maio 04, 2009

1930



Dia 5 de outubro

Um contratempo: Minas luta com escassez de munição e pede nosso auxílio. Não contava com a resistência do 12º Regimento de Belo Horizonte. Prometemos providenciar, mas, por onde? Examina-se o problema grave. 

Uma boa notícia: a adesão das forças da 5ª Região Militar, Curitiba. Recebo telegrama do major Plínio Tourinho, meu antigo condiscípulo da Escola Militar* e oficial do estado-maior da Região. 

Os oficiais do 8º Regimento, que aderiu à revolução, declaram que não são partidários desta e apenas obedeceram a seu comandante, tenente-coronel Galdino Esteves. Esses oficiais são recolhidos a bordo do vapor [...],¹ onde se acham os outros oficiais contrários ao movimento. As guarnições federais do estado foram aderindo; faltavam apenas Santo Ângelo e São Borja, que parlamentavam. 

Reintegrei nas funções de secretário do Interior Osvaldo Aranha, o chefe revolucionário que preparou e executou o plano revolucionário no estado, articulando-o com os elementos do exterior. 

As notícias do Paraná determinaram-nos a acelerar a remessa de tropas selecionadas para aquela zona, a fim não só de amparar os companheiros, como de apressar o desfecho da ação que se desenhava evidente, pelo choque com as tropas do governo, nesse estado ou em São Paulo. João Alberto seguiu, levando pequena força da capital e recebendo vários contingentes em sua passagem ao longo da via férrea. Houve grande entusiasmo no embarque. Seguiram daqui cerca de quinhentos homens. Noticia-se que os comunistas tentaram um golpe de força em Itaqui, prendendo o intendente e o comandante do Grupo de Artilharia. Soube-se depois que não eram comunistas, e sim oficiais do próprio grupo que tentaram uma reação. Foram, porém, repelidos e emigraram para a Argentina. 

Todas as guarnições militares já aderiram ao movimento, faltando apenas a de São Borja. Correm versões sobre a sublevação de parte da polícia de São Paulo e do Forte de Copacabana. Já de muito prevenido pelos boatos tão comuns nestas épocas de exaltação, não lhes dou maior crédito. 

Soube-se que os senadores Paim, Vespúcio, e os deputados Penafiel, Barbosa Gonçalves e Mascarenhas votaram a favor do estado de sítio no Rio Grande! Por enquanto não há quem possa executá-la. Foram apreendidos alguns informes telegráficos transmitidos via Western. Deles se verifica que o senador Paim, em combinação com o ministro da Guerra,² está mandando fazer espionagem no seu estado, por intermédio de Santa Catarina, bem como aliciar antigos políticos que com ele serviram em lutas anteriores, a fim de organizar um movimento de reação em favor do Catete. Foram tomadas medidas policiais e incumbido o general Valdomiro Lima de organizar as forças dos municípios de Lagoa Vermelha, Vacaria e Bom Jesus para uma forte coluna de invasão a Santa Catarina. 

Nas forças federais do interior, geralmente os oficiais superiores não aderiram ao movimento. Acharam mais conveniente entregar-se à prisão. Houve ordem do chefe do estado-maior para que fossem trazidos a esta capital, para serem recolhidos aos navios onde estavam seus outros colegas. 

À tarde, chegam notícias de que o Regimento de São Borja se retirava pelo rio Uruguai, que transpôs, indo entregar-se, e às armas de que dispunha, em país estrangeiro. Triste conduta. 

À noite, chegam excelentes notícias da Paraíba: Juarez Távora à frente de 8 mil homens, queda de Recife, Natal, marcha sobre Alagoas e Ceará, tropas paraíbas de um moral magnífico. Minas aperta o cerco ao 12º Regimento em Belo Horizonte: dos dois aviões mandados para bombardear a capital mineira, um é abatido e o outro adere ao movimento. Perturbações em Goiás, Mato Grosso, São Paulo e Rio. Sente-se que a Revolução está triunfante. Nada poderá detê-la. 

Recebo carta do dr. Borges de Medeiros, com algumas recomendações partidárias para que o Partido Republicano tenha função preponderante na luta. Recebo comissões de solidariedade das sociedades de engenharia e dos advogados, além de contínuas demonstrações particulares. O entusiasmo, o espírito de decisão continuam admiráveis no povo rio-grandense. 

* Escola Tática e de Tiro de Rio Pardo. 
¹ Comandante Ripper 
² Nestor Sezefredo dos Passos, ministro da guerra do governo Washington Luís


in Getúlio Vargas: Diário – apresentação de Celina Vargas do Amaral Peixoto; Edição de Leda Soares – Siciliano – São Paulo, 1995

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