julho 17, 2009

Seu Sami


HILAL SAMI HILAL. Instalação Sherazade (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda


HILAL SAMI HILAL. Instalação Biblioteca (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda.


HILAL SAMI HILAL. Instalação Biblioteca (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda.


HILAL SAMI HILAL. Instalação Biblioteca (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda.


HILAL SAMI HILAL. Instalação Biblioteca (detalhe), da mostra Seu Sami – Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Foto: Paulo Lacerda.


Hilal Sami Hilal (Vitória, ES, 1952).
Vive e trabalha em Vitória, ES.

Capixaba de origem síria, Hilal Sami Hilal iniciou-se, nos anos 1970, no desenho e aquarela para depois decidir se aprofundar em técnicas japonesas de confecção do papel. A partir daí, com uma viagem ao Japão, sua pesquisa intensificou-se, resultando numa segunda viagem a esse país no final dos anos 1980. Cruzando influências culturais entre o Oriente e o Ocidente, entre a tradição moderna ocidental e a antiga arte islâmica, surgiram suas “rendas”. Confeccionadas com um material exclusivo, criado com celulose retirada de trapos de algodão e misturada com pigmentos, resina e pó de ferro e de alumínio, as rendas privilegiam a força gestual do artista. Que assim constrói a tela a partir de linhas que se cruzam, de cores que se revelam na mistura dos materiais e da sensação de ausência gerada pelos espaços em branco. O trabalho, colocado a curta distância da parede, beneficia-se das sombras projetadas, criando um rendilhado virtual. Algumas de suas obras são realizadas apenas com resina acrílica, criando o mesmo efeito visual. Esteve no Panorama da Arte Brasileira, MAM/SP, em 1998. Em 2007/2008 teve uma grande mostra de sua obra exposta no Museu da Vale, Vitória, Espírito Santo, com curadoria de Paulo Herkenhoff.


Imagens:

julho 12, 2009

Casablanca



Te acalma, minha loucura!
Veste galochas nos teus cílios tontos e habitados!
Este som de serra de afiar as facas
não chegará nem perto do teu canteiro de taquicardias...
Estas molas a gemer no quarto ao lado
Roberto Carlos a gemer nas curvas da Bahia
O cheiro inebriante dos cabelos na fila em frente no cinema...
As chaminés espumam pros meus olhos
As hélices do adeus despertam pros meus olhos
Os tamancos e os sinos me acordam depressa na madrugada feita de binóculos de gávea
e chuveirinhos de bidê que escuto rígida nos lençóis de pano


in A teus pés; Cesar, Ana Cristina – Editora Ática – São Paulo, 1998
Fotografia: Regina Stella

julho 11, 2009

Quadrinhas P'ssoanas



18.

Vale a pena ser discreto?
Não sei bem se vale a pena.
O melhor é estar quieto
E ter a cara serena.

22.

Levas chinelas que batem
No chão com o calcanhar.
Antes quero que me matem
Que ouvir esse som sem parar.

24.

Teus brincos dançam se voltas
A cabeça a perguntar.
São como andorinhas soltas
Que inda não sabem voar.

38.

Ouvi-te cantar de dia.
De noite te ouvi cantar.
Ai de mim, se é de alegria!
Ai de mim, se é de pesar!

40.

O malmequer que arrancaste
Deu-te nada no seu fim,
Mas o amor que me arrancaste,
Se deu nada, foi a mim.

50.

O burburinho da água
No regato que se espalha
É como a ilusão que é mágoa
Quando a verdade a baralha.

61.

Eu te pedi duas vezes
Duas vezes, bem o sei.
Que por fim me respondesses
Ao que não te perguntei.

85.

Tenho um livrinho onde escrevo
Quando me esqueço de ti
É um livro de capa negra
Onde inda nada escrevi


96.

Dei-lhe um beijo ao pé da boca
Por a boca se esquivar.
A idéia talvez foi louca,
O mal foi não acertar.

140.

Há um doido na nossa voz
Ao falarmos, que prendemos:
É o mal-estar entre nós
Que vem de nos percebemos

146.

Tem a filha da caseira
Rosas na caixa que tem.
Toda ela é uma rosa inteira
Mas não a cheira ninguém.

177.

