abril 30, 2007

Segredo


— Sabe, disse ele ao visconde, que o colega fez a maior coisa que ainda foi feita nos domínios da ciência? Sabe que resolveu problemas tremendos, e que daqui por diante a ciência vai basear-se nestas suas maravilhosas experiências?
O visconde alisou as palhinhas de milho do pescoço e agradeceu modestamente o elogio.
— Quero ver o seu laboratório, disse o doutor. Deve ser a maravilha das maravilhas.
Mas quando foi à Cova do Anjo e viu que o maravilhoso laboratório não passava dum buraco na figueira, com um microscópio feito dum velho binóculo sem vidro, uma lamina Gillette, umas agulhas e uns algodõezinhos, ficou sem saber a que pensar, nem o que dizer. Aquilo era positivamente o assombro dos assombros, o espanto dos espantos.
— Não entendo, disse, ele. Parece-me de todo impossível que com estes rudimentaríssimos recursos o visconde conseguisse os prodigiosos resultados que conseguiu. Não entendo. E creio que se eu ficar por aqui mais uns dias, acabarei louco. Cada vez mais me espanto com as coisas que vejo...
— Não se afobe, doutor, disse Emilia. O nosso segredo é o Faz-de-Conta. Não há o que não se consiga quando o processo aplicado é o Faz-de-Conta. O nosso grande segredo é esse.
O barbudo sábio ficou na mesma, com perfeita cara de asno, e mais uma vez murmurou:
— Não entendo...
— Pois faça de conta que entende, doutor, e vamos tomar o café. Agora é com pipoca... concluiu Emilia, puxando-o pela aba do paletó.

in O espanto das gentes; Lobato, Monteiro – Companhia Editora Nacional – São Paulo, sd – Ilustração de J. U. Campos

Oficial


Após a reforma e reinauguração do edifício que abriga a Oficina da Palavra, em dezembro de 2006, a proposta da primeira programação em 2007 é uma série de quatro apresentações, dentro do projeto "Palavra em Cena", que acontecerão nos meses de maio e junho próximos. O principal intuito do projeto Palavra em Cena é apresentar a leitura de textos literários, dramatúrgicos ou roteiros, para fortalecer a palavra falada, com a finalidade de formar público, tanto para a literatura e a poesia, quanto para as áreas de artes cênicas. O projeto comporta desde espetáculos de curta duração (no máximo 50 minutos) até a leitura de textos literários, poesias ou de espetáculos em preparação ou ensaio. Apresenta autores novos, clássicos revisitados ou traduções e adaptações. Depois da apresentação abre-se um debate com o público, discutindo e informando sobre o texto, autor, apresentação ou leitura realizada. Nas edições anteriores o projeto Palavra em Cena trouxe, entre outros, textos de autores como Manuel Bandeira, Lya Luft, Machado de Assis, Hilda Hilst, Nelson Rodrigues, Frreira Gullar, além de Mário de Andrade.
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in Programação do 1º Semestre das Oficinas Culturais do Estado de São Paulo

abril 27, 2007

discussão poética



sábado, menino
é sempre esta porrada
essa dor enferrujada
na janela
esse mundo de desejos
pendurados
...............sábado, homem
...............é mesmo este lugar — comum
...............esta sede
...............de tua boca molhada
sábado, poeta
— me perdoe —
é sempre esta mão espalmada
bem no rosto da palavra

in Anjos clandestinos; Machado, Lizete Mercadante – Proposta – São Paulo, 1981

Para ler la pierre


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abril 24, 2007

Topaza pella



Beijo

Símbolo de união e de adesão mútuas que assumiu, desde a Antiguidade, uma significação espiritual. No Zohar, encontramos uma interpretação mística do termo beijo. Sem dúvida, a fonte do comentário desse termo é o texto do Cântico dos Cânticos (I, 1). No entanto, existe uma segunda fonte que provém da concepção rabínica segundo a qual certos justos, tal como Moisés, foram poupados da agonia e da morte, tendo partido do mundo terrestre no arroubo extático do beijo de Deus (VAJA, 210).

A esse respeito, Georges Vadja cita um texto do Zohar relativo ao beijo divino: — Que ele me beije com beijos de sua boca — Por que empregará o texto essa expressão? Na verdade, ela significa adesão de espírito a espírito. É por isso que o órgão corporal do beijo é a boca, ponto de saída e fonte do sopro. Do mesmo modo, é pela boca que são dados os beijos de amor, unindo (assim) inseparavelmente espírito a espírito. É por esta razão que aquele cuja alma sai no beijar, adere a um outro espírito, a um espírito do qual ele não se separa mais; esta união chama-se beijo. Ao dizer: "que ele me beije com beijos de sua boca", a Comunidade de Israel pede essa adesão inseparável de espírito a espírito...

