Internet

abril 12, 2009

O sistema algébrico de anotação

O sistema algébrico para anotar partidas de xadrez é hoje o mais popular em todo o mundo e assemelha-se ao utilizado no conhecido jogo da batalha naval. 

As colunas são definidas por letras, e as linhas por números. O tabuleiro é, portanto, um quadro de dupla entrada (matriz) em que cada casa correspondente a um par ordenado (letra-número).

Na anotação dos lances a letra maiúscula indica a figura (T torre, B bispo, etc.) que se moveu. O par letra-número representa o ponto para onde a referida figura se moveu. Por exemplo, 7. Cxf2 Db3+: no sétimo lance das brancas o cavalo jogou para "f2", capturando a peça (ou peão) que lá se encontrava; na resposta, as pretas deslocaram a dama para "b3", com xeque.

Nas jogadas de peão anota-se apenas a casa de chegada: 10. ...a5 quer dizer que na décima jogada as pretas deslocaram um dos seus peões para "a5".

Quando um peão captura, indica-se apenas a sua coluna original e o escaque onde tomou (11. exf5, por exemplo). Não se especifica se a captura foi na passagem.

A figura escolhida numa promoção de peão e indicada após o lance e o sinal de igual (63. h8=D, por exemplo).

No caso de duas peças idênticas poderem atingir a mesma casa (por exemplo o caso de dois cavalos pretos em "c6" e "f7" para a jogada Ce5), para não haver dúvidas sobre qual delas se moveu, a anotação contém uma referência da casa inicial (5. ...Cce5 para o cavalo de "c6", ou 5. ...Cfe5 para o "Cf7").

Se as duas figuras estão na mesma coluna o diferenciador será a linha de onde sai (por exemplo 9. T1xd2, ou 9. T7xd2).

Na posição inicial as peças brancas colocam-se nas linhas 1 (peças nobres) e 2 (peões). As negras nas linhas 7 e 8. Antes do jogo deve, portanto, verificar-se se o rei branco esta em "e1" e o rei negro em "e8".

0-0 significa pequeno roque.
0-0-0 significa grande roque.

O diagrama seguinte ilustra os exemplos apontados.
 

 
Simbolos utilizados

+= Ligeira vantagem das brancas.
=+ Ligeira vantagem das pretas.
± Clara superioridade das brancas.
Ŧ Clara superioridade das pretas.
+- As brancas têm vantagem decisiva.
-+ As pretas têm vantagem decisiva.
= Posição equilibrada.
! Bom lance.
!! Lance excelente.
? Mau lance.
?? Erro grave.
!? Lance interessante.
?! Lance de valor duvidoso.
+ Xeque.
++ Xeque mate.
1:0 Vitória das brancas.
0:1 Vitória das pretas.
½:½ Empate.


in Kasparov, percurso do jovem campeão; Santos, Luís – Colecção Desporto e Tempos Livres – Editorial Caminho – Alfragide, 1984

abril 10, 2009

Grupos das Peçonhentas no Brasil

Botrópico (Jararacas)

Serpente de até 1,6 m (Bothrops jararaca), encontrada no Brasil (BA ao RS) e em regiões adjacentes no Paraguai e Argentina, de corpo marrom com manchas triangulares escuras, faixa horizontal preta atrás do olho, e região ao redor da boca com escamas de cor ocre uniforme; jararaca-da-mata, jararaca-do-campo, jararaca-do-cerrado, jararaca-dormideira, jararaca-preguiçosa, jararaca-verdadeira [É responsável por grande parte dos acidentes ofídicos registrados em sua área de ocorrência.]





Serpente de até 1,15 m (B. neuwiedi) encontrada no Brasil, Paraguai, Bolívia, Uruguai e Argentina, de coloração variável entre cinza, marrom ou pardo de acordo com a subespécie, com manchas triangulares escuras, margeadas de claro, e indivíduos jovens com a ponta da cauda branca [sin.: boca-de-sapo, bocuda, jararaca-cruzeira, jararaca-do-rabo-branco, jararaca-pintada, jararaquinha, rabo-de-osso, tirapéia, urutu]
 







Laquético (Surucucus) 

Serpente venenosa da fam. dos viperídeos (Lachesis muta), encontrada da América Central ao Norte da América do Sul, e nas matas do Leste brasileiro (de PE ao RJ); de grande porte, pode alcançar 2 m ou mais de comprimento, e apresenta colorido marrom-amarelado com grandes manchas triangulares pretas; cobra-topete, surucucu-de-fogo, surucucu-pico-de-jaca, surucucutinga, surucutinga [É a maior serpente venenosa da América do Sul.]
 



Crotálico (Cascavéis)

Serpente venenosa, da fam. dos viperídeos (Crotalus durissus), encontrada do México à Argentina, com cerca de 1,5 m de comprimento, coloração castanha com losangos verticais, escuros e marginados de claro, cauda com um chocalho ou guizo na ponta; boicininga, boiçununga, boiquira, cascavel-de-quatro-ventas, maracá, maracabóia [No Brasil ger. encontrada em regiões secas.]
 





Elapídico (Corais)

Design. comum às serpentes venenosas do gên. Micrurus, da fam. dos elapídeos, encontradas do Sul dos Estados Unidos à Argentina; de comprimento variável, as maiores spp. podem alcançar 1,5 m de comprimento, corpo colorido, ger. uma combinação de anéis vermelhos, amarelos e pretos; cobra-coral-venenosa, coral-venenosa, coral-verdadeira, ibiboboca, ibiboca, ibioca
 


Serpente venenosa (Micrurus corallinus), encontrada no Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, com até 95 cm de comprimento, corpo com anéis vermelhos, brancos e pretos, cabeça e cauda predominantemente pretas [Vive em buracos no solo ou sob folhas secas no chão das matas.]
 



Referências em: Instituto Butantan e Houaiss
Imagens: Internet