outubro 01, 2008

A Mensagem dos Místicos



Na manhã seguinte, acordei assim que ouvi Wil se mexendo. Tínhamos passado a noite numa casa de um de seus amigos, e ele se sentava numa tarimba do outro lado do quarto, vestindo-se apressado. Ainda estava escuro fora da casa.

— Vamos arrumar a trouxa — ele sussurrou.

Pegamos nossas roupas e fizemos várias viagens até o jipe, com alguns suprimentos extras que Wil comprara. O centro da aldeia ficava apenas a algumas centenas de metros, mas poucas luzes varavam a escuridão. O amanhecer era só uma faixa de céu mais claro para os lados do leste. Além de alguns pássaros anunciando a manhã iminente, não se ouviam outros sons.

Quando terminamos, fiquei no jipe, enquanto Wil falava brevemente com seu amigo, que permanecera sonolento na varanda durante nossas idas e vindas. De repente, ouvimos barulho no entroncamento. Vimos os faróis de três caminhões, que entraram no centro da cidade e pararam.

— Talvez seja Jensen — disse Wil. — Vamos até lá ver o que estão fazendo, mas com cuidado.

Atravessamos várias ruas e entramos num beco que dava na rua principal, a uns trinta metros dos caminhões. Dois dos veículos estavam sendo abastecidos com combustível e o terceiro parado à frente da loja. Havia quatro ou cinco pessoas por perto. Vi Marjorie sair da loja e colocar alguma coisa no caminhão, depois andar distraída para nosso lado, dando uma olhada nas lojas vizinhas.

— Vá lá e veja se consegue fazer com que ela venha conosco — sussurrou Wil. — Espero você aqui.

Eu dobrei a esquina, e quando me aproximava dela me senti horrorizado. Atrás de Marjorie, na frente da loja, vi pela primeira vez que vários dos homens de Jensen tinham metralhadoras automáticas. Alguns instantes depois, meu pavor intensificou-se. Na rua em frente a mim, soldados agachavam-se e aproximavam-se lentamente do grupo de Jensen.

No mesmo momento em que Marjorie me viu, os homens de Jensen viram os outros e dispersaram. Uma rajada de metralhadora encheu o ar. Marjorie me olhava com terror nos olhos. Corri e agarrei-a. Enfiamo-nos correndo no beco seguinte. Mais tiros eram disparados em meio a furiosos gritos em espanhol. Tropeçamos numa pilha de caixas de papelão vazias e caímos, nossos rostos quase tocando-se.

— Vamos! — gritei, saltando de pé.

Ela se levantou com esforço, me puxou para baixo de novo, apontando com a cabeça o fim do beco. Dois homens armados escondiam-se de costas para nós, olhando a rua seguinte. Ficamos imóveis. Finalmente, eles atravessaram a rua correndo para a área de floresta adiante.

Eu sabia que tínhamos de ir até o jipe e voltar para a casa do amigo de Wil. Tinha certeza de que ele estaria lá. Rastejamos com cuidado até a rua seguinte. Ouviam-se gritos furiosos e disparos à direita, mas não víamos ninguém. Olhei à esquerda; nada ali também — nenhum sinal de Wil. Imaginei que ele tivesse corrido à nossa frente.

— Vamos cortar pelo mato — eu disse a Marjorie, que agora estava alerta e parecendo decidida. — Depois — continuei —ficamos na beira da mata e seguimos para a esquerda. O jipe está parado daquele lado.

— Tudo bem — ela disse.

Atravessamos rápido a rua e chegamos a mais ou menos uns trinta metros da casa. O jipe continuava lá, mas não vimos qualquer movimento em parte alguma. Ao nos prepararmos para atravessar correndo a última rua antes da casa, um veículo militar dobrou uma esquina à nossa esquerda e avançou devagar para a moradia. Ao mesmo tempo, Wil atravessou o terreiro correndo, deu partida no jipe e saiu disparado na direção oposta. Os veículos o
perseguiram.

— Porra! — eu disse.

— Que vamos fazer agora? — perguntou Marjorie, o pânico voltando ao rosto.

Mais tiros eram disparados na rua atrás de nós, desta vez mais perto. À frente, a floresta engrossava e tendia para a crista que dominava a aldeia e corria para o norte e para o sul. Era a mesma crista que eu vira do mirante antes.

— Vamos lá para o topo — eu disse. — Depressa!

Subimos várias centenas de metros pela montanha. Num mirante, paramos e olhamos a aldeia lá atrás. Veículos militares como que jorravam nas ruas transversais, e inúmeros soldados faziam o que parecia ser uma busca de casa em casa. Abaixo de nós, na base da montanha, ouvi vozes abafadas.

Corremos mais montanha acima. Tudo que podíamos fazer agora era correr.


in A Profecia Celestina; Redfield, James – Objetiva – Rio de Janeiro, 1994

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