junho 19, 2019

A Morte


HISTÓRIA DA ESPOSA DANADA

Não sei quantos de nós haviam conseguido decifrar de uma maneira ou de outra aquela história, sem se perder em meio a todos os cartapácios de copas e ouros que surgiam exatamente quando desejávamos uma clara ilustração dos fatos. A comunicabilidade do narrador era bastante escassa, dado talvez que seu engenho fosse mais voltado para o rigor da abstração do que para a evidência das imagens. Em suma, alguns entre nós se deixavam distrair ou se detinham sobre certas conjugações de cartas e não conseguiam ir além.

 Por exemplo, um de nós, um guerreiro de olhar melancólico, que se havia apoderado de um Valete de Espadas muito parecido com ele, e de um Seis de Paus, aproximou-os do Sete de Ouros e da Estrela como se quisesse formar uma fila vertical por sua conta.

 Talvez para ele, soldado perdido no bosque, aquelas cartas seguidas da Estrela quisessem significar uma cintilação como a dos fogosfátuos que o havia atraído para uma clareira entre as árvores, onde lhe aparecera uma jovem de palor sidéreo que vagueava pela noite em camisola de dormir e com os cabelos soltos, erguendo alto um círio aceso.

 Seja como for, ele continuou impávido sua fileira vertical, baixando duas cartas de Espadas: um Sete e uma Rainha, conjugação já de si difícil de interpretar, mas que talvez sugerisse alguma espécie de diálogo deste tipo:

 — Nobre cavaleiro, eu te suplico, desfaz-te de tuas armas e couraça e permite que eu as tome! — (Na miniatura a Rainha de Espadas enverga uma armadura completa, com braceleiras, cotoveleiras, manoplas, sobressaindo-se como uma camisola de ferro das bordas recamadas de suas cândidas mangas de seda.) — Estouvada, comprometi-me com alguém cujo abraço ora abomino e que virá esta noite reclamar-me o cumprimento da promessa! Sinto-o aproximar-se! Armada, não deixarei que se apodere de mim! Eia, salva uma donzela perseguida!

 Que o guerreiro tenha consentido prontamente é algo de que não se podia duvidar. E eis que, ao vestir a armadura, a pobrezinha se transforma em rainha de torneio, pavoneia em redor, exibe-se toda. Um sorriso de júbilo sensual anima a palidez de sua face.

Mas aqui de novo começava um desfile de cartapácios cuja compreensão era um problema: um Dois de Paus (sinal de uma bifurcação, de uma escolha?), um Oito de Ouros (algum tesouro oculto?), um Seis de Copas (um convite amoroso?).

 — Tua cortesia merece um galardão — deve ter dito a jovem do bosque. — Escolhe o prêmio que preferes: posso dar-te riqueza, ou então...

 — Ou então?

 — ...Posso me dar a ti.

 A mão do guerreiro baixou sobre o naipe de copas: havia escolhido o amor.

Para a continuação da história devíamos deixar trabalhar a imaginação: ele já estava nu, ela afrouxou a armadura que acabara de vestir e, através das placas de bronze, nosso herói conseguiu chegar a um seio tenro e teso e túrgido, insinuou-se entre o férreo coxote e a tépida coxa…
De caráter reservado e pudico, o soldado não se alongou em pormenores: tudo o que nos soube dizer foi colocar ao lado de uma carta de Copas uma outra de Ouros, com um ar de suspiro, como a dizer:

 — Pareceu-me entrar no Paraíso...

 A figura que depositou em seguida parecia confirmar a imagem dos umbrais do Paraíso, mas ao mesmo tempo interrompia bruscamente a entrega voluptuosa: era um Papa de austeras barbas brancas, como o primeiro dos pontífices que hoje guarda as Portas do Céu.

