janeiro 03, 2009

Rosa



Os lugares-comuns da desventura amorosa encontram finalmente soluções tão originais como inesperadas: cacete/sorvete, chute/vermute. O velho gênio parecia estar de volta. E, em janeiro de 1936, Noel voltou a se interessar pelo trabalho, embarcando numa nova canoa: ser produtor do filme "Cidade Mulher", de Carmen Santos. 

O novo trabalho introduziu algumas modificações em seu cotidiano. Agora, ele passava as noites no Cassino Beira-Mar, onde eram realizadas as filmagens. No meio da madrugada, dava uma fugidinha até a Lapa, para pegar Ceci na saída do trabalho. Voltava com ela para o cassino e juntos assistiam às últimas tomadas da noite. 

Noel estava bastante interessado no filme, onde seriam apresentadas seis composições inéditas de sua autoria. Quatro delas foram feitas especialmente na ocasião, durante as filmagens: Cidade Mulher, a valsa Uma Noite à Beira-Mar e duas parcerias com José Maria de Abreu: Morena SereiaNa Bahia. Havia ainda uma parceria com Vadico, cheia do humor dos bons tempos, Tarzan, o Filho do Alfaiate. Por fim uma homenagem a Ceci, Dama do Cabaré.

Apesar do entusiasmo, o filme foi um fracasso completo, acabando com as forças e o humor de Noel. Durante um ano, ele praticamente não compôs. De vez em quando arriscava uma obra, mas a bossa e a rima não vinham como antigamente: 

"Maria Fumaça 
Fumava cachimbo 
Bebia cachaça 
Maria Fumaça 
Fazia arruaça 
Quebrava vidraça 
E só de pirraça 
Matava as galinhas 
Das vizinhas 
Maria Fumaça 
Só achava graça 
Na própria desgraça 
( ... ) 
Maria Fumaça 
Não diz mais chalaça 
Não faz mais trapaça 
Somente ameaça 
Que acaba com a raça 
Tomando potassa 
Perdeu o rompante 
Foi presa em flagrante 
Roubando um baralho 
Não faz mais conflito 
Está no distrito 
Lavando assoalho" 
(Maria Fumaça) 


in Noel Rosa; Caldeira, Jorge – Brasiliense – São Paulo, 1982

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