janeiro 21, 2009

Indicações para ouvir, para ver, para ler:


Adoniran em O Cangaceiro, de Lima Barreto, 1953

O objetivo é deixar algumas pistas importantes. Portanto, nem tudo que diz respeito a Adoniran será mencionado. 

Inicialmente vem a voz. Depois de mais de 40 anos de vida artística, o primeiro Adoniran Barbosa, Emi-Odeon, 1973. Neste disco estão músicas famosas de Adoniran, com exceção do Samba do Arnesto, por causa do mencionado decreto federal que proibia o uso "errado" do vernáculo através dos meios de comunicação. Eta samba polêmico! Alcançando sucesso com a gravação realizada por Os Demônios da Garoa, em 1955, provocou a repulsa de Vinicius de Moraes, que através da revista A Cigarra, tentava ridicularizar o texto do samba, terminando com uma condenação implacável: "São Paulo é o túmulo do samba". Ah, sim, quando numa das faixas do LP surgir o nome de "Peteleco'" trata-se do nome do cachorro que pertencia ao compositor, "autor" de alguns de seus sambas.

O segundo LP, Adoniran Barbosa, foi gravado em 1975, pela Emi-Odeon. Cabe destacar aí já a presença do Samba do Arnesto. Uma faixa interessante é o Samba Italiano, de 1965. Essa composição nasceu quando Adoniran e o ator Otelo Zeloni, à porta da Rádio Record, esperavam que a chuva passasse. E Zeloni sugeriu ao compositor uma canção sobre aquele momento: 

"Piove, Piove, fa tempo che piove qua, Gigi 
E io sempre io sotto la tua finestra 
E vuoi senza me sentire, ridere, ridere, ridere 
De questo infelice qui... ". 

Em 1980, surge o terceiro LP, com a participação de Carlinhos Vergueiro (parceiro em Torresmo à Milanesa), Clara Nunes, Clementina de Jesus, Elis Regina, Gonzaguinha e outros, também pela Emi-Odeon. Era a comemoração dos 70 anos de Adoniran, que foi festejado no Bixiga com missa, futebol e samba. 

Em termos póstumos, há que se citar o LP Saudades de Adoniran, pela Continental, com reproduções de registros realizados por Adoniran, pelos Os Demônios da Garoa, e por Wilson Miranda (Bom-dia, Tristeza). Neste disco encontram-se alguns documentos interessantes: além de canções menos conhecidas do compositor, como o xote Olha a Polícia (de Peteleco e Arlindo Silva), a primeira gravação de Saudosa Maloca, feita por Adoniran em 1951, um trecho do programa Histórias das Malocas, de 1956, e entrevistas com Adoniran. 

Outra homenagem póstuma é o LP Adoniran Barbosa — Documento Inédito, Estúdio Eldorado, 1984, onde desponta a participação de Adoniran no programa comandado por Elis Regina, O Fino da Bossa, TV-Record, 11.7.1965. Participa do disco Mathilde de Luttis, esposa do compositor. Merece também atenção o Adoniran & Vanzolini, Abril Cultural, série História da Música Popular Brasileira, 1982, onde destacam-se duas grandes interpretações: Maysa em Bom·dia, Tristeza e Gal Costa em Trem das Onze

Em relação aos seus intérpretes mais importantes, Os Demônios da Garoa, entre os seus vários LP, cabe frisar o Trem das Onze, Chantecler, 1964, e Os Demônios da Garoa Interpretam Adoniran Barbosa. Se o ouvinte quiser uma interpretação instrumental deve procurar o LP Sambas de Adoniran, com Portinho e sua Orquestra, pela Philips. 

Em relação aos VTs que possam contribuir para uma visão mais ampla de quem foi Adoniran Barbosa sugerimos uma rápida relação: 

Pela TV-Cultura de São Paulo: MPB Especial nº 6, de 29.11.1972; o Vox Populi nº 33, de 19.5.1979; o espetáculo no Festival de Verão no Guarujá, em 24.11.1979, com a participação de Adoniran Barbosa, Inezita Barroso e Zé Keti; e o programa Metrópolis nº 3 (nove visões de uma cidade), onde o nosso cantor deixa gravada a sua. 

Pela TV-Globo há a sua participação em Brasil Especial, de 11.11.1977. Esse programa retratou a música popular paulista, isto é, alguns de seus compositores: Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini, Denis Brian e o arranjador e compositor de canções e jingles Hervê Cordovil. Este último foi parceiro de Adoniran em algumas canções: Agüenta a Mão, João (1965), É Fogo (marcha, 1971), Olhando pra Lua (samba, 1970). Prova de Carinho (samba, 1960), Pode Ir em Paz (marcha-rancho, 1951). A parte do programa que focaliza Hervê Cordovil traz várias informações a respeito de Adoniran e de Oswaldo Moles, de quem Hervé também foi parceiro. 