Os comentaristas do Cântico dos Cânticos, quer se trate dos Padres da Igreja ou dos autores da Idade Média, interpretam o beijo num sentido idêntico. Para Guillaume de Saint-Thierry, o beijo é o signo da unidade. O Espírito Santo pode ser considerado como procedente do beijo do Pai e do Filho; a Encarnação é o beijo entre o Verbo e a natureza humana; a união entre a alma e Deus durante a vida terrena prefigura o beijo perfeito que se realizará na eternidade. Bernard de Clairvaux, também em seu comentário sobre o Cântico dos Cânticos, fala longamente do osculum que resulta da unitas spiritus. Só a alma-esposa é digna de ambos. O Espírito Santo, dirá São Bernardo, é o beijo da boca, trocado entre o Pai e o Filho, beijo mútuo de igual para igual e somente a eles reservado. O beijo do Espírito Santo no homem, que reproduz o beijo da deidade trinitária, não é e não pode ser o beijo da boca, mas um beijo que se reproduz, se comunica a um outro: o beijo do beijo, a réplica no homem do amor de Deus, a caridade de Deus tornada caridade do homem por Deus, semelhante, quanto ao objeto e ao modo do amor, à caridade que Deus tem por si mesmo. Segundo São Bernardo, o homem encontra-se, de certa maneira, no meio do beijo e do abraço do Pai e do Filho, beijo que é o Espírito Santo. Assim, pelo beijo, o homem está unido a Deus e, assim também, deificado.

Na qualidade de signo de concórdia, de submissão, de respeito e de amor, o beijo era praticado pelos iniciados no Mistério de Ceres: era testemunho de sua comunhão espiritual. Em um sentido idêntico, São Paulo o recomenda (Romanos, 16, 16). Saudai-vos mutuamente com um santo beijo. Todas as igrejas do Cristo vos saúdam. Na Igreja primitiva ainda estava em uso. lnocêncio I substitui esse costume por uma placa de metal (Pax), que o celebrante beija e faz beijar, dizendo Pax tecum. Essa placa, mais tarde denominada de pátena, permanecerá em uso. Existe ainda o costume de beijar as relíquias de santos expostas à veneração dos fiéis.

Na Antiguidade, beijava-se os pés e os joelhos dos reis, dos juizes, dos homens que gozassem de uma reputação de santos. Beijavam-se as estátuas, a fim de implorar sua proteção.

Na Idade Média, no direito feudal, o vassalo era obrigado a beijar a mão de seu Senhor: daí a expressão beija-mão, que significa render homenagem.

Nos antigos rituais concernentes à cerimônia de ordenação dos padres e à da consagração das virgens, faz-se alusão ao beijo dado pelo bispo. Por razões de decência, essa efusão foi suprimida para as virgens, e a monja devia apenas pousar seus lábios na mão do prelado. Na sociedade feudal, o beijo provocava freqüentes dificuldades quando era uma dama quem recebia ou oferecia a homenagem. Símbolo de união, o beijo guardava, com efeito, a polivalência e a ambigüidade das inumeráveis formas de união (DAVS).


in Dicionário de símbolos; Chevalier, Jean; Gheerbrandt, Alain – José Olympio – Rio de Janeiro, 1990

Terraço


Casa degli Alighieri

È sita in Piazza S. Martino ed è circondata da altre casupole. Nulla di notevole porta, ed anzi si è pensato a lavori di demolizione e restauro per darle la sua primitiva forma.

in Ricordo di Firenze

Magia de amor com os livros



Se quiser dar um presente a uma pessoa de seu interesse, escolha um livro que, sendo feito de papel e tinta, se presta a se tornar um ótimo e insuspeito talismã para atrair o amor.
Compre-o em uma sexta-feira e exponha-o por sete noites aos raios de Vênus, do entardecer ao nascer do sol.
Nessas noites você deverá dormir colocando embaixo do travesseiro um pedaço de seda vermelha ou verde, conforme o seu interesse seja mais carnal ou espiritual. Antes de adormecer, pense naquilo que deseja conseguir.
Na oitava noite, embrulhe o livro na seda e exponha-o à luz de uma vela vermelha ou verde, conforme a cor que foi escolhida. Pronuncie as seguintes palavras, mantendo as mãos apoiadas no livro e os olhos fixos na chama da vela:
"Você, Y., coloque-me em seu braço, coloque-me em seu coração, visto que forte como a morte é o amor".
Deixe a vela acesa a noite toda e, no dia seguinte, presenteie o livro enfeitiçado.

