janeiro 13, 2009

Pioneiros do Cinema Brasileiro

1932

O ano de 1932 apresentou uma produção de sete filmes: apenas um a mais que o ano anterior.

Em São Paulo, Amor e Patriotismo mesclava seqüências com atores e cenas documentais da Revolução de 1930. Octávio Gabus Mendes deixava momentaneamente a crítica para dirigir Às Armas!.

Com Um Bravo do Nordeste, o cinegrafista Edson Chagas estreava na direção e conseguia realizar um drama rural de aventuras.

Eduardo Abelim, infatigável lutador até o final de seus dias, terminava o seu O Pecado da Vaidade.

Surge então surpreendentemente um novo pólo de produção, em Campo Grande, no antigo Estado do Mato Grosso. Os estreantes Líbero Luxardo, diretor, e Alexandre Wulfes, câmera-iluminador, apresentam o filme Alma do Brasil, uma produção de qualidade e criatividade.

Depois de ter estreado como diretor em São Paulo com o filmes Às Armas!, Octávio Gabus Mendes foi para o Rio de Janeiro dirigir Mulher, segunda produção da Cinédia. E, no mesmo ano, para Carmem Santos, Onde a Terra Acaba.

A produção de Carmem Santos teve os seus interiores filmados nos estúdios da Cinédia, onde também Luxardo e Wulfes montam o seu filme.

Octávio Gabus Mendes viera de São Paulo, Gentil Roiz e Edson Chagas do Recife, Humberto Mauro já está definitivamente radicado no Rio. No elenco da recente produção da Cinédia encontram-se alguns atores semiprofissionais de São Paulo. De agora em diante é consenso que tudo marcha para ter uma solução no Rio de Janeiro.


Filmagem de A Voz do Carnaval (1933), da Cinédia. Primeiro filme sonoro movietone a ser finalizado no Brasil? Discussão sem maior importância. Em cima do caminhão, atrás do chassi do Art·Reeves, gravador importado, Afrodizio de Castro, que atuou como técnico de som. De chapéu preto, Humberto Mauro, que além de dirigir o filme junto cam Adhemar Ganzaga, também trabalhou como um dos câmeras. Começava uma nova época.



1933

O som na película chega para ficar. Todos os exibidores tratam de se adaptar aos novos tempos, instalando o movietone sem perda de tempo. As empresas que se encarregam desse serviço quase não dão conta do recado.

Em pouco tempo, o mercado vai sendo tomado pela febre do movietone, o que era anunciado em grandes letras à frente dos cinemas.

O vitaphone, o som em discos, transforma-se rapidamente em velharia de museu. Todo o esforço de Luiz de Barros fica valendo como valor histórico, mas sem aplicação prática.

Em Ganga Bruta, contudo, são ainda utilizados os discos: alguns gritos de Déa Selva, uma composição de Radamés Gnatalli, uma canção com letra de Joracy Camargo e música de Heckel Tavares, pouco mais ...

É verdade que Fausto Muniz testara já seu movietone, cujas peças ele próprio fundira e montara, enquanto Adhemar Gonzaga fazia o mesmo com o seu Art-Reeves importado.

O teste de Muniz chamou-se O Carnaval de 1933; e o de Gonzaga, A Voz do Carnaval, com o cômico Palitos e uma quase desconhecida Carmen Miranda.

Não se pensava mais em filmes silenciosos, muito menos com discos. Terminara todo um período do cinema no Brasil, a história de uma inacreditável persistência.


Ao centro, numa cena de O Caçador de Diamantes (1932), Rubens Roca com Sérgio Montemor à esquerda e Francisco Scollamieri à direita.

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Jurandyr Noronha, pesquisador, jornalista e historiador nascido em Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, sempre esteve ligado ao cinema brasileiro. fez parte de algumas das mais antigas produtoras do país, como a Pan Filmes e a Filmes Artísticos Nacionais e foi redator da revista Cinearte. Atuou como diretor de fotografia, câmera, montador e editor do Cinédia-Jornal. Participou da comissão Cavalcanti, da Presidência da República, da qual resultaria o Instituto Nacional do Cinema, mais tarde Embrafilme. Em seminário da Unesco, realizado em Buenos Aires, elegeu-se secretário-executivo do Comitê Latino-americano para Produtores de Documentários para Cinema e Televisão. Roteirista e diretor de cerca de quarenta filmes-documentários e dos longas-metragens Panorama do Cinema Brasileiro, 70 Anos do Brasil e Cômicos + Cômicos; foi tambêm o criador do Museu do Cinema. Fez pesquisas nos estúdios Pathé, França, na biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e nos estúdios Nordisk, Dinamarca. é autor dos livros No Tempo da Manivela, sobre o período do cinema silencioso no Brasil, e Imigrantes no Cinema Brasileiro.


in Pioneiros do Cinema Brasileiro; Noronha, Jurandyr – Brasiliana de Frankfurt – São Paulo, Câmara Brasileira do Livro, 1994
Fotos da Coleção Jurandyr Noronha – Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro

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