julho 17, 2009

Seu Sami


HILAL SAMI HILAL. Instalação Sherazade (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda


HILAL SAMI HILAL. Instalação Biblioteca (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda.


HILAL SAMI HILAL. Instalação Biblioteca (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda.


HILAL SAMI HILAL. Instalação Biblioteca (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda.


HILAL SAMI HILAL. Instalação Biblioteca (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda.


Hilal Sami Hilal (Vitória, ES, 1952).
Vive e trabalha em Vitória, ES.

Capixaba de origem síria, Hilal Sami Hilal iniciou-se, nos anos 1970, no desenho e aquarela para depois decidir se aprofundar em técnicas japonesas de confecção do papel. A partir daí, com uma viagem ao Japão, sua pesquisa intensificou-se, resultando numa segunda viagem a esse país no final dos anos 1980. Cruzando influências culturais entre o Oriente e o Ocidente, entre a tradição moderna ocidental e a antiga arte islâmica, surgiram suas “rendas”. Confeccionadas com um material exclusivo, criado com celulose retirada de trapos de algodão e misturada com pigmentos, resina e pó de ferro e de alumínio, as rendas privilegiam a força gestual do artista. Que assim constrói a tela a partir de linhas que se cruzam, de cores que se revelam na mistura dos materiais e da sensação de ausência gerada pelos espaços em branco. O trabalho, colocado a curta distância da parede, beneficia-se das sombras projetadas, criando um rendilhado virtual. Algumas de suas obras são realizadas apenas com resina acrílica, criando o mesmo efeito visual. Esteve no Panorama da Arte Brasileira, MAM/SP, em 1998. Em 2007/2008 teve uma grande mostra de sua obra exposta no Museu da Vale, Vitória, Espírito Santo, com curadoria de Paulo Herkenhoff.


Imagens:

julho 12, 2009

Casablanca



Te acalma, minha loucura!
Veste galochas nos teus cílios tontos e habitados!
Este som de serra de afiar as facas
não chegará nem perto do teu canteiro de taquicardias...
Estas molas a gemer no quarto ao lado
Roberto Carlos a gemer nas curvas da Bahia
O cheiro inebriante dos cabelos na fila em frente no cinema...
As chaminés espumam pros meus olhos
As hélices do adeus despertam pros meus olhos
Os tamancos e os sinos me acordam depressa na madrugada feita de binóculos de gávea
e chuveirinhos de bidê que escuto rígida nos lençóis de pano


in A teus pés; Cesar, Ana Cristina – Editora Ática – São Paulo, 1998
Fotografia: Regina Stella

julho 11, 2009

Quadrinhas P'ssoanas



18.

Vale a pena ser discreto?
Não sei bem se vale a pena.
O melhor é estar quieto
E ter a cara serena.

22.

Levas chinelas que batem
No chão com o calcanhar.
Antes quero que me matem
Que ouvir esse som sem parar.

24.

Teus brincos dançam se voltas
A cabeça a perguntar.
São como andorinhas soltas
Que inda não sabem voar.

38.

Ouvi-te cantar de dia.
De noite te ouvi cantar.
Ai de mim, se é de alegria!
Ai de mim, se é de pesar!

40.

O malmequer que arrancaste
Deu-te nada no seu fim,
Mas o amor que me arrancaste,
Se deu nada, foi a mim.

50.

O burburinho da água
No regato que se espalha
É como a ilusão que é mágoa
Quando a verdade a baralha.

61.

Eu te pedi duas vezes
Duas vezes, bem o sei.
Que por fim me respondesses
Ao que não te perguntei.

85.

Tenho um livrinho onde escrevo
Quando me esqueço de ti
É um livro de capa negra
Onde inda nada escrevi


96.

Dei-lhe um beijo ao pé da boca
Por a boca se esquivar.
A idéia talvez foi louca,
O mal foi não acertar.

140.

Há um doido na nossa voz
Ao falarmos, que prendemos:
É o mal-estar entre nós
Que vem de nos percebemos

146.

Tem a filha da caseira
Rosas na caixa que tem.
Toda ela é uma rosa inteira
Mas não a cheira ninguém.

177.

Compreender um ao outro
É um jogo complicado,
Pois quem engana não sabe
Se não estava enganado.

182.

Tens um anel imitado
Mas vais contente de o ter.
Que importa o falsificado
Se é verdadeiro o prazer.

202.

Fiz estoirar um cartucho
Contra a parede do lado.
Assim farei eu à vida,
Que o sonhar fez-me assoprado.