in O manual da autêntica bruxa; Maura – Best Seller – São Paulo, 1994

abril 23, 2007

Dasypus novemcinctus



Laszlo



Madrugada, 10 de junho de 1866

...Já há um brilho no céu com a chegada do alvorecer. A silhueta da cidade, a princípio não mais que uma sombra contra a escuridão maior, agora está clara, e a qualquer momento vai adquirir dimensão e substância. Pela janela, ouvi sons de pessoas bocejando e começando a cuidar de suas vidas. Uma cozinheira bate panelas enquanto as lava. Embaixo um cão late para alguém passando a pé. Nada faz-me sentir o quanto a vida é curta como a madrugada de um novo dia. É justamente
seu caráter comum e repetitivo que a toma tão preciosa.
...O tempo está passando. Cada som tem um valor inestimável. Sinto e vejo isso com uma acuidade que meus sentidos nunca tiveram. Anseio por sensações. Luto para possuir cada momento. Quero retardar o processo em meu corpo, deter o maldito parasita que nada em meu sangue. Agora eu existo para ele. Sou sua casa. Lentamente, ele tomará o controle de mim. Em dez anos, quinze no máximo, estarei morto ou louco. E, enquanto isso, posso esperar qualquer uma das centenas de manifestações desta doença, todas humilhantes, debilitantes. Graças a Deus não se exige que eu tenha herdeiros. Já vi filhos da sífilis: dementes, de nariz amassado, como símbolos do pecado dos pais.
...Examinei-me assim que deixei Roland. Examinei meu corpo à procura do cancro, mas não encontrei nada. Fiquei dolorido de apalpar à procura de nódulos linfáticos na virilha. O do lado esquerdo está um pouco maior, mas tão pouco que não posso dizer que seja anormal. É cedo demais para o parasita já ter dado sinais de sua presença. Ele precisa de tempo. Vou esperar, mas não posso permitir-me a indulgência da esperança. Não há cura para a sífilis, e não vou iludir-me por causa disso, nem submeter-me aos charlatães ou aos curandeiros, até ficar sem dinheiro nem dignidade.
...Vou me matar quando chegar a hora. Mas não agora. Até o momento chegar — eu o perceberei? — sou um novo homem. Enquanto conservo minhas faculdades, vou viver cada momento, levar as sensações ao máximo de intensidade, seguir cada impulso da minha natureza ao longo de seu tortuoso trajeto. Tenho medo de agarrar-me exageradamente à vida e deixá-la tarde demais.
...Saberei quando?
...Sim!
...Como?

in A vida secreta de Lazlo, Conde Drácula; Anscombe, Roderick – Best Seller – São Paulo, 1994

P



Porra. “Cacete, pau, bastão, bengala forte, clava. Do Latim, porrum, allium porrum, alho grande, alho de cabeça grande. O nome foi dado a este bastão, a esta clava, por causa da forma, pois termina numa protuberância, numa cabeça quase sempre encastoada de metal para maior resistência e peso na pancada, tal como o porro, alho, que embora tenha a haste delgada, termina pela cabeça a que se dá o nome de alho. Por causa dessa mesma semelhança houve tempo em que na gíria, se dava o nome de porra ao membro viril. Continuando ainda a metáfora, porque o alho porro produz líquido alvacento, de cheiro acre e rapidamente coagulável, se passou a designar, na linguagem chula do povo o esperma humano com o mesmo nome de porra”, registra Silveira Bueno (3). Abons.: 1. “— Mané: é o que, porra!” [BUARQUE DE HOLANDA, Chico. Roda viva. Rio de Janeiro, Sabiá, 1968, p. 46J; 2. A nova geração usa a interjetiva Porra! na sua abreviação ! Veja Pô; 2. “Que ainda pouco morreu” (diz a Gazeta) “Entre mil porras expirou vaidosa” [PIMENTEL MALDONADO, João Vicente. (Portugal: 1773-1838), “Soneto”, in Poesia portuguesa erótica e satírica (Séculos XVIII-XIX). Portugal, Edições Afrodite, 1975, p. 249).
Porrada. “Grande quantidade”, registra Tomé Cabral (6). Abon.: “O pintor que pintou meu irmão tinha lá as modelos dele. Meu irmão disse que era uma porrada de meninas lindas” [FAGUNDES TELLES, Lygia. O jardim selvagem. São Paulo, Editora Três, 1974, p. 31).
Porra-louca. “Bras. Chulo. Pessoa, ou diz-se de pessoa, que age de maneira inconseqüente, irrefletida, que não tem noção de responsabilidade", registra Aurélio Buarque de Holanda (2).
Porreta. Significa tudo o que é muito bom: uma fita porreta, um livro porreta, uma garota porreta (Sul, Nordeste).
Porrete. Órgão sexual masculino (Sul, São Paulo).
Porta-bagagem. “Ânus da mulher” (Portugal), registra Albino Lapa (62).
Porta-de-serviço. Ânus (Sul, Rio de Janeiro). Abon.: "A sorte deles (pederastas) é que a entrada é pela porta-de-serviço” [LESSA, Orígenes. Beco da fome. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1972, p. 40).
Porta-seio. “Sutiã”, registra Aurélio Buarque de Holanda (2).
Porteira-do-mundo. Órgão genital feminino (Nordeste).
Porvarino. “O ânus” (Nordeste), registra Edilberto Trigueiros (73).
Possuídos. Partes genitais (Norte); pertences (Nordeste).
Pote. “Ventre da mulher grávida” (Nordeste, Bahia), registra Fernando São Paulo (9).
Pra-burro-velho-capim-novo. “Justificativa de velho que se casa com mulher jovem” (Nordeste), registra Leonardo Mota (38).
Pra-nós. “Nádegas” (Sul), registra E. d’Almeida Vitor (66).

in Dicionário do palavrão e termos afins; Maior, Mário Souto – Guararapes – Recife, 1980

C



CABO. Extremidade do osso da perna de carneiro, porco, cabrito.
CABRITO DE LEITE. Cabrito novo.
CAMOESAS, CAMOESES. Diz-se de uma variedade de maçãs e pêras.
CANA. Pau atravessado na cozinha, onde se penduram alguns preparados para secar.
CANADA. Medida de capacidade equivalente a 2,6 litros aproximadamente.
CAPELA. Reunião de cheiros e temperos inteiros em ramalhetes ou picados e arranjados com simetria, conforme exigir o prato.
CARACÓIS. Animalejo de concha, comum na hortas.
CARIL (Curry). Condimento indiano que contém várias especiarias, inclusive açafrão, que dá sua cor amarelo forte.
CAROLO. Espiga de milho debulhada.
CASTÓREO. Substância aromática segregada por glândulas do ventre de castor.
CENTÁUREA. Erva medicinal muito amarga.
CHAMUSCAR. Expor ligeiramente ao fogo uma ave ou caça para queimar a penugem ou pelagem.
CHAPELAR. Ralar a crosta do pão.
CHEIROS. Salsa, cebolinha verde, louro, cerefólio e outros.
CINCHO DE PAU. Molde para a confecção de queijo que acompanha no prato certos queijos muito moles.
CLARIFICAR. Branquear, tornar mais claros a manteiga e o açúcar.
COALHO DE CABRITO. Pele interna do estomago do cabrito que serve para fazer coalhar o leite.
CÔDEA DE PÃO. Parte externa dura, crosta ou casca de pão.
CODORNIZ OU CODORNA. Ave de arribação que, preparada, torna-se prato delicado.
CORÇA. Fêmea do veado.
COVILHETE. Pratinho raso ou tigelinha para doces.
CULI. Termo aportuguesado do coulis francês, caldo muito usado em culinária. Veja a receita do Culi comum (ou básico) em Molhos.
CUTELO. Facão de cozinha.

in O cozinheiro imperial; R.C.M. – Nova Cultural – São Paulo, 1996

Biografia



Nasci na maternidade Pró-Matre no coração de São Paulo há 46 anos. Piva é um antigo nome do Veneto (Itália do Norte). Meu avô era de Saleto, perto de Rovigo.

O Livro da Família, que tinha lá em casa, conta a história de um antepassado cavaleiro que combateu nas Cruzadas. Como o avô Cacciaguida de Dante. Só que ao voltar das Cruzadas virou herético & começou a pregar a favor do Demônio. Por ordem do bispo local, foi queimado na praça pública com armadura & tudo. No momento, deve estar passando uma temporada na IX Bolgia do Inferno de Dante. Local destinado aos semeadores de discórdia. Os filhos fugiram da cidade & a descendência continuou.

Mas em matéria de revolta eu não preciso de antepassados. A minha vida & poesia tem sido uma permanente insurreição contra todas as Ordens. Sou uma sensibilidade antiautoritária atuante. Prisões, desemprego permanente, epifanias, estudo das línguas, LSD, cogumelos sagrados, embalos, jazz, rock, paixões, delírios & todos os boys. O cinema holandês informará.

Só acredito em poeta experimental que tenha vida experimental. Não tenho nenhum patrono no “Posto”, nem leões-de-chácara & guarda-costas literários nas redações de jornais & revistas. Nada mais provinciano do que os clubinhos fechados da poesia brasileira, com seus autores-burocratas tentando restaurar a Ordem & cagando Regras que o futurismo, dadaísmo, surrealismo & modernismo já se encarregaram de destruir. A estes neo-zhdanovistas de todos os matizes, gostaria de lembrar esta passagem do manifesto redigido por André Breton & Leon Trotsky: “Em matéria de criação artística, importa essencialmente que a imaginação escape a toda sujeição, não se deixe impor filiação sob nenhum pretexto. Aqueles que nos pressionam, hoje ou amanhã, para que consintamos que a arte seja submetida a uma disciplina que sustentamos radicalmente incompatível com seus meios, opomos uma recusa inapelável, e nossa deliberada vontade de nos manter no lema: todas as licenças em arte". Fecho também com John Cage & não abro: “Sou pela multiplicidade, a atenção dispersa e a descentralização, e portanto me situo do lado do anarquismo individualista”. Ou Jean Dubuffet: “O uníssono é uma música miserável”. Precisamos de criações desprovidas de regras & de convenções paralisantes. A poesia é um salto no escuro como o amor. Por isso, meus leitores preferidos são os heréticos de todas as escolas & os transgressores de todas as leis morais & sociais. Como não sou intelectual de esquerda, estou sempre às voltas com o problema da grana.

Pasolini começou a contagem regressiva do nosso planeta a partir do desaparecimento dos vagalumes na Itália. Eu poderia começar a mesma contagem regressiva a partir do desconhecimento & desaparecimento da abelha Jataí no Brasil. Acredito que, para a defesa do nosso planeta, as melhores idéias, como disse Edgar Morin, são as idéias “biodegradáveis".

Uma tarde, numa ilha esquecida do litoral sul de São Paulo, um garoto com olhos de Afrodite me perguntou no que eu acreditava. Respondi: Amor, Poesia & Liberdade. E nos Ovnis também.


ROBERTO PIVA
Iguape (SP) Fevereiro de 85
Hora Cósmica do Leopardo
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in Antologia Poética; Piva, Roberto – L&PM – Porto Alegre, 1985
Ilustração: Guinigui, sobre fragmento de foto de Mario Rui Feliciani

abril 20, 2007

Ídish


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P/B


cega toda e nada luz
vela sombra que seduz
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abril 19, 2007

Ponto


Um amigo meu
confessou
os pecados seus
não pra mim
sim ao louva-a-deus
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Jonas e a baleia



A história de Jonas na barriga da baleia é um exemplo de tema mítico praticamente universal: o herói é engolido por um peixe e volta, depois, transformado. A baleia representa o poder de vida contido no inconsciente, e a criatura na água é a vida ou energia do inconsciente, que dominou a personalidade consciente e precisa ser desempossada, superada e controlada.

in O poder do mito; Camppbell, Joseph com Bill Moyers – Palas Athena – São Paulo, 1991

abril 18, 2007

A caça ao veado

















— "Mãos ao alto, Sr. Veado!"

Meus amiguinhos, vocês pensam que o animal se incomodou? Sorriu e piscou o olho.

Mickey, com a mão na espingarda, apertou o gatilho tão desastradamente que a cavilha, o cano, as mólas e o chumbo cairam ao chão, indo o gatilho bater no nariz do veado.

Ah! meninos, vocês nem queiram saber como o veado ficou furioso.

Em vez de caçar, os nossos caçadores é que foram caçados! Que vergonha!

O veado levantou as orelhas e puxou Mickey pelas calças. Este continha a respiração, louco de medo. Jogados para o ar, como si fossem lanças, Mickey e Plutão foram se afastando da floresta até chegarem á beira de um precipicio.

Oh! horror! Seria preciso vôar ou rolar até o fundo!

A situação era a mais critica possivel. Urgia um golpe. Quando se está nos galhos de um veado, tudo deve ser tentado. As orelhas de Plutão batiam no ar como duas azas, chegando a suspender-lhe as patas trazeiras. Aproveitando-se disso, Mickey pulou para cima dele e, segurando-lhe a cauda, deu um solavanco com tal força que Plutão voou. Sim, não duvidem, Plutão voou.

Passaram então o precipicio, deixando o veado na borda, arreganhando os dentes e dando guinchos terriveis.

Os nossos herois estavam sãos e salvos. Mickey, enviando um beijo ao Sr. Veado, começou a tamborilar uma melodia no rabo de Plutão, esquecendo, ao som da musica, a terrivel cena da sua primeira caçada ao veado.

in O naufrágio de Mickey e outras histórias – Editora Guanabara – Rio de Janeiro, sd – Ilustração dos estúdios de Walt Disney

Pequena Bibliografia



Edições das obras de Gil Vicente:

Obras Completas de Gil Vicente — Reimpressão fac-similada da edição de 1562 — Lisboa, 1928 (edição fundamental, e a única que pode ser adoptada como base de estudos eruditos).

Obras de Gil Vicente — com revisão, prefácio e notas de Mendes dos Remédios, Coimbra — 1007, 1912, 1914.

Obras Completas — com prefácio e notas do Prof. Marques Braga — Colecção «Clássicos Sá da Costa», 6 vols.

Obras Completas — edição organizada por Reis Brasil (actualmente publicados 3 vols.). Contém, em contrapágina do texto, a sua correspondência em prosa moderna.

Teatro de Gil Vicente — apresentação e leitura de António José Saraiva (selecção das peças mais importantes, com prefácio de grande interesse).

Obras fundamentais sobre a biografia e obra vicentina:

• Braamcamp Freire, Vida e Obras de Gil Vicente«trovador, mestre
da balança»
— Ed. Rev. Ocidente, 1944.
• Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Notas Vicentinas — Notas I a V, Ed. Rev. Ocidente, 1949.
• Brito Capelo — Gil Vicente — Lisboa, 1912. .
• Queirós Veloso — Gil Vicente e a sua obra — Lisboa, 1913.
• Oscar de Pratt — Gil Vicente — Lisboa, 1931.
• António José Saraiva — Gil Vicente e o fim do Teatro Medieval — Lisboa, 1942.
— História da Cultura em Portugal, II, Lisboa, 1955.
• Reis Brasil — Gil Vicente e o teatro moderno, Lisboa, 1965.

Além destas obras, existem numerosas edições comentadas de autos e obras isolados, dos quais utilizamos, na presente edição: I. S. Révah — Édition critique de l'Auto de Inês Pereira, in Bulletin d'histoire du théâtre Portugais , t. V, 2, 1954. Quem Tem Farelos (prefácio e notas de Ernesto de Campos Andrade, Lisboa,1965). Auto da Cananeia, ed. por Agostinho de Campos, 1938. Os Autos das Barcas, «Livros de Bolso Europa-América, com prefácio e notas de Luís Francisco Rebelo.

in Sátiras Sociais; Vicente, Gil — Publicações Europa-América – Mira-Sintra, 1975

abril 17, 2007

Lado A

Agni Tara Mandala; Phoenix & Arabeth

Shiva Agni; Nuno Afonso; huile sur panneau dur, 37x35 cm

Nasmão



Cólicos menstruales. — Puntos obscuros en el Cinturón de Venus. Rayas en la eminencia tenar. Uña ovárica.

Cólicos nefríticos. — Puntos obscuros en la región Del estómago. Enrejados en la misma región.

Columna vertebral (Defectos de la). — Monte del lado medio aumentado. Uña medular.

Congestión cerebral. — Monte del dedo índice aumentado. Uña congestiva: Desaparición del área blanca de la base por la intensa coloración general.

Conjuntiva (Enfermedades de la). — Puntos rojos em la línea de la cabeza. Triángulos en el final de la misma.

Conjuntivitis escrofulosa. — Los signos anteriores más marcados. Media luna en la falange del índice.

Consunción malárica. — Puntos y cruces obscuros en la línea de la vida. Media luna en la falange del índice.


in Tratado de Quirología Médica; Dr. Krumm - Heller — Editorial Kier — Buenos Aires, 1950

abril 16, 2007

A cor da pobreza



...A elaboração de estratégias para melhoria da qualidade de vida e de saúde depende da compreensão das fragmentações derivadas dos fenômenos socioculturais, políticos e econômicos, seja no nível pessoal, coletivo, regional ou mundial.
...O mundo atual nega liberdades elementares a um grande número de pessoas. Por vezes, a ausência de liberdades substantivas relaciona-se diretamente com a pobreza econômica, em alguns casos vincula-se à carência de serviços públicos e assistência social e, em outros, a violação da liberdade resulta diretamente de uma negação de liberdades políticas e civis.
...No Brasil, o grau de pobreza é mais elevado do que o encontrado em outros países com renda per capita similar. Embora cerca de 64% dos países tenham renda inferior à brasileira, aqui o grau de desigualdades é um dos mais elevados do mundo (Barros e col., 2000).
...A pobreza no Brasil tem raça/cor, sexo e etnia. Esta afirmação, interpretada por alguns como esquizofrênica, está pautada em números tão cruéis quanto seu reflexo nos corpos e nas mentes de negros e negras, índios e índias. 11
...De acordo com os dados analisados por Jaccoud e Beghnin (2002), em 1992,40,7% da população brasileira era considerada pobre; em 2001, esse percentual cai para 33,6%. Nesse período, a proporção de negros pobres equivalia a 2 vezes a proporção observada na população branca -55,3% versus 28,9% em 1992 e 46,8% versus 22,4% em 2001. Nesse ano, homens e mulheres apresentaram-se distribuídos de forma semelhante entre os pobres — cerca de 1/3 da população. Ao incluir a variável raça/cor na análise dos dados, entretanto, observou-se que esta situação era vivida por quase metade das mulheres negras contra apenas 22,4% das mulheres brancas. Na indigência, a proporção de mulheres e homens negros foi cerca de 28% em 1992 e 22% em 2001, contudo este percentual foi 2,3 vezes maior quando comparado àquele apresentado para mulheres e homens brancos em 1992 e 2,6 vezes maior em 2001.
...Segundo Milton Santos (2000), os pobres não estão apenas desprovidos de recursos financeiros para consumir, a eles é oferecida uma cidadania abstrata; que não cabe em qualquer tempo e lugar e que, na maioria das vezes, não pode ser sequer reclamada. Por mais que se deseje negar, essa cidadania não consistente e não reivindicável, vem sendo oferecida ao longo dos tempos, prioritariamente aos negros e negras, índios e índias.
...Se cidadania é o repertório de direitos efetivamente disponíveis, os coletivos cujo Estado não garante os meios para o desenvolvimento, não têm condições de exercer atividades globalizadas. Para estes brasileiros a transposição das barreiras socioeconômicas é quase impossível.

11 Neste texto não serão abordadas questões relativas às condições de vida e saúde da população indígena.

in Seminário da Saúde da População Negra; Batista, Luís Eduardo e Kalckmann, Suzana (Org.) – Instituto de Saúde – São Paulo, 2005

abril 15, 2007

Aristée



Primaveras



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Primavera! juventud del anno,
Mocidad! primavera della vita
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METASTÁSIO.
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I.

A primavera é a estação dos risos,
Deus fita o mundo com celeste afago,
Tremem as folhas e palpita o lago
Da brisa louca aos amorosos frisos.

Na primavera tudo é viço e gala,
Trinam as aves a canção de amores,
E doce e bela no tapiz das flores
Melhor perfume a violeta exala.

