novembro 10, 2008

A procura da forma




CRIATIVIDADE TRIDIMENSIONAL

A evidência é aos olhos do espirito o que a visão é aos do corpo.

Antoni Gaudí


Crítico com relação aos procedimentos acadêmicos de expressão gráfica, Gaudi foi capaz de desenvolver a criatividade tridimensional combinando quatro elementos chave: uma extraordinária inteligência espacial inata, uma contemplação profunda da realidade, uma pesquisa sobre modelos tangíveis e uma visão pragmática das possibilidades construtivas, estruturais e de composição. Apesar disso, o domínio do espaço nunca o levou a criar objetos esculturais. Suas formas são sempre elementos arquitetônicos, que dependem de uma funcionalidade imprescindível e com elementos, de grande beleza, voltados para o exterior: a derivada da decoração, a da própria originalidade de composição e a ligada à própria coerência estrutural.

Em seguida, encontram-se sintetizadas algumas das características dos recursos de exploração do espaço empregados por Gaudi:

A TRANSLAÇÃO É o processo de repetição por meio de deslocamentos, criando o efeito de sanefa. Gaudí empregou-o também espacialmente em Bellesguard, nos arcos do Colégio de las Teresianas, no rosário de esferas de pedra do Parc Güell etc.

A SIMETRIZAÇÃO Trata-se do processo que emprega planos simétricos para gerar objetos de simetria especular. As fachadas das casas Calvet e Batlló, a escalinata de acesso ao Parc Güel, as plantas do Palacio Episcopal de Astorga e da Sagrada Família etc. são exemplos claros de simetrização, assim como os estudos estereofuniculares realizados por Gaudi, com fios, correntes e cargas, para simular a estrutura almejada.

A MODULAÇÃO O uso de módulos pré-fabricados no Parc Güel, o sistema de medidas (módulo de 7,5 metros) e as proporções da Sagrada Família (1, 1/3, 1/4, 1/2, 3/4, 2/3, 1), e o reticulado da estrutura da Casa Milà são exemplos definitivos do gosto gaudianiano de ordenar o espaço a partir da modulação.

A GERAÇÃO HELICOIDAL Este princípio combina, de maneira complexa, uma ou duas rotações em torno a um eixo e translações na direção deste, o que dá origem a um movimento vertical interessante ligado às hélices cilíndricas, ao helicóide e às rampas helicoidais. Muitas colunas, escadas em caracol, chaminés etc, gaudinianas apresentam este princípio. Caso sejam acrescentadas homotétias, cria-se um efeito próprio das hélices cônicas. As chaminés do Palau Güell e a agulha do pavilhão de entrada do Parc Güel são exemplos espetaculares.

O ARREDONDAMENTO DAS FORMAS Trata-se do processo de suavizar ângulos e pontas, acrescentando contornos suaves a partir de parábolas, arcos de círculo, perfis sinusoidais etc. Em caso extremo, teríamos a deformação topológica suave de um corpo. Este efeito pode ser observado na entrada do Parc Güell, na fachada da Casa Milà, nas colunas da Sagrada Família etc.

A MACLAÇÃO Consiste na operação complexa de sobrepor ou acoplar diversas figuras geométricas, que culmina na obra gaudiniana da Sagrada Família, com a maclação de superfícies regradas e elipsoidais e, em especial, com a criação dos pináculos.

O ESVAZIAMENTO O procedimento consiste em obter um corpo espacial por subtração de determinadas partes. Aparece na obra de Gaudí, por exemplo, no arco da porta principal do Palacio Episcopal de Astorga, em León, ou no friso criado na moldura de algumas portas da Casa Milà após haver sido retirado o material correspondente com a mão, ou em algumas figuras geométricas da Sagrada Família como os nós culminantes das colunas ou as interseções de superfícies que se observam nos tetos.

A DISSECAÇÃO Gaudí aplicou de maneira muito seletiva o princípio de realizar uma dissecação de figuras espaciais (especialmente superfícies), aproveitando só uma parte delas, o que às vezes dificulta a descoberta do molde de procedência. Utilizou, por exemplo, de forma magistral, partes do hiperbolóide de uma folha e do parabolóide hiperbólico nos tetos e janelões da Sagrada Família.

A FRACTALIDADE Gaudí aproveitou o princípio natural da fractalidade no crescimento da ramagem das árvores para desenhar as colunas da Sagrada Família: do tronco decorrem, a partir dos nós elipsoidais, novas colunas ramificadas, uma maneira genial de distribuir e transmitir as cargas superiores.

A AUTO-SEMELHANÇA É o princípio segundo o qual se utiliza, concomitantemente, uma mesma forma de medidas muito diferentes, em escalas distantes. Gaudí o empregou, de maneira magistral na Sagrada Família, quando aplicou parabolóides hiperbólicos gigantescos às abóbadas, usando, ao mesmo tempo, modelos minúsculos da mesma superfície para decorar a carga das colunas ao solo, ou na leve decoração de algumas partes do teto da Sagrada Família (teto de parabolóides) ou na inclusão das luzes no teto.


in Gaudí, A Procura da Forma – Instituto Tomie Ontake – São Paulo, 2004
Foto: Miriam Muniz, de autoria desconhecida com tratamento de Guinigui

Um comentário:

Anônimo disse...

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