Compreender um ao outro
É um jogo complicado,
Pois quem engana não sabe
Se não estava enganado.

182.

Tens um anel imitado
Mas vais contente de o ter.
Que importa o falsificado
Se é verdadeiro o prazer.

202.

Fiz estoirar um cartucho
Contra a parede do lado.
Assim farei eu à vida,
Que o sonhar fez-me assoprado.

220.

Deixaste cair no chão
O embrulho das queijadas.
Riste disso — e porque não?
A vida é feita de nadas.

223.

Tenho uma pena que escreve
Aquilo que eu sempre sinta.
Se é mentira, escreve leve.
Se é verdade, não tem tinta.

324.

No dia de S. João
Há fogueiras e folias
Gozam uns e outros não,
Tal qual como os outros dias.


in Quadras ao gosto popular; Pessoa, Fernando – Edições Ática – Lisboa, s/d
Ilustração: "Papai dormiu", Ana Maria Dias

Os perigos da literatura



Literatura, isto é, escrever sem publicar, é uma espécie de vício secreto. Pequena perversão. Que nem colocar calcinhas de mulher. Seus praticantes estão sujeitos a muito mais. Olhai uns pares deles.

COMPLEXO DE CASTRO ALVES — Leva os poetas a delirar se imaginando numa tribuna em praça pública, cercado por um mar de povo, recebendo o brado do seu bardo, o verbo quente e a exortação para a ação.
Os poetas afetados deste mal substituem a ação pela palavra.

COMPLEXO DE MACHADO DE ASSIS — Manifesta-se em um desejo irreprimível de entrar para o Serviço Público. Levar vida reservada e tímida. Ter atitudes ambíguas sobre os problemas da comunidade. Esperar a glória, pacientemente. Alguns casos mais graves levam os pacientes a fundar academias.

COMPLEXO DE JORGE AMADO — Leva os pacientes a escrever livros e mais livros, sofregamente, uns cada vez mais parecidos com os outros. Freqüentemente, vence pelo cansaço e acorda consagrado internacionalmente. Pertence ao quadro deste complexo o sonhar com o Nobel.
Alguns têm frenesis em que se imaginam traduzidos para 18 idiomas.

MAL DE ROSA — Só faz vítimas entre membros do Corpo Diplomático.
O paciente imagina que é um jagunço do sertão.
Conta casos estranhos, numa linguagem meio antiga e meio sertaneja.
E diz em entrevistas na Europa: — Nós, no sertão...

SÍNDROME DE BORGES — O escritor-paciente imagina-se dentro de um livro, atacado por citações, vidas de outros séculos. Para o paciente afetado desta moléstia, o céu não tem estrelas.
Tem asteriscos.
Ocorre de o paciente, andando em círculos, tropeçar numa vírgula, engolir o parágrafo e bater com a cabeça num travessão.
Devem ser constantemente vigiados.
Se não melhorarem, o jeito é encaderná-los e doá-los a uma Biblioteca Pública.

MAL DE DRUMMOND — Apenas uma variante do Complexo de Machado de Assis.
O doente pode apresentar dores abdominais.
Bem na altura de Minas Gerais no mapa do Brasil. A seguir, os delírios.
O paciente grita:
— Tirem essa pedra do meio do meu caminho!

ATAQUE A JOÃO ANTONIO — Os acometidos desse mal crêem-se jogadores de sinuca, malandros da noite e velhos boêmios. Alguns tentam se parecer com Adoniran Barbosa. Quando alguém disser "literatura é um corpo-a-corpo com a vida", esteja certo: ali está alguém sofrendo do Mal de João Antônio. Vivem normalmente de uma dieta de Gorki e Lima Barreto. O melhor modo de curá-los é convidá-los para uma partida de sinuca.

PARALISIA CABRALINA — Súbito enrijecimento do nervo poético, causado por leituras intensivas da obra de João Cabral de Mello Neto. O cabra da peste acometido desse mal começa a ver tudo em quadradinhos e a só reconhecer rimas toantes. Nos casos mais graves, desenvolve pedras nos rins, na bexiga e na veia. Apresenta tendências para a litogravura, a marmoraria, ou coleciona cristais. Tem coração de pedra, e só se comove com agrestes, caatingas e canaviais pernambucanos. Normalmente, leva uma vida e morte severina.


in Ensaios e Anseios Crípticos; Leminski, Paulo – Pólo Editorial do Paraná – Curitiba, 1997

julho 10, 2009

Memória futura



Mesmo coberta,
Brasília é uma cidade
nua. Intervalos,
espaço, o plano em que se inventa
se despojam, verticalmente.
Planalto, Brasília salta
e se repete para o alto.

