maio 20, 2019

O último laço


Boas práticas

Por boas práticas, entende-se um conjunto de arranjos de processo de trabalho e de gestão, técnicas e instrumentos que colaboram no aumento da adesão do usuário orientados pelo referencial da Clínica Ampliada e Compartilhada.
As práticas apresentadas a seguir surgiram da reflexão sobre a realidade do atendimento no ambulatório do CRT-DST/AIDS - SP. Sabe-se que a realidade dos serviços são muito distintas e nem sempre é possível "transpor" as recomendações para um novo contexto. Ainda assim, a aposta é que as ideias contidas aqui poderão te inspirar para que você possa adaptar algumas das práticas em seu local de trabalho.
.
MONITORAR SISTEMATICAMENTE AS AUSÊNCIAS DOS USUÁRIOS

Como um serviço pode cuidar dos casos de abandono e de faltosos se não sabe quantos são e quem eles são?
Muitas equipes, ao se depararem com esse questionamento, concordam que se trata de uma ação valiosa, mas, ao mesmo tempo, poucas sabem dizer com precisão quais são estes casos e proporcionalmente, quanto representam no serviço. Também há quem pense que levantar esses dados e produzir esse tipo de informação é papel apenas da gestão ou de algum setor de informática. Isso não é verdade. Todos têm alguma participação e podem ajudar.
Quer saber como?


• Elaborando, com a ajuda de toda a equipe, um formulário com dados pessoais e informações-chave dos usuários. Esse instrumento deverá ser preenchido na entrevista inicial do paciente, logo que ele for inscrito. Vale a pena pensar junto com os colegas de equipe o que precisa ser perguntado para que se obtenha dados que sirvam de indicadores para prever quais usuários são mais vulneráveis e quais apresentam major predisposição de problemas para adesão. E, em contrapartida, quais são os traços que ajudam a identificar maiores chances de se vincular ao tratamento. Em outras palavras, é preciso tragar um perfil.


• Como não se sabe isso de antemão, pode ser que a análise dos históricos dos pacientes já cadastrados, somado aos saberes e as experiências acumuladas pelos profissionais, possam ajudar.


• Criando estratégias para que as faltas sejam rapidamente detectadas e relatadas para o restante da equipe: periodicamente, as equipes de referências deveriam se reunir e fazer um levantamento das faltas, seja pelo sistema eletrônico ou pelo bom e velho prontuário. E colocar tudo isso numa planilha para que aqueles usuários que se encaixem nos critérios de faltoso ou de abandono possam ser identificados e que se inicie uma busca ativa deles. Avisos anexados na capa dos prontuários podem ser úteis também.


• Mesmo aqueles usuários que faltam uma única vez, mas que inspiram preocupação da equipe podem e devem ser contatados para nos dizer o motivo da falta e já remarcar uma nova consulta.


• Para os casos menos graves e/ou complexos, as próprias equipes ou os profissionais que identificaram a falta podem entrar em contato, telefonando ou escrevendo diretamente para o usuário. Já para aqueles que a equipe julgar mais complicados, recomenda-se pedir para que algum profissional com maior vinculo com o usuário ou com maiores habilidades para o acolhimento possa se responsabilizar por essa iniciativa de acessar este usuário.


• Se aí no seu serviço, assim como no CRT-DST/AIDS - SP, você se preocupa em arquivar receitas médicas referentes as consultas perdidas pelos pacientes, seja por falta deles mesmos ou dos médicos, saiba que esses registros também podem ser um bom dispositivo para quantificar consultas e receitas perdidas, assim como o tempo de afastamento do serviço/tratamento, bem como o profissional que apresenta maior número de receitas não aproveitadas. Além disso, também pode ser bastante estratégico utilizar esses dados como uma das formas de avaliação dos profissionais envolvidos.
.
.
"Mas eu acho que uma maneira interessante de pensar nisso, é pegar quem realmente não é aderente e traçar o perfil também desse usuário, porque. com certeza, eles devem ter problemas em comum, né? Daí dá pra pensar em estratégias para eles, como grupo… acho fundamental poder estudar o perfil dos pacientes, colocando todas essas pessoas que vem no acolhimento em uma planilha e estudar, sistematizar e fazer o acompanhamento dessas pessoas que estão sendo convidadas a retomar [falando da busca ativa de pacientes faltosos ou em abandono]" [Trabalhadores CRT-DST/AIDS - SP].

"...tem pacientes que marcam consulta 15 vezes seguidas e não comparecem, mas vêm em outras consultas... vêm na consulta do infecto[logista], mas não vai na consulta do gineco[logista], você vê a pessoa aqui no prédio e ela não vai... tem que entender isso aí. Também acho que tinha que ter um controle sobre isso" 
[Trabalhadores CRT-DST/AIDS - SP].


in Manual de boas práticas em adesão e retenção de usuários em serviço ambulatorial para PVHA. Mônica Martins de Oliveira Viana... [et all] ; organização de Mônica Martins de Oliveira Viana. – São Paulo, 2018.

Nenhum comentário: