fevereiro 11, 2007

Antero


A PEQUENINA

Eu bem sei que te chamam pequenina
E tenue como o véu solto na dança,
Que és no juizo apenas a criança,
Pouco mais, nos vestidos, que a menina...

Que és o regato de agua mansa e fina
A folhinha do til que se balança,
O peito que em correndo logo cansa,
A fronte que ao sofrer logo se inclina...

Mas, filha, lá nos montes onde andei,
Tanto me enchi de angustia e de receio
Ouvindo do infinito os fundos ecos,

Que não quero imperar nem já ser rei
Senão tendo meus reinos em teu seio
E suditos, criança, em teus bonecos!

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O QUE DIZ A MORTE
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"Deixai-os vir a mim, os que lidaram;
Deixai-os vir a mim os que padecem;
E os que cheios de magoa e tedio encarnam
As proprias obras vãs de que encarnecem...

Em mim, os Sofrimentos que não saram,
Paixão, Duvida e Mal, se desvanecem.
As torrentes da Dor, que nunca param,
Como num mar, em mim desaparecem." –

Assim a morte diz. Verbo velado,
Silencioso interprete sagrado
Das cousas invisiveis, muda e fria,

É, na sua mudez, mais retumbante
Que o clamoroso mar; mais rutilante
Na sua noite, do que a luz do dia.
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in Sonetos Completos; Quental, Antero de – Edições Cultura – São Paulo, sd

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