julho 07, 2007

Auto da Feira


...A peça tem prólogo, dito por Mercúrio, que, discreteando sôbre astronomia, usa de sentenças semelhantes às do prólogo da «Exortação da Guerra». No final, diz quem é e ao que vem: que por não conhecer na côrte de Portugal feira no dia de Natal, ordena ali uma, nomeando mercador-mor ao Tempo. Entra êste, anunciando várias mercadorias, entre elas a Justiça, a Verdade, a Paz, o Temor de Deus, etc. A seguir vem um Serafim e convida para a feira os mosteiros, as igrejas, os pastores de almas, «os papas adormidos», a quem exorta a que regressem à vida humilde e simples dos primitivos tempos da Igreja.
...Aparece o Diabo, «como bufarinheiro», e gaba-se de que há de vender com tôda a facilidade a sua avariada mercadoria. Discute o assunto com o Tempo e com o Serafim.
...Surge Roma, a Igreja, que vem comprar Paz, Verdade e Fé. Gil Vicente, pela boca do Diabo, dirige-lhe cruéis censuras e ataques.
...Desenvolve-se depois uma scena de dois compadres lavradores, que, a caminho da feira, falam das respectivas mulheres, uma brava, outra mansa, mostrando-se cada um dêles descontente com a sua. Surgem as mulheres e censuram os respectivos maridos, cujos defeitos apontam. Chegam à feira. Como uma das mulheres pronuncia a palavra —Jesus—, o Diabo desaparece. Dirigindo-se ao Tempo e ao Serafim, preguntam por mercadorias várias e enjeitam as que esses vendedores apregoam, como consciência, virtude, etc.
...Aparecem mais raparigas e rapazes, ordenam-se para feirar, e estabelece-se entre êles uma troca de ditos amorosos, que tornam animada a scena. Até que por fim todos cantam uma «folia» à Virgem em honra de quem se ordenara a feira.

in Teatro; Vicente, Gil – Livraria Lello & Irmão – Porto, sd

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