 — Quem está a falar de Paraíso? — No alto do bosque em meio às nuvens apareceu são Pedro trovejando em seu trono:

 — Para esta a nossa porta estará fechada por todo o sempre!
O modo como o narrador depositou uma nova carta, com um gesto rápido, mas mantendo-a escondida, e com a outra mão tapando os olhos, como que nos preparava para uma revelação: a mesma com que ele se deparou quando, baixando os olhos dos ameaçadores umbrais celestes, pousou-os sobre a dama em cujos braços jazia e viu o gorjal emoldurar não mais uma face de pomba no cio, não mais as narinas maliciosas, o pequenino nariz arrebitado, mas sim uma barreira de dentes sem gengivas nem lábios, duas fossas nasais escavadas no osso, os pômulos macilentos de um crânio, sentindo que envolvia nos seus os membros ressequidos de um cadáver.

 A gélida aparição do Arcano Número Treze (a legenda A Morte não figura nem mesmo nos maços de cartas em que todos os arcanos menores trazem escritos os seus nomes) havia reacendido em todos nós a impaciência de conhecer o final da história. O Dez de Espadas que vinha agora seria a barreira dos arcanjos que vedava à alma danada o acesso ao Céu? O Cinco de Paus indicaria uma passagem através do bosque?

 Neste ponto, a coluna de cartas se havia ligado ao Diabo, colocado naquele ponto pelo narrador precedente.


 Não era preciso conjecturar muito para compreender que do bosque havia saído o noivo tão temido pela defunta prometida: Belzebu em pessoa, que, exclamando: “Não adianta, minha querida, trapacear nas cartas! Para mim, todas as tuas armas e armaduras (Quatro de Espadas) não valem dois vinténs (...)!”, levou-a consigo para debaixo da terra.



ITALO CALVINO (1923 - 85) nasceu em Santiago de Las Vegas, Cuba, e foi para a Itália logo após o nascimento. Participou da resistência ao fascismo durante a guerra e foi membro do Partido Comunista até 1956. Publicou sua primeira obra, A trilha dos ninhos da aranha, em 1947.






Calvino, Italo; O castelo dos destinos cruzados – Trad. Ivo Barroso – 2ª edição – Companhia das Letras – 1991

Imagem: Gertrude Moakley, in her book The Tarot Cards Painted by Bonifacio Bembo (1966) presents the theses that Renaissance Carnival processions depicting "Triumphs" of morality and specific virtues, concepts also embodied in the text and various illustrations to Petrarch's I Trionfi, provide the symbolic basis of the Tarot, which originates from the same basic milieu a fusion of three traditions: the Roman triumphs, the religious processionals, and the knightly tournament processions of the Middle Ages. These ideas have an interesting history and visual legacy in Western


junho 18, 2019

A dois

CONVERSA COM JESUS CRISTO
Sempre que você se sentir só e impotente para resolver determinada situação ou problema, seja de qual ordem for, não se desespere. Converse com Jesus Cristo, orando: Meu querido Jesus Cristo, em vós deposito toda minha confiança. Vós sabeis de tudo, ó Pai do universo. Vós sois o Rei dos Reis. Vós que fizestes o paralítico andar, o morto voltar a viver e o leproso sarar. Vós que vedes minhas angústias, minhas lágrimas, bem sabeis, Divino amigo, como preciso alcançar de vós esta graça que espero, com muita fé e confiança. Fazei, Dívino Jesus Cristo, que eu a alcance pois necessito muito, por isso vos peço com muita fé (fazer o pedido com bastante fé e firmeza). A conversa convosco, meu grande mestre, me dá ânimo e alegria para viver. Como gratidão mandarei imprimir um miiheiro desta oração e distribuir a outras que precisam de vós, para que aprendam a ter fé e confiança em Vossa misericórdia. lluminai meus passos assim como o sol ilumina todos os dias o amanhecer. Jesus Cristo,tenho total confiança em vós e a cada dia que passa alimenta minha fé e meu amor!" Rezar um Pai Nosso, Ave Mana e Glória ao Pai.


Em agradecimento, hoje mando imprimir e distribuir 1000 orações, para propagar os benefícios e devoção ao NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. Mande imprimir você também logo após o pedido.



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junho 01, 2019


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Remettem-se catálogos illustrados para o interior a quem os solicitar.
PEDIDOS A
JULIO DE SOUZA

In  A Scena Muda – anno 6; nº 261 – Rio de Janeiro, 1926