220.

Deixaste cair no chão
O embrulho das queijadas.
Riste disso — e porque não?
A vida é feita de nadas.

223.

Tenho uma pena que escreve
Aquilo que eu sempre sinta.
Se é mentira, escreve leve.
Se é verdade, não tem tinta.

324.

No dia de S. João
Há fogueiras e folias
Gozam uns e outros não,
Tal qual como os outros dias.


in Quadras ao gosto popular; Pessoa, Fernando – Edições Ática – Lisboa, s/d
Ilustração: "Papai dormiu", Ana Maria Dias

Os perigos da literatura



Literatura, isto é, escrever sem publicar, é uma espécie de vício secreto. Pequena perversão. Que nem colocar calcinhas de mulher. Seus praticantes estão sujeitos a muito mais. Olhai uns pares deles.

COMPLEXO DE CASTRO ALVES — Leva os poetas a delirar se imaginando numa tribuna em praça pública, cercado por um mar de povo, recebendo o brado do seu bardo, o verbo quente e a exortação para a ação.
Os poetas afetados deste mal substituem a ação pela palavra.

COMPLEXO DE MACHADO DE ASSIS — Manifesta-se em um desejo irreprimível de entrar para o Serviço Público. Levar vida reservada e tímida. Ter atitudes ambíguas sobre os problemas da comunidade. Esperar a glória, pacientemente. Alguns casos mais graves levam os pacientes a fundar academias.

COMPLEXO DE JORGE AMADO — Leva os pacientes a escrever livros e mais livros, sofregamente, uns cada vez mais parecidos com os outros. Freqüentemente, vence pelo cansaço e acorda consagrado internacionalmente. Pertence ao quadro deste complexo o sonhar com o Nobel.
Alguns têm frenesis em que se imaginam traduzidos para 18 idiomas.

MAL DE ROSA — Só faz vítimas entre membros do Corpo Diplomático.
O paciente imagina que é um jagunço do sertão.
Conta casos estranhos, numa linguagem meio antiga e meio sertaneja.
E diz em entrevistas na Europa: — Nós, no sertão...

SÍNDROME DE BORGES — O escritor-paciente imagina-se dentro de um livro, atacado por citações, vidas de outros séculos. Para o paciente afetado desta moléstia, o céu não tem estrelas.
Tem asteriscos.
Ocorre de o paciente, andando em círculos, tropeçar numa vírgula, engolir o parágrafo e bater com a cabeça num travessão.
Devem ser constantemente vigiados.
Se não melhorarem, o jeito é encaderná-los e doá-los a uma Biblioteca Pública.

MAL DE DRUMMOND — Apenas uma variante do Complexo de Machado de Assis.
O doente pode apresentar dores abdominais.
Bem na altura de Minas Gerais no mapa do Brasil. A seguir, os delírios.
O paciente grita:
— Tirem essa pedra do meio do meu caminho!

ATAQUE A JOÃO ANTONIO — Os acometidos desse mal crêem-se jogadores de sinuca, malandros da noite e velhos boêmios. Alguns tentam se parecer com Adoniran Barbosa. Quando alguém disser "literatura é um corpo-a-corpo com a vida", esteja certo: ali está alguém sofrendo do Mal de João Antônio. Vivem normalmente de uma dieta de Gorki e Lima Barreto. O melhor modo de curá-los é convidá-los para uma partida de sinuca.

PARALISIA CABRALINA — Súbito enrijecimento do nervo poético, causado por leituras intensivas da obra de João Cabral de Mello Neto. O cabra da peste acometido desse mal começa a ver tudo em quadradinhos e a só reconhecer rimas toantes. Nos casos mais graves, desenvolve pedras nos rins, na bexiga e na veia. Apresenta tendências para a litogravura, a marmoraria, ou coleciona cristais. Tem coração de pedra, e só se comove com agrestes, caatingas e canaviais pernambucanos. Normalmente, leva uma vida e morte severina.


in Ensaios e Anseios Crípticos; Leminski, Paulo – Pólo Editorial do Paraná – Curitiba, 1997

julho 10, 2009

Memória futura



Mesmo coberta,
Brasília é uma cidade
nua. Intervalos,
espaço, o plano em que se inventa
se despojam, verticalmente.
Planalto, Brasília salta
e se repete para o alto.

E comemora-se, num céu
declarado, num horizonte
preciso, como quem sabe
o que faz de si
e guarda o rosto explícito.