Pela TV-Bandeirantes lembramos o Ano Novo de Elis Regina, de 31.12.1978, onde Adoniran percorre as ruas do Bixiga acompanhando a cantora, denunciando a sua devastação e recusando-se a entrar com ela na danceteria Aquarius, para se encontrar com Rita Lee. 

Em termos de depoimentos, destacam-se aquele prestado ao Museu da Imagem e do Som (MIS). de São Paulo, em 4.12.1981, e um redigido para o antigo semanário paulista Movimento, em 23.2.1976, sob o título "Envelhecer é uma Arte". Além disso, existem algumas entrevistas, como aquela publicada na revista Realidade, Abril-Cultural, julho de 1966. Há também que se destacar reportagens, tanto publicadas por ocasião de sua morte no Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e na Folha de S. Paulo, como as mais antigas, na Revista do Rádio, em 15.10.1955 e em 28.8.1959, assim como na revista It, São Paulo, 24.8.1946. 

No que diz respeito a apreciações que merecem destaque podemos lembrar: Aguiar, Flávio. Fiapos de Conversa Evoca o Passado que não Volta Mais, Mello, Zuza Homem de. O Som de São Paulo em Ritmo de Samba — ambos em Adoniran & Vanzolini, disco citado, Cândido, Antonio. Texto na contracapa do primeiro LP de Adoniran; e Wisnik, José Miguel. "Adoniran, Mulher, Patrão e Cachaça", no jornal Movimento, 28. 7 .1975, entre outros. 

No que tange às relações entre música popular, o rádio e a TV, uma série de informações pode ser retirada do livro de José Ramos Tinhorão, Música Popular — Do Gramofone ao Rádio e à TV, São Paulo, Editora Ática, 1981. Há também o estudo de Miriam Goldfeder, Por Trás das Ondas da Rádio Nacional, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981, contendo referências ao humor radiofônico paulista, incluindo um rápido comentário a respeito de Histórias das Malocas. Sobre o "iê-iê-iê", relacionado com a produção de Adoniran no nosso capítulo 3, lembramos o trabalho de Paulo de Tarso, A Aventura da Jovem Guarda, São Paulo, Editora Brasiliense, 1985. Para uma visão geral da música popular brasileira e suas relações com os meios de comunicação de massa, citamos o nosso pequeno livro, Música Popular Brasileira — Da Cultura de Roda à Música de Massa, São Paulo, Editora Brasiliense, 1983. 

Depois de tudo isso, devemos ainda observar que muitos documentos visitados referem-se a discos 78 rpm, fitas e scripts de programas de rádio, especialmente das Histórias das Malocas, além de documentos que se encontram em exposição no Museu Adoniran Barbosa, que fica na Rua 15 de Novembro, próximo do início da Av. São João, no prédio onde funciona a Secretaria de Esportes e Turismo do município). 

Entre os documentos que dizem respeito a Adoniran, gostaríamos de salientar dois trabalhos seus, que não são canções, nem representações radiofônicas ou teleteatrais. São crônicas, isto mesmo, crônicas. A primeira, "Um Senhor Piquenique", foi publicada na revista Realidade, da Editora Abril, de fevereiro de 1969, e conta com detalhes carregados de comicidade e aventura domingueira de um grupo de pessoas de um bairro bem característico da cidade de São Paulo numa praia de Santos, desde os preparativos até o retorno. Outra vez a ser "Sonhei com o Papa", publicada em Feijão com Arroz nº 5, onde o cronista recebe o Papa em sua casa, atingindo o ápice quando oferece ao visitante um "vinho vino" da sua adega, "o famoso Capelinha" acompanhado de "dois alkaselzer", pois o Papa tinha que rezar a missa depois. E o final não deixa de receber a marca caracter!stica de Adoniran: "Aí acordei com o barulho dos hómi da prefeitura abrindo mais um buraco e não me lembro se o Papa chegou a tomar o vinho". 

Nem todos os documentos pesquisados por nós estão citados. E nem todos estão em exposição e à disposição no Museu Adoniran Barbosa. O museu ainda é um espaço em formação, porém já em funcionamento. Foi ali que encontramos a ajuda de Sérgio Rubinato, sobrinho de Adoniran, e de Mathilde de Luttis, esposa do compositor. Sem eles este livro não existiria. Prestando e confirmando informações ou permitindo o acesso a documentos, eles estão presentes neste livro, além de personagens, participando da autoria. 

Cíao Belo! 


in Adoniran Barbosa; Krausche, Valter – Brasiliense – São Paulo, 1985

Um comentário:

Cid Pimentel disse...

Ê Santana véia de guerra.