março 10, 2007

Merlim


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...Na hora determinada, a rainha deu à luz, e ficou muito admirada pelo rei ter previsto a hora em que isso aconteceria. E tudo o mais aconteceu conforme o rei lhe tinha ordenado. "Fiel amiga", disse a rainha a sua camareira, "tome a criança e entregue-a ao homem que a reclamar de você diante da porta do quarto. Contudo, preste bastante atenção para ver quem é esse homem."
...A camareira envolveu a criança em ricos tecidos e levou-a para fora do quarto. Quando abriu a porta, um homem muito velho e fraco veio em sua direção. "O senhor está esperando por alguém?", perguntou. "Espero por aquilo que a senhora traz nas mãos", respondeu o velho. – "Quem é o senhor? O que devo dizer a minha senhora sobre a pessoa para quem entreguei a criança?" – "Não se preocupe com isso. Faça o que lhe foi ordenado, pois é o que você deve fazer." A mulher entregou-lhe a criança e, na mesma hora, o velho desapareceu com ela, de modo que a mulher não ficou sabendo para onde ele tinha ido. Quando retomou ao quarto e contou à rainha que fora obrigada a entregar a criança a um homem idoso e estranho, que no instante em que recebera a criança desaparecera com ela, a rainha começou a chorar amargamente.
...O velho saiu com a criança para levá-Ia ao bondoso Anthor, e encontrou-o na rua no momento em que ele ia à missa. "Anthor", disse o velho dirigindo-se a ele, "trago-lhe a criança que você deverá criar e alimentar como se fosse sua. Se você o fizer fielmente, será tão grande o bem que você e os teus receberão, que lhe será difícil acreditar nele. O rei, bem como os homens e as mulheres nobres, pedem que você cuide muito bem dela. Também eu lhe peço o mesmo, e meu pedido deve ter para você o mesmo valor do pedido do mais rico dos homens." Anthor tomou a criança, olhou-a, achou-a bem desenvolvida e muito bonita. "Ele já foi batizado?", perguntou ao velho. "Não", respondeu este, "você pode mandar batizá-lo imediatamente na igreja em que você pretendia ir assistir à missa." – "E que nome devo dar-lhe?" – "Chame-o de Artur. Você logo vai saber do enorme bem que essa criança fará a você, pois tanto você como sua mulher vão amar muito esse menino, e não saberão diferenciá-la de seus próprios filhos. E que Deus seja louvado." Separaram-se. Anthor mandou batizar o menino com o nome de Artur, e depois levou-o até sua esposa, que o recebeu de braços abertos, beijou-o, colocou-o em seu peito, amamentou-o ao mesmo tempo em que entregava seu próprio filho aos cuidados de uma mulher estranha, a quem recebera previamente.

in A História do Mago Merlim; Schlegel, Dorothea e Friedrich – Martins Fontes – São Paulo, 1989

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