Em que cidades os vãos
se mostram com tanto
azul, e ventos e vertentes?
Onde limites
que se correspondam
onde lacunas que se preencham
apontando
sua vizinha evidência?
Onde o que é
guarda tanto sentido
em sua diferença?

Os edifícios, nítidos
como cactos, contra uma terra
envôlta em terra
se amaciam e se retomam em lago.
E o branco é mais longo
no afsalto do poente
e a técnica se arredonda
na memória da Acrópole
e a pergunta do ser
e pelo ser
se aconchega, nas dobras
do existente.

Nada se aglomera
ou se expulsa
nesta paisagem onde a razão
é o sensível e sua imagem.

Aqui se faz o homem:
geografia-geometria
e a história murmurando
amanhã
nas curvas da poesia.
Aqui a terra se ergue
lapidada em seu provento
aqui medita
o que a pátria espera
de nós, por nós,
na nudez dos que pensam.

Brasília, 1969


in Poemas ao outro; Garaude, Lupe Cotrim – Niamar – São Paulo, 1970
Ilustração: Guinigui over Lucio Costa

V



roleta de vertigens. orvalho imigrante
.....mariscos suspirando na paella
...........carcarás dormindo na tua alma.
..................as lágrimas rosnam.
..................................jardins com pitangueiras.
.............um bilhão de meteoros em férias
..............................& você põe fogo no bar.
.............maneira brejeira de agradecer
..........................o mixto-quente.

(lição de..........
amor para serpentes)


in 20 poemas com brócoli; Piva, Roberto – Massao Ohno - Roswitha Kempf – São Paulo, 1981
Ilustração: João Pirahy

((O)) DIO))



Rogério: Torquato, você acha que está cumprindo seu dever de brasileiro?
Torquato: Yes.
Rogério: Por que você respondeu em inglês?
Torquato: Devido a minha formação Joaquim Nabucol de comunista.
Rogério: Presentemente está atuando em alguma emissora?
Torquato: Não.
Rogério: Em inglês ou português?
Torquato: Em português. Nós temos Bananas. Fale.
Rogério: Assim não, isso é plágio de João de Barro e Alberto Ribeiro. Que tem a declarar?
Torquato: Vinicius jamais escreveria isso. Vinicius é a minha miss Banana Real. Geraldo Vandré é um gênio.
Rogério: Você diz um gênio sexual ou matemático?
Torquato: Nunca dormi com ele.
Rogério: Por que, você sofre de insônia?
Torquato: Eu era viciado em psicotrópicos. Hoje em dia dou mais valor aos alcalóides
.........................................................................................................
................................................................
Rogério: Eu por minha parte dou mais valor aos aqualoucos.
Torquato: O Golias é ótimo.
Rogério: Ele já foi aqualouco?
Torquato: Yes.
Rogério: Você não acha que nós devemos tratar melhor os negros?
Torquato: Yes.
Rogério: Por exemplo lá em casa estamos há 2 meses sem empregada. Nesse sentido Malcolm X ou Bertrand Russel foram muito compreensivos. Veja o caso de Sérgio Pôrto com aquela estória do crioulo doido, puro racismo, e racismo paulista, o que é mais grave sendo ele cocarioca, isto é, carioca, não acha nego?
Torquato: Yes. Acho sim. Agora: o Bertrand Russel é mais branco do que Malcolm X. O que estarei querendo dizer com isso?
Rogério: Talvez que a noite deste século seja escura e de uma escuridão tão impotente que mesmo no seu âmago mais profundo não são pardos todos os gatos.
Torquato: Non sense. Auriverde pendão das minhas pernas que a brisa do funil beija e balança. Onde está funil leia-se mesmo Brasil. Nelson Rodrigues inventou a subliteratura e eu endosso.
Rogério: Mas você não acha que depois de C. Veloso já devemos começar a cuidar mais seriamente da superliteratura?
Torquato: Yes. Freud explica, não é mesmo?
Rogério: Seria se fosse. Mas tanto Freud como Sartre como Lévi-Strauss não passam de romancistas da Burguesia. E Lukacs?
Torquato: Foi o caso mais grave de Geraldo Vandré que já conheci. E com a desvantagem de ser tão polido como Leandro Konder. Só que de Romance ele não manjava bulhufas. Mas, não exageremos porque Lukacs é um moço de muito futuro.
Rogério: Além do mais, Torquato, todas as nossas tragédias ou melodramas individuais fazem parte de um projeto coletivo nosso. Nós fumamos maconha para ter um sucedâneo da fome dos operários e damos a bunda porque não entendemos bem a razão pela qual temos tantas bananas e os camponeses continuam tão desenxavidos.

S.P. 1968

in Os últimos dias de Paupéria; Neto, Torquato – Livraria Eldorado Tijuca – Rio de Janeiro, 1973
Ilustração: Detalhe da capa do livro por Ana Maria Silva de Araújo

julho 08, 2009

Brasil confirma 4 primeiros casos de gripe H1N1 no país



Reuters - 07/05/2009 19:14

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, confirmou nesta quinta-feira os quatro primeiros caso da nova gripe H1N1 no Brasil.

"O vírus chegou ao Brasil", disse o ministro a jornalistas. "Todos passam bem", acrescentou Temporão.

Os casos da doença, que ficou conhecida como "gripe suína", estão nos Estados de São Paulo (2), Minas Gerais (1) e Rio de Janeiro (1). Três pacientes vieram do México e um dos Estados Unidos.

Nesta quinta a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que decidiu manter na fase 5, numa escala que vai até 6, o nível de alerta de pandemia para a doença, que já matou 44 pessoas no México e duas nos Estados Unidos.

O primeiro país da América do Sul a ter caso da gripe confirmado foi a Colômbia. Em todo mundo, já existem mais de 2 mil casos confirmados, segundo a OMS.

(Reportagem de Ana Paula Paiva)

julho 04, 2009

Diabo



Era uma vez um apedeuta que atravessava uma ponte de madrugada – só podia ser um beócio, é claro — quando deu de cara com um sujeito magro, de bigode fino, pele muito branca, uma espécie de Wilson Grey em invólucro elegante. Levou um susto mas foi logo tranqüilizado pelo outro.

— Eu sou o diabo. De mil em mil anos subo à terra para satisfazer três desejos de um único mortal.

— E não tem de vender a alma? – perguntou o mortal.

— Não – respondeu o magro.

— Então eu quero – começou o apressadinho esfregando as mãos de satisfação.

— Eu disse que sou o Diabo e não Deus. Não tem de vender a alma mas tem de dar o rabo.

— Pô, seu diabo, dar o rabo é brabeza. Não sou chegado a um trolho, não!

— Mas tu és trouxa mesmo, ó mortal! Se o teu negócio fosse dar o rabo não tinha graça alguma. Tu me davas o brioco por puro prazer e eu nem teria de satisfazer teus três pedidos.

O mortal viu certa lógica nas palavras de Lúcifer e ao abaixar as calças foi dizendo:

— Tá certo, tu me comes, mas moita, hein? Maior discrição. E não esquece dos três pedidos.

O diabo comeu o cara bem comido, botou o cheio de varizes para dentro da braguilha e se afastou dizendo:

— Boa noite, rapaz!

— Que boa noite que nada, seu diabo! E os meus três desejos?

— Você não está muito crescidinho para acreditar em diabo?

E o leitor que votou em VMRI do Trombone Baiano, FH do Vosso C., acredita em diabo? Claro que acredita.


A origem da palavra Diabo eu confesso que desconheço embora desconfie. A verdade é que não estou com saco (expressão que tomei emprestada de Carlinhos Feijoada Completa, meu assessor para assuntos marginais) para sair por aí pesquisando e Rogerinho Boquinão, meu assessor de imprensa, ainda não apareceu. A palavra demônio — daemon vem do grego daimon e na mitologia era utilizada para denominar um poder sobrenatural. Homero usa Daimon do mesmo modo como usa Theos, ambos para enfatizar a personalidade de Deus. Desde que Daimon era usado para designar o autor de qualquer fenômeno não atribuído à divindade alguma em particular, acabou por se tornar o poder que determinava o destino do homem. Ou seja: cada ser humano tinha o seu demônio particular. Segundo Hesíodo, os mortos da Idade do Ouro se transformavam em demônios. Posterior especulação filosófica dava os demônios como superiores aos mortais mas inferiores aos deuses. A partir daí não é difícil compreender porque os cristão antigos atribuíam as ações dos demônios aos anjos caídos que haviam se revoltado contra Deus. Já os anjos obedientes como o digno Conde da Canoa Furada, José Gregori, foram transformados em anjos da guarda e cosi via...

Quem fatura muito com a imbecilidade humana neste sentido é o grande escritor brasileiro autor de Surubas Satânicas no Caminho de Compostela e cujo nome já esqueci.


in Nossa Sociedade; Nataniel Jebão (Fausto Wolff) Revista Bundas; Nº 37; Ano I – Editora Pererê – Rio de Janeiro, 2000