E comemora-se, num céu
declarado, num horizonte
preciso, como quem sabe
o que faz de si
e guarda o rosto explícito.

Em que cidades os vãos
se mostram com tanto
azul, e ventos e vertentes?
Onde limites
que se correspondam
onde lacunas que se preencham
apontando
sua vizinha evidência?
Onde o que é
guarda tanto sentido
em sua diferença?

Os edifícios, nítidos
como cactos, contra uma terra
envôlta em terra
se amaciam e se retomam em lago.
E o branco é mais longo
no afsalto do poente
e a técnica se arredonda
na memória da Acrópole
e a pergunta do ser
e pelo ser
se aconchega, nas dobras
do existente.

Nada se aglomera
ou se expulsa
nesta paisagem onde a razão
é o sensível e sua imagem.

Aqui se faz o homem:
geografia-geometria
e a história murmurando
amanhã
nas curvas da poesia.
Aqui a terra se ergue
lapidada em seu provento
aqui medita
o que a pátria espera
de nós, por nós,
na nudez dos que pensam.

Brasília, 1969


in Poemas ao outro; Garaude, Lupe Cotrim – Niamar – São Paulo, 1970
Ilustração: Guinigui over Lucio Costa

V



roleta de vertigens. orvalho imigrante
.....mariscos suspirando na paella
...........carcarás dormindo na tua alma.
..................as lágrimas rosnam.
..................................jardins com pitangueiras.
.............um bilhão de meteoros em férias
..............................& você põe fogo no bar.
.............maneira brejeira de agradecer
..........................o mixto-quente.

(lição de..........
amor para serpentes)


in 20 poemas com brócoli; Piva, Roberto – Massao Ohno - Roswitha Kempf – São Paulo, 1981
Ilustração: João Pirahy

((O)) DIO))



Rogério: Torquato, você acha que está cumprindo seu dever de brasileiro?
Torquato: Yes.
Rogério: Por que você respondeu em inglês?
Torquato: Devido a minha formação Joaquim Nabucol de comunista.
Rogério: Presentemente está atuando em alguma emissora?
Torquato: Não.
Rogério: Em inglês ou português?
Torquato: Em português. Nós temos Bananas. Fale.
Rogério: Assim não, isso é plágio de João de Barro e Alberto Ribeiro. Que tem a declarar?
Torquato: Vinicius jamais escreveria isso. Vinicius é a minha miss Banana Real. Geraldo Vandré é um gênio.
Rogério: Você diz um gênio sexual ou matemático?
Torquato: Nunca dormi com ele.
Rogério: Por que, você sofre de insônia?
Torquato: Eu era viciado em psicotrópicos. Hoje em dia dou mais valor aos alcalóides
.........................................................................................................
................................................................
Rogério: Eu por minha parte dou mais valor aos aqualoucos.
Torquato: O Golias é ótimo.
Rogério: Ele já foi aqualouco?
Torquato: Yes.
Rogério: Você não acha que nós devemos tratar melhor os negros?
Torquato: Yes.
Rogério: Por exemplo lá em casa estamos há 2 meses sem empregada. Nesse sentido Malcolm X ou Bertrand Russel foram muito compreensivos. Veja o caso de Sérgio Pôrto com aquela estória do crioulo doido, puro racismo, e racismo paulista, o que é mais grave sendo ele cocarioca, isto é, carioca, não acha nego?
Torquato: Yes. Acho sim. Agora: o Bertrand Russel é mais branco do que Malcolm X. O que estarei querendo dizer com isso?
Rogério: Talvez que a noite deste século seja escura e de uma escuridão tão impotente que mesmo no seu âmago mais profundo não são pardos todos os gatos.
Torquato: Non sense. Auriverde pendão das minhas pernas que a brisa do funil beija e balança. Onde está funil leia-se mesmo Brasil. Nelson Rodrigues inventou a subliteratura e eu endosso.
Rogério: Mas você não acha que depois de C. Veloso já devemos começar a cuidar mais seriamente da superliteratura?
Torquato: Yes. Freud explica, não é mesmo?
Rogério: Seria se fosse. Mas tanto Freud como Sartre como Lévi-Strauss não passam de romancistas da Burguesia. E Lukacs?
Torquato: Foi o caso mais grave de Geraldo Vandré que já conheci. E com a desvantagem de ser tão polido como Leandro Konder. Só que de Romance ele não manjava bulhufas. Mas, não exageremos porque Lukacs é um moço de muito futuro.
Rogério: Além do mais, Torquato, todas as nossas tragédias ou melodramas individuais fazem parte de um projeto coletivo nosso. Nós fumamos maconha para ter um sucedâneo da fome dos operários e damos a bunda porque não entendemos bem a razão pela qual temos tantas bananas e os camponeses continuam tão desenxavidos.

S.P. 1968

in Os últimos dias de Paupéria; Neto, Torquato – Livraria Eldorado Tijuca – Rio de Janeiro, 1973
Ilustração: Detalhe da capa do livro por Ana Maria Silva de Araújo

julho 08, 2009

Brasil confirma 4 primeiros casos de gripe H1N1 no país



Reuters - 07/05/2009 19:14

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, confirmou nesta quinta-feira os quatro primeiros caso da nova gripe H1N1 no Brasil.

"O vírus chegou ao Brasil", disse o ministro a jornalistas. "Todos passam bem", acrescentou Temporão.

Os casos da doença, que ficou conhecida como "gripe suína", estão nos Estados de São Paulo (2), Minas Gerais (1) e Rio de Janeiro (1). Três pacientes vieram do México e um dos Estados Unidos.

Nesta quinta a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que decidiu manter na fase 5, numa escala que vai até 6, o nível de alerta de pandemia para a doença, que já matou 44 pessoas no México e duas nos Estados Unidos.

O primeiro país da América do Sul a ter caso da gripe confirmado foi a Colômbia. Em todo mundo, já existem mais de 2 mil casos confirmados, segundo a OMS.

(Reportagem de Ana Paula Paiva)

julho 04, 2009

Diabo



Era uma vez um apedeuta que atravessava uma ponte de madrugada – só podia ser um beócio, é claro — quando deu de cara com um sujeito magro, de bigode fino, pele muito branca, uma espécie de Wilson Grey em invólucro elegante. Levou um susto mas foi logo tranqüilizado pelo outro.

— Eu sou o diabo. De mil em mil anos subo à terra para satisfazer três desejos de um único mortal.

— E não tem de vender a alma? – perguntou o mortal.

— Não – respondeu o magro.

— Então eu quero – começou o apressadinho esfregando as mãos de satisfação.

— Eu disse que sou o Diabo e não Deus. Não tem de vender a alma mas tem de dar o rabo.

— Pô, seu diabo, dar o rabo é brabeza. Não sou chegado a um trolho, não!

— Mas tu és trouxa mesmo, ó mortal! Se o teu negócio fosse dar o rabo não tinha graça alguma. Tu me davas o brioco por puro prazer e eu nem teria de satisfazer teus três pedidos.

O mortal viu certa lógica nas palavras de Lúcifer e ao abaixar as calças foi dizendo:

— Tá certo, tu me comes, mas moita, hein? Maior discrição. E não esquece dos três pedidos.

O diabo comeu o cara bem comido, botou o cheio de varizes para dentro da braguilha e se afastou dizendo:

— Boa noite, rapaz!

— Que boa noite que nada, seu diabo! E os meus três desejos?

— Você não está muito crescidinho para acreditar em diabo?

E o leitor que votou em VMRI do Trombone Baiano, FH do Vosso C., acredita em diabo? Claro que acredita.


A origem da palavra Diabo eu confesso que desconheço embora desconfie. A verdade é que não estou com saco (expressão que tomei emprestada de Carlinhos Feijoada Completa, meu assessor para assuntos marginais) para sair por aí pesquisando e Rogerinho Boquinão, meu assessor de imprensa, ainda não apareceu. A palavra demônio — daemon vem do grego daimon e na mitologia era utilizada para denominar um poder sobrenatural. Homero usa Daimon do mesmo modo como usa Theos, ambos para enfatizar a personalidade de Deus. Desde que Daimon era usado para designar o autor de qualquer fenômeno não atribuído à divindade alguma em particular, acabou por se tornar o poder que determinava o destino do homem. Ou seja: cada ser humano tinha o seu demônio particular. Segundo Hesíodo, os mortos da Idade do Ouro se transformavam em demônios. Posterior especulação filosófica dava os demônios como superiores aos mortais mas inferiores aos deuses. A partir daí não é difícil compreender porque os cristão antigos atribuíam as ações dos demônios aos anjos caídos que haviam se revoltado contra Deus. Já os anjos obedientes como o digno Conde da Canoa Furada, José Gregori, foram transformados em anjos da guarda e cosi via...

Quem fatura muito com a imbecilidade humana neste sentido é o grande escritor brasileiro autor de Surubas Satânicas no Caminho de Compostela e cujo nome já esqueci.


in Nossa Sociedade; Nataniel Jebão (Fausto Wolff) Revista Bundas; Nº 37; Ano I – Editora Pererê – Rio de Janeiro, 2000

junho 16, 2009

São Gonzaga



Foto: Isabelita Mendes Junqueira



Foto: Zuleika de Araújo Prado

Quase tudo


Marcos Caruso, Cid Pimentel e Walderez de Barros na comédia "Tudo no Escuro"


in Folha de S.Paulo – Ilustrada – 17/04/88

maio 31, 2009

A Função do Livro



8. LIVRO 

A palavra "livro", portuguêsa, deriva da latina liber, libri, no acusativo librum — e tem como correspondentes, em francês, livre, em espanhol, libra, em italiano, libro, em inglês, book, em alemão Buch. Primitivamente, liber em latim significava provàvelmente o córtice de vegetais, particularmente de certos vegetais em que êsse córtice se apresentava de forma laminada. Em sua significação mais genérica, é uma reunião de fôlhas, em branco, manuscritas ou impressas (três graus, já daí), sobretudo, hoje em dia, de fôlhas impressas tipogràficamente, elaborado e conservado com a finalidade de transmitir às gerações vivas, vivendas e vivituras o conhecimento passado e coetâneo já adquirido, para inserir-se na práxis social, como elemento da ação humana, factual, factiva e cognitiva. 

8.1 ORIGEM DO CONCEITO

A origem é remota, mas não anterior, é óbvio, à invenção pelo homem da representação gráfica das idéias, da escrita, em suma. A representação gráfica, desde a pictográfica à fonográfica, superpõe-se a matéria-prima contingente, superfícies isoladas, depois reunidas, que condicionam a existência dos primeiros "livros". Formas antigas são os cilindros de terra cozida, as tábulas ou tábuas de argila cozida, as parietais — desde as trogloditas, naturais, às edificadas pelo homem —. Antigo é o uso, também, de tábuas de madeira com igual fim — presumindo já não a incisão com estilos de pedra ou de metal, mas a pintura com tinta — entre fenícios e hebreus, sobretudo, porém, gregos; e, antes quiçá, tábuas recobertas de cêra, sôbre a qual se fazia a incisão — estilo ainda — dos caracteres, tábuas, aquelas e estas, ligadas entre si, em dípticos, trípticos ou polípticos, que se assemelhavam à "encadernação", embora de ligação contínua. Com fôlhas vegetais, lâminas metálicas, tecidos de linho, de sêda, se fizeram superfícies para escrever, e com o papiro particularmente, fôlha vegetal, é que os egípcios, pelo terceiro milênio antes de Cristo, intensificaram o uso do livro "portátil". Modernamente, sob o nome genérico de livro, há uma grande variedade de espécies, conforme a natureza, a extensão, a profundidade de tratamento do assunto ou matéria versada; conforme o formato, a espessura do impresso; conforme sua autonomia ou auto-suficiência relativa ou a sua dependência para com um todo em que se integre como secção ou parte; conforme sua relação com o tempo, isto é, com a periodicidade de publicação ou singularidade de ocorrência; conforme, ainda, sua finalidade ou uso particular e, neste caso ainda, conforme certas características da sistematização da matéria tratada. Além disso, é hábito, retrospectivamente, considerá-lo segundo sua posição dentro da historicidade ou história mesma do conceito e do instituto. Ademais — mas sem esgotar os aspectos por que pode ser examinada — a palavra "livro" se faz acompanhar de epítetos ou de adjuntos terminativos que permitam colocá-la numa daquelas possíveis distinções específicas ou defini-la para outros fins. 

8.1.1 Determinações do conceito

Com o vocábulo "livro" e um epíteto definem-se, freqüentemente, já o dissemos supra, finalidades: (1) "infantil", para leitura ou uso de crianças; (2) "juvenil", para leitura de adolescentes; (3) "azul", em que o govêrno britânico esclarece sua posição numa, em geral, questão de política internacional, mercê de publicação de documentos, ostensivos, reservados, secretos; (4) "amarelo", em que o govêrno francês faz outro tanto; (5) "branco", em que o govêrno norteamericano faz outro tanto: (6) "escolar", para uso nas escolas, em geral de acôrdo com programas, oficiais, oficiosos ou aprovados pelas autoridades competentes; (7) "único", com que o Estado impõe, em determinada disciplina ou conjunto de disciplinas, um tipo de formulação da matéria que passa a dirigir a formação mental das novas gerações, em geral sob pretexto de eficácia didática e de custos mais baixos; (8) "didático", o mesmo, aproximativamente, que escolar, podendo, entretanto, corresponder a níveis vários e a aspectos particulares de apresentação da relação "matéria : docente : discente"; (9) "elementar", (10) "primário", (11) "secundário", (12) "superior", indicam níveis de desenvolvimento de livros escolares ou didáticos; (13) "anotado", em geral é a publicação de um texto acompanhado de notas esclarecedoras do mesmo, sob quaisquer pontos de vista; (14) "premiado", que obteve láurea, oficial, ou privada, de certa relevância; (15) "laureado", o mesmo que o anterior, aproximativamente; (16) "gastronômico", com receitas e indicações de bem comer; (17) " técnico", com exposição de matéria de natureza técnica, preferentemente tecnológica; (18) "científico", com exposição de matéria de natureza científica, preferentemente nas chamadas ciências exatas; (19) "popular", de aceitação generalizada ou de destinação ao nível médio de compreensão de uma coletividade ampla; (20) "clássico", originalmente o adotado em classe de aula, entre os romanos, coincidindo, no pensamento moderno, com o fato de versarem matéria "clássica", isto é, greco-romana; daí, o que apresenta caracteres tradicionais: daí, ainda, o que se supõe elemento ponderável de formação humanista; daí, mais, o que faz época em determinada disciplina, matéria ou questão, quando, de regra, se faz acompanhar de adjunto terminativo relacionado com a disciplina, matéria ou questão em causa; (21) "litúrgico", isto é, relacionado com a liturgia de determinada religião; (22) "ritual", isto é, relacionado com um rito; (23) "doutrinário", isto é, obediente a uma doutrina: (24) "dogmático", isto é, conforme com um ou os dogmas de uma religião; (25) "ortodoxo", isto é, obediente a um cânon; (26) "heterodoxo") isto é, que infringe um cânon; (27) "canônico", isto é, conforme com um cânon; ficando, porém, claro que a relação pode ser multiplicada e ressalvado o fato de que alguns dêsses epítetos podem ser usados para com "obra", "exemplar" e vários outros substantivos da área semântica de "livro" ou de "bibliologia" (cf. LEMA). 


in Elementos de Bibliologia; Houaiss, Antônio – Editora Hucitec – São Paulo, 1983
Ilustração: Jaroslav VodráŽka (1894-1984), painter, graphic artist and illustrator. Ex Libris for Ing. O. Hradečny, lithography, 14 x 4,5 cm

Whadaya mean



Willies, the = the creeps; the shakes 
Nervosismo, inquietude: 
Cloudy days give me the Willies. 

willy-nilly 
Descuidado, sem método, desordenado: 
He always works in a willy-nilly manner. 

Wimpy; wimpy 
Sanduíche "hambúrguer": 
Give me a wimpy. 

wim-wams 
Sensação de nervosismo: 
I get the wim-wams when I climb a ladder. 

Winchester 
Rifle (de qualquer marca): 
So I ups with my Winchester and knocked down twenty Indians. 

windbag 
Fanfarrão, indivíduo garganta, pessoa tagarela: 
Can't someone shut off that old windbag? 

winder-upper 
Música ou canção que encerra um programa radiofônico: 
The winder-upper began and us kids knew it was time to shut off the radio and go to bed. 

wind-jammer 
Indivíduo tagarela, fanfarrão: 
Don't get him going. He's a real wind-jammer. 

window, out the 
Sem nada, totalmente destituído, perdido, arruinado: 
Everything went out the window for my family in 1929. 

window-shop 
Observar artigos exibidos em vitrinas: 
I like to go window-shopping at Christmas time. 

windup 
Fim, término: 
Well, this is the windup of our money. 

windy 
Tagarela, indivíduo tagarela: 
Here comes old windy Joe. 

Windy City 
Chicago: 
I've never been to the Windy City. 

wing 
1) Atingir, ferir (com bala): 
The bullet winged him but didn't kill him. 
2) Ferir a asa (com bala): 
He winged two ducks. 
3) Braço: 
My left wing is broken. 
4) Ala (posição em equipe de futebol): 
He played right wing. 

wing-ding; whing-ding 
1)Acesso de raiva, ataque de nervos: 
Ma took a wing-ding when I told her that I had lost the money. 
2)Festa, farra, celebração estrondosa: 
Just before my army unit broke up we had one hell of a wing-ding at the expense of UncIe Sam. 

wino 
Alcoólatra cuja bebida favorita é o vinho: 
The Bowery winos have gathered together to petition the mayor for a warm place to sleep. 

win one's spurs 
Fazer sua reputação, tornar-se um profissional, "diplomar-se" em qualquer atividade: 
When you win your spurs come around to me for a job. 

win out 
Vencer pela persistência, obter finalmente o sucesso, a vitória: 
You can win out if you concentrate on your opponent's weaknesses. 


in Dicionário de Gíria Americana Contemporânea; E. Collins, Donald and L. Gomes, Luiz – Pioneira – São Paulo, 1989 

maio 29, 2009

99ROOMS

ROOM 65


ROOM 77


ROOM 80



maio 27, 2009

Jabre


Jabá. "Nádegas femininas, região glútea feminina" (Sul), registra Ariel Tacla (12). 

Jaca. "Nádegas, ânus" (Nordeste, Maranhão), registram Domingos Vieira Filho (14) e Ariel Tacla (12). 

Jacarandá. Órgão sexual masculino (Nordeste, Bahia). Madeira de lei, forte, que o cupim não rói. 

Jacinto. "Evacuação menstrual da mulher" (Portugal), registra Albino Lapa (62). Vocábulo corrente no Sul e propagado pela colônia portuguesa. 

Já deu fogo. Diz-se do velho sexualmente impotente (Sul). Já era. 

Jaguara. a) Cão sem raça, pessoa vil; b) Mulher da vida; homem sem caráter (Sul, Rio Grande do Sul). 

Jamanta. Órgão sexual masculino, quando avantajado (Nordeste, Sul). 

Jamijão. "Pessoa que urina na cama" (Sul), registra Silveira Bueno (3). 

Janeco. "Homem bonito com tendência para pederasta" (Portugal), registra Albino Lapa (62). 

Janeleira. Moça sapeca, namoradeira, que passa o dia todo na janela. Diz uma quadrinha popular: 
Toda moça janeleira 
Tem um vergão na barriga! 

Já nos dias. Diz-se da mulher quando está prestes a parir (Nordeste). 

Japonesa. Posição da cópula em que a mulher, deitada de costas, põe as pernas no ombro do parceiro (Sul, Rio de Janeiro, Centro-Oeste, Goiás). Abon.: "Meter de japonesa é muito mais erótico, comentou Lídia." [FERNANDES SAMPAIO, Adovaldo. "Lídia, Lígia e Lívia" in Antologia do conto erótico. Rio de Janeiro, Eroticon, 1977, p. 116].
 
Jatoba. Nádegas, ânus (Nordeste): "Vá tomar na jatoba!" 

Jeba. Órgão sexual masculino (Sul, Rio de Janeiro). 

Jegue. "Órgão sexual masculino, quando avantajado" (Nordeste), registram Mauro Mata (10) e Edson Carneiro (7). 

Jequitibá. Órgão sexual masculino (Sul). 

Jereba. "Meretriz", registram Aurélio Buarque de Holanda (2), Ariel Tacla (12) e Manuel Viotti (32). 

Jerianta. "Meretriz que sustenta malandro na cadeia" (Sul), registra Ariel Tacla (12). 

Jeroma. "Mulher dos seios grandes" (Sul), registra Ariel Tacla (12). 

Jiló. Pederasta (Sul, Rio de Janeiro). 

Jibóia. Pênis, quando avantajado (Nordeste). 

Jiribaita. Órgão sexual masculino (Nordeste, Rio Grande do Norte). 

João-cotoco. "Gesto desprezível e semi-obsceno" (Nordeste, Ceará), registra Leonardo Mota (45). 

João-mainato. "Prostituta", em Tete, Moçambique, registra Antônio Cabral, ob. cit., p. 57. 

Joaquim-madrugada. Órgão sexual masculino (Nordeste, Bahia). Abon.: "Mas Filó, não se satisfazendo com o efeito da pilhéria, recorreu a uma expressão da gíria: "Lá vocês pegam é em joaquim-madrugada" (SALES, Herberto. Cascalho (3ª ed.). Rio de Janeiro, Tecnoprint, 1967, p. 94]. 

Jogar água fora da bacia. "Ser homossexual ou tomar atitudes de homossexual" (Sul, Rio de Janeiro), registra Euclides Carneiro da Silva (4). 

Jogar com duas bolas. Copular (Nordeste, Sul). As duas bolas são os testículos. 

Jogar merda no ventilador. Diz-se de quem, vendo-se em apuros, denuncia os demais culpados (Sul, São Paulo). 

Jogar pra cima. "Copular, deflorar" (Nordeste, Bahia), registra Edson Carneiro (7). 

Judas. Órgão sexual masculino (Nordeste) (v. Afogar o judas.) 

Judiadeira. "Dor ovariana", dor de mulher (Nordeste) registra Edilberto Trigueiros (73). 

Juntar os trapos. Amigar-se (Nordeste, Sul). 

Juntar-se. "Amigar-se" (Nordeste, Sul), registram Antenor Nascentes (11) e Tomé Cabral (6). 

Juntar terra ao pé da bananeira. "Copular" (Nordeste), registra Hugo Moura (51). 

Jurema. "Mundana, amásia de ladrão" (Sul), registra Ariel Tacla (12). 

Jurumba. Órgão sexual masculino (Nordeste). 

Juruveva. "Égua. Mulher da vida", registra Valdomiro Silveira (63). 


2 BUARQUE DE HOLANDA, Aurélio. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1975. 
3 BUENO, Silveira. Grande dicionário etimológico-prosódico da língua portuguesa. São Paulo, Saraiva, 1963. 
4 CARNEIRO DA SILVA, Euclides. Dicionário da gíria brasileira. Rio de Janeiro, Edições Bloch. 1973. 
6 CABRAL, Tomé. Dicionário de termos e expressões populares. Fortaleza, 1972. 
7 CARNEIRO, Edson. A linguagem popular da Bahia. Rio de Janeiro, 1951. 
11 NASCENTES, Antenor. O linguajar carioca. Rio de Janeiro, Organização Simões Editora, 1953. 
12 TACLA, Ariel. Dicionário dos marginais. Rio de Janeiro, Record, 1968. 
32 VIOTTI, Manuel. Novo dicionário da gíria brasileira (3ª ed.). Rio de Janeiro, Livraria Tupã Editora, 1957.
45 MOTA, Leonardo. Cantadores (3ª ed.). Fortaleza, Imprensa Universitária do Ceará, 1961. 
51 MOURA, Hugo. "Contribuição ao estudo do linguajar paraibano", in Revista da Faculdade de Filosofia da Paraíba, João Pessoa, 2 (4): 117-140, 1959-1964.
62 LAPA, Albino. Dicionário de calão (2ª ed.). Lisboa, Editorial Presença, 1974. 
63 SILVEIRA, Valdomiro. O mundo caboclo. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1974.
73 TRIGUEIROS, Edilberto. A língua e o folclore da bacia do São Francisco. Rio de Janeiro, Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, 1977. 



in Dicionário do palavrão e termos afins; Souto Maior, Mário – Record – Rio de Janeiro, 1990