Na primavera tudo é riso e festa,
Brotam aromas do vergel florido,
E o ramo verde de manhã colhido
Enfeita a fronte da aldeã modesta

A natureza se desperta rindo,
Um hino imenso a criação modula,
Canta a calhandra, a juriti arrola,
O mar é calma porque o céu é lindo

Alegre e verde se balança o galho,
Suspira a fonte na linguagem meiga,
Murmura a brisa: — Como é linda a veiga!
Responde a rosa: — Como é doce o orvalho!

II.

Mas como às vezes sob o céu sereno
Corre uma nuvem que a tormenta guia,
Também a lira alguma vez sombria
Solta gemendo de amargura um treno.

São flores murchas; — o jasmim fenece,
Mas bafejado s'erguerá de novo
Bem como o galho do gentil renovo
Durante a noite, quando o orvalho desce.

Se um canto amargo de ironia cheio
Treme nos lábios do cantor mancebo,
Em breve a virgem do seu casto enlevo
Dá-lhe um sorriso e lhe intumesce o seio.

Na primavera — na manhã da vida —
Deus às tristezas o sorriso enlaça,
E a tempestade se dissipa e passa
A voz mimosa da mulher querida.

Na mocidade, na estação fogosa,
Ama-se a vida — a mocidade é crença,
E a alma virgem nesta festa imensa
Canta, palpita, s'extasia e goza.


1º de julho — 1858
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in Primaveras; Abreu, Casimiro de – Livraria Exposição do Livro – São Paulo, sd.

abril 14, 2007

Os habitantes da aldeia



Denunciei, em estudo anterior, a qualidade de santo casamenteiro atribuída ao orixá, cujo grande dia se torna cada vez mais preferido para a união conjugal entre a população pobre. Aqui está um cântico em reforço da minha afirmativa:

Cosme e Damião,
sua casa cheira
a cravos e rosas
e a flor de laranjeira!

Outra particularidade interessante. Num cântico por mim citado nesse mesmo estudo anterior, o orixá nos convidava para ver, isto é, procurar

duas conchinhas
do Calunguinha
na beira do rio.

Noutro cântico, por mim colhido mais recentemente, o orixá se entrega, novamente, ao mesmo esporte:

Cosme e Damião,
Dôú e Alabá
foram catar conchinhas
na Mesa do Aroká.

Aqui, Mesa do Aroká significa a Mesa da mãe-d’água, vale dizer, o fundo do mar...
No candomblé da mãe-de-santo Calangro Verde, de Belmonte, discípula de Jubiabá, se canta, segundo o testemunho do poeta Sosigenes Costa, da seguinte maneira:

A mochila é de Neném (?),
A capanga é de Dôú.
Ai-ai-ai,
Dôú!

in Negros Bantus; Carneiro, Edison – Civilização Brasileira – Rio de Janeiro, 1937

abril 11, 2007

Litógrafo


As rãs


Aristófanes

1 — Vida e Obras.

São poucos os documentos que possuímos a respeito de Aristófanes e dentre eles apenas um ou outro merece inteira confiança. Extirpando desses documentos a fantasia e a lenda e sobretudo hipóteses de alguns doutos, (como é aquela do sábio americano M. Roland Kent que, desejando justificar a data do nascimento do poeta entre 455/454, traduziu erradamente a palavra parthénos por virgem, virginal em As Nuvens. v. 530, quando, na passagem citada o sentido de parthénos é puella, menina, moça), poder-se-á, com boa margem de acerto, resumir assim a biografia de Aristófanes. Tomando-se por base o texto de As Nuvens, o poeta deve ter nascido em 445 a.C. Morreu, não o podemos precisar, entre 375/372, com setenta e dois anos, mais ou menos. Era filho de Filipe, da tribo Pandião, portanto um cidadão ateniense. Pretender com um dos seus melhores editores, Van Leeuwen, Prolegomena ad Aristophanem, Deutsche Literaturzeitung, 1909, que o poeta de As Rãs não era cidadão ateniense, é, ao que parece, levantar castelos na areia 2.

Com segurança pode-se dizer que Aristófanes teve dois filhos: Araro, também poeta de Talia e que em 387 foi o vencedor num concurso cômico com uma peça do pai, intitulada Cócalos, e Filipe. Um terceiro, se existiu, chamava-se Nicóstrato, segundo Apolodoro, ou Filetero, segundo Dicearco.

Quanto às obras do poeta, a antigüidade nos fala em 44 comédias, considerando-se, desde então, quatro delas como apócrifas: A Poesia, O Náufrago, As Ilhas e Níobo. Chegaram-nos somente 11: as restantes são-nos conhecidas pelos títulos e fragmentos.

Eis em ordem cronológica as que possuímos:

425 (Akharnês) Os Acarneus
424 (Hippês) Os Cavaleiros
423 (Nephélai) As Nuvens
422 (Sphêkes) As Vespas
421 (Eiréne) A Paz
414 (Órnithes) As Aves
411 (Lüsistráte) Lisístrata
411 (Thesmophoriádzusai) Tesmofórias
405 (Bátrakhoi) As Rãs
392 (Ekklesiádzusai) Assembléia das Mulheres
388 (Plûtos) Pluto

Comédias mais importantes, cujos títulos ou fragmentos conhecemos:

427 (Daitalês) Os Convivas
426 (Babülónioi) Os Babilônios
422 (Proágon) Prelúdio
414 (Amphiáraos) Anfiarau
387 (Kókalos) Cócalo


1. Duas Vidas anônimas; um artigo de Suidas; uma escólia de Platão; uma introdução breve num tratado anônimo Acerca da Comédia e uma compilação de Thomas Magister: todos estes documentos foram reunidos por Westermann (Biog.) e por Dübner (Prolegomena de Comoedia). Poderíamos ajuntar-lhes ainda as escólias e didascálias que acompanham o texto chegado até nós, bem como as Parábases de Os Acarneus, Os Cavaleiros, As Nuvens, As Vespas, A Paz.

2. A célebre graphè xenías (acusação de estrangeiro) movida, em 424, pelo demagogo Cleão, contra o poeta "por usurpação dos direitos civis", não tem, em absoluto, o valor que se lhe atribui. Com efeito, nada era mais comum em Atenas do que essa imputação. Os oradores (Demóstenes e Ésquines, por exemplo) viviam se acusando mutuamente de tal crime. O próprio Aristófanes, aliás, em mais de uma passagem acusa Cleão, Hipérbolo e Cleofonte de origem estrangeira. Para se compreender a facilidade e freqüência de tais insinuações é necessário lembrarmo-nos da complexidade da legitimação do estado civil na cidade de Palas. Cf., a esse respeito, a obra de Octave Navarre, Les Cavaliers d'Aristophane, Edit. Mellottée, Limoges, 1956, pág. 7 sg.

in As Rãs; Aristófanes; Tradução do Grego por Junito de Souza Brandão – Baptista de Souza & Cia. Editores – Rio de Janeiro, 1958

Dodiana


Sou diabético e agora?

Locais de aplicação da insulina

Em relação aos locais seguros para a aplicação de insulina, esses foram selecionados porque permitem a deposição da insulina exatamente no local onde ela deve acontecer (no subcutâneo), desde que se utilize uma técnica adequada de injeção.

É importante salientar que deve haver um rodízio na aplicação das injeções de insulina, uma vez que, quando uma mesma área é utilizada muitas vezes para se injetar, pode sofrer problemas degenerativos locais, como complicações das injeções de insulina repetidamente aplicadas numa mesma área, até mesmo prejudicando sua absorção.

O rodízio deve ser feito dentro do mesmo local para o mesmo tipo de insulina porque as taxas de absorção e os picos de ação da insulina podem variar conforme o local onde ela foi aplicada. Em áreas de maior movimentação, como nas coxas, por exemplo, a atividade física aumenta a absorção da insulina.



A figura acima mostra as áreas mais adequadas à aplicaçãodas injeções de insulina, que são:


Parede abdominal: exceto a áreas de 5 cm ao redor do umbigo;

Coxas: face anteriore lateral;

Nádegas: região superior;

Braços: região lateral e posterior do braço.

Portanto, a área mais adequada para a aplicação da insulina é relativamente ampla (considerando-se todos os locais anatômicos mencionados acima), permitindo uma perfeita rotatividade quanto ao local exato da injeção.

in www.diabetesnoscuidamos.com.br

abril 04, 2007

Homenagem ao Rabino Sobel

Poema em linha reta
Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes — na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Ruy Nogueira Netto

abril 01, 2007

Lewis Carroll

Alice disparou atrás do coelho...

in Alice no País das Maravilhas; Adaptação de Monteiro Lobato – Companhia Editora Nacional – São Paulo, 1941

Ah, na Bahia...


A Sapateira Prodigiosa, de Federico Garcia Lorca. Sônia dos Humildes (Sapateira), Maria da Conceição (Vizinha Negra), Jurema Penna, Maria Adélia (Beata), Lizete Fernandes (Vizinha Vermelha), Helena Ignez (Vizinha Verde), e Nilda Spencer (Vizinha Amarela).
Direção, Martim Gonçalves. 1959. Teatro Santo Antônio.
Foto: Cláudio Reis.

Raimundo Matos de Leão — Mestre em Artes Cênicas — UFBA.
Professor de História do Teatro Brasileiro e Improvisação Teatral no
Curso de Artes Cênicas — FSBA. Escritor, arte-educador e dramaturgo.

O anjo da guarda



Deus fez um anjo para cada homem,
confiou-lhe seu corpo e seu destino.
Disse-lhe: — “Impede que as paixões o domem.
Guarda-o para ser bom desde menino.”

Na inumerável multidão dos povos,
na confusão das línguas e das gentes,
não falta um anjo em meio aos anjos novos
para seguir os seres inocentes.

Por mais que a vida dispa as ilusões
e enodoe a pureza, por ferina
que seja, e mate a fé, mate a esperança,

há sempre uma hora para os corações
em que, dobrando o canto de uma esquina,
volta o anjo da guarda da criança.


in Anjos em Terra; Costa, Nazareth e Costa, Odylo Filho – Monteiro Soares – Rio de Janeiro, 1980