janeiro 27, 2007

Saudação ao mundo



Não me lamenteis,
Esta não é a minha verdadeira pátria, vivi exilada de minha
verdadeira pátria, e agora a ela eu retorno,
Retorno à esfera celeste para onde cada um de vós irá por
sua vez.

7

Vejo os campos de batalha da terra, nêles a erva brota e as
flôres e os cereais,
Vejo as rotas das antigas e modernas expedições.
Vejo os monumentos sem nome, mensagens veneráveis dos
fastos, crônicas e heróis desconhecidos da terra.
Vejo a região das sagas,

Vejo os pinheiros e abetos retorcidos pelas borrascas do
norte,
Vejo blocos de granito e penhascos, e verdes campinas e
lagos,
Vejo os dolmens funerários dos guerreiros escandinavos,
Vejo-os elevarem suas pedras às orlas do oceano agitado,
para que os espíritos dos mortos, quando lhes
pesar a quietude do túmulo, subam aos montes
para contemplar as vagas agitadas e se saturem
de tempestades, de imensidade, de liberdade, de
movimento.
Vejo as estepes da Ásia,
Vejo os túmulos da Mongólia, as tendas dos Calmucos e
basquires,
Vejo as tribos nômades com seus rebanhos de bois e vacas,
Vejo as planícies sulcadas de abismos, vejo as selvas e
desertos,
Vejo o camelo, o cavalo selvagem, a betarda, o carneiro
de grande cauda, o antílope, e o lobo que se oculta.
Vejo as terras altas da Abissínia,

Vejo os rebanhos de cabras que pastam, vejo os figueiras,
tamarindeiras e tâmaras,
Vejo os campos de trevos e as planícies verdejantes e
doiradas,
Vejo o vaqueiro do Brasil,
Vejo o boliviano subir o monte Sorata,
Vejo o gaúcho atravessar os pampas, vejo o incomparável
cavaleiro reboleando o laço,
Vejo-o sôbre os pampas a perseguir os animais selvagens
para a conquista de suas peles.

in Saudação ao mundo e outros poemas; Whitman, Walt – Flama – São Paulo